235. E o passarinho descobriu que tem asas
Gabrielle
Por mais que minha mente fosse um reduto de devaneios insanos, teorias absurdas e suposições inatingíveis, nada—absolutamente nada—se comparava ao que eu estava fazendo naquele momento.
Já me peguei sonhando inúmeras vezes com as sensações de viajar pelo mundo, cortando os céus a bordo do jato particular da minha família, sem a necessidade de enfrentar filas, despachar bagagens ou me apertar em assentos desconfortáveis. Mas a verdade era que eu nunca sequer havia cruzado os limites dessa cidade sufocante. Nunca me permitiram ir longe demais. Nunca me concederam a chance de descobrir o que existia além das fronteiras daquela prisão dourada que chamavam de lar.
E, agora, eu estava aqui. Partindo. Finalmente.
Do alto, a cidade se desdobrava diante de mim como uma pintura meticulosamente planejada, suas ruas e avenidas se entrelaçavam em um padrão geométrico perfeito, como se alguém tivesse redesenhado o mundo com régua e compasso. De onde eu estava, podia d