Uma dor súbita rasgou meu peito.
O vínculo de companheiros gritava, se contorcia, me acusava.
Meu rosto perdeu toda a cor. O corpo cambaleou, fora de controle.
— Kath! — Derek me segurou na hora, o rosto tomado pelo pânico. — O que está acontecendo com você?
Olhares preocupados se voltaram em nossa direção.
— Eu... — Levei a mão ao peito, tentando puxar o ar. — Não é nada.
— Vou te levar ao hospital! — A voz dele tremia.
— Não precisa. — Me esforcei para ficar de pé. — Talvez tenha... sido o impacto da Pedra Lunar Abissal.
— Pedra Lunar Abissal?
— Sim. — Respirei fundo. — O poder dela é muito intenso. Meu corpo ainda está tentando se adaptar.
Derek hesitou, desconfiado, mas me envolveu com mais força:
— Vamos para casa. Se continuar se sentindo mal, te levo ao hospital.
Olhei para aquele rosto cheio de preocupação. De repente, tudo pareceu ridículo. A atuação dele era perfeita.
No fim, apenas assenti com um leve movimento.
No carro, me recostei no banco de olhos fechados.
Sob a roupa, o pingente esquentava, lutando para conter a fúria do vínculo rompido.
— Derek — Falei de repente.
— Hum?
— Ouvi certa vez um antigo conto...
— Que conto? — Ele segurava minha mão.
— Um Alfa que trai sua companheira… tem seus poderes tomados pela Deusa.
Os dedos de Derek ficaram tensos de uma hora para outra.
O ar dentro do carro pareceu congelar.
Segundos depois, ele soltou uma risada:
— Então estou seguro.
Se inclinou até mim, os olhos fixos nos meus:
— Katherine, eu juro: nunca vou trair você.
Beijou minha testa.
— Você é o bem mais precioso da minha vida. Como eu poderia te trair?
Fechei os olhos, deixando a mentira ecoar nos meus ouvidos.
Se eu não soubesse da verdade, talvez aquela frase me fizesse chorar de emoção.
Na metade do caminho, o telefone privado de Derek tocou.
Aquele número só era conhecido pelos altos escalões da alcateia e pelas pessoas mais íntimas da vida dele.
Derek olhou o identificador da chamada e sua expressão mudou na hora.
— Pare o carro — Disse ao motorista.
O veículo encostou no acostamento.
Derek se virou para mim, com o rosto cheio de culpa:
— Kath, surgiu uma emergência na fronteira.
— Que tipo de emergência?
— Uma alcateia inimiga tentou invadir. Preciso ir agora resolver. — A voz dele carregava pressa. — Vá para casa descansar. Assim que resolver, eu volto.
— Quer que eu vá com você?
— Não precisa. A fronteira está perigosa. — Derek abriu a porta. — Fique tranquila. Me espere.
Desci do carro.
Ele rapidamente acenou para um táxi e abriu a porta para mim.
Fiquei olhando o carro dele desaparecer na escuridão.
— Senhora, para onde vamos? — O taxista começou a perguntar.
— Siga aquele carro — Interrompi.
— Mas o cavalheiro disse que...
— Apenas siga.
O motorista hesitou por um segundo e pisou no acelerador.
Seguimos de longe o carro de Derek.
Ele não estava indo para a fronteira. O veículo tomou o caminho oposto, em direção à outra extremidade da cidade.
Por fim, entrou num aeroporto particular.
— Senhora... aqui é... — O motorista parecia surpreso.
— Pare aqui.
Desci do carro e me escondi na sombra do estacionamento.
Vi Derek no hangar.
E então, vi ela.
Os cabelos loiros esvoaçavam ao vento. O corpo era provocante até o exagero. Ela usava um uniforme de piloto justo, com uma saia tão curta que deixava as pernas longas totalmente expostas. Os saltos altos batiam no chão com um som agudo e firme.
Era a mulher da transmissão ao vivo.
Sheila.
Ela correu sorrindo na direção de Derek e caiu nos braços dele.
Derek não a afastou.
Envolveu a cintura dela e se inclinou para beijar ela.
Sob a luz da lua, os dois se abraçaram com força, como se nada mais existisse.
Depois, seguiram juntos para o jatinho particular, subiram a escada e entraram na cabine de comando.
A luz dentro da aeronave acendeu.
Pelo vidro, vi as silhuetas se entrelaçarem. Os corpos colados, a mão dela subindo pelo pescoço dele, ele a pressionando contra o painel de controle...
Virei o rosto. Caminhei de volta até o carro, tropeçando nos próprios passos.
— Senhora, está tudo bem? — O motorista perguntou pelo retrovisor.
Não respondi.
— Ai... — Ele soltou um suspiro pesado. — Senhora, homens ricos são assim mesmo. Querem uma em casa e outra na rua. A gente... precisa aguentar. Não vale a pena brigar por isso.
Apertei o pingente gelado que escondia meu cheiro de companheira.
Era frio como gelo. Frio como meu coração naquele instante.
— Não.
Minha voz saiu rouca, mas firme como nunca.
— Eu não vou perdoar.