Gabrielle
E agora, aqui estava eu, segurando esse legado com as mãos trêmulas, enquanto Lucas usava cada parte da minha história, do meu amor, e da memória do meu pai, como peças em um jogo cruel.
Não que eu precisasse dele para continuar o que meu pai começou, pelo contrário. Dave e eu já havíamos tomado as contingencias necessárias. Nada do que ele pudesse fazer iria me afetar, de qualquer forma, mesmo se ele retirasse seu maldito investimento. Nem precisávamos dele. Na verdade, era sua empresa que precisava da minha.
Como ele teve a audácia de tentar me ameaçar com alto tão pequeno? E eu sabia que seu ultimato se apegava ao emocional, pois para nossos pais, era a realização de um sonho. Como ele pode jogar com os sonhos de outras pessoas, para conseguir benefício pesso
Lucas Park Nunca, em toda a minha vida, soube o que era odiar alguém verdadeiramente. Até aquele momento. Eu me odiava com a mesma intensidade com que a amava. Era um ódio corrosivo, tão visceral que mal conseguia respirar sob o peso dele. Eu havia chegado ao fundo do poço e cavado um pouco além. Nem mesmo Gadreel ou Castillo se comparavam a mim, não depois de ter dito aquelas palavras a ela. Não depois de ter cruzado uma linha que, no fundo, eu sabia que seria fatal. Quando olhei em seus olhos, vi claramente o momento em que tudo o que construímos se rompeu dentro dela. Não houve hesitação, não houve espaço para dúvida. Todo o amor que ela havia cultivado por mim, todo o perdão que talvez ainda existisse, simplesmente... morreu. E eu fui o responsável. Eu o matei. Mesmo depois de tê-la tratado daquela forma na manhã de hoje, no instante em que ela entrou na sala e nossos olhares se cruzaram, pude ver que ela ainda me amava. Era um amor relutante, resistente, mas i
Lucas Park Eu precisava tocá-la. Precisava sentir que ainda havia algo de real entre nós, que nem tudo estava perdido. Sob a mesa, estendi minha mão na direção da dela. Mas antes que meus dedos alcançassem os seus, ela recuou. O movimento foi tão casual que, por um segundo, quase acreditei que era acidental. Mas eu sabia que não era. Era um recuo sutil, o suficiente para me repelir sem chamar a atenção de ninguém. Exceto de Gadreel. Ele viu. Seu olhar encontrou o meu, e a diversão brilhava em seus olhos como uma lâmina. Aquele sorriso... maldito sorriso, ameaçando surgir em seus lábios. Ele sabia exatamente o que estava acontecendo. Minha garganta secou. O gosto amargo da derrota já estava em minha boca, e
Lucas ParkGabrielle, como se fosse a coreógrafa de toda aquela tensão, dirigiu seu olhar para Castillo. Ele estava em silêncio, mas sua expressão dizia tudo: não queria estar ali, mas estava disposto a entrar na briga.E então, em meio ao caos invisível que se desenrolava ao redor da mesa, ela sorriu novamente. Dessa vez, voltando seu olhar para mim.Eu sabia o que aquilo significava. Aquele sorriso era um aviso. Uma advertência silenciosa de que, quando sua fúria finalmente explodisse, não restaria nenhum de nós para contar a sua própria versão da história.E enquanto todos tentavam processar o que acabava de acontecer, tudo o que eu conseguia pensar era em como aquilo estava à beira de desmoronar.
Art. Único: A herdeira terá posse absoluta, irrefutável e intransferível, após a maioridade de 21 (vinte e um) anos, sob o cumprimento das seguintes exigências: 1. A herdeira deverá ser apta ao cargo de CEO, tendo pleno conhecimento certificado das seguintes áreas: a. Administração de empresas e finanças corporativas b. Economia c. Engenharia d. Arquitetura e. Gestão de pessoas Essa foi a primeira das dez exigências de meu pai, nada fáceis de se cumprir. Ele era a pessoa que mais me conhecia no mundo, talvez soubesse mais de mim do que eu mesma, o que me deixava desconfortável, pois sabia exatamente como lidar com meu narcisismo. Não pude conter o riso quando li pela primeira vez, na verdade, eu ri alto e tão descontroladamente, que senti cada músculo do meu corpo vibrar. Me obrigar a ser social mediante um documento era tão John. Ele sabia que eu não gostava de participar de eventos sociais, sabia que eu não gostava das pessoas da minha idade, assim como sabi
Lucas Park, o típico herdeiro que toda garota sonha em ter como companheiro. Bonito, carismático e com uma conta cheia de dinheiro. Eu não me importava com sua simpatia, tampouco precisava de seu dinheiro, a única razão para eu não raspar sua cara no asfalto quente, é pelo simples fato que seria um desperdício. Sua simetria era assustadora quando observada por algum tempo. Com sua descendência oriental, era quase impossível não olhar em seus olhos escuros e profundos, seu nariz levemente empinado e fino, a boca era grande com lábios volumosos. Era possível ter aqueles traços naturalmente? Se a inocência tivesse um rosto, aos vinte e três anos, com certeza seria aquele. Até mesmo seu sotaque era charmoso, qual me deixou completamente surpresa. Era realmente um contraste agradável quando visto por inteiro. Exceto pelo cabelo, que estava todo brilhante, com um topete estilo John Travolta nos tempos da brilhantina. — Pode parar de me encarar agora — me censurou. Sorri
— Dave me pediu para cuidar de você — confessou Havíamos passado tanto tempo juntos no passado, que algumas perguntas não precisavam serem feitas. Dave era pai de Lucas, também era melhor amigo e sócio de meu pai, por esse motivo, passamos nossa infância inteira juntos. A mãe de Lucas havia morrido ao dar à luz, então eu emprestei a minha, simples assim. Crianças são tão ingênuas. — Como tem passado Gabrielle? — iniciou ele — Você esteve fugindo de mim desde que retornei. — Não sou uma pessoa nostálgica — confessei — Sinto muito se não te ofereci a recepção que gostaria. Ele sorriu. Não um sorriso de deboche. Ele realmente sorriu. Um sorriso envergonhado, quase escondido, que ao que parecia, eu não deveria ter notado. Ainda havia covas em suas bochechas, assim como quando éramos crianças. Olhar para ele sorrindo fez surgir um mix de emoções que eu nem sabia que era possível para alguém como eu. Senti falta daqueles dias em que passamos horas brincando e conversando
Eu não suportava mais tanto barulho. Não suportava mais olhar para aquele desconhecido. Mas o que me deixava mais infeliz, era aquele sentimento de posse que senti brotar em mim, assim como quando éramos crianças. Eu poderia detestar todas as pessoas, implicar com cada uma delas e maltratá-las, mas em nenhum momento em toda minha vida, consegui vê-lo da mesma forma que os demais. Lucas sempre foi importante demais para mim, tão precioso quanto meu pai. O destino me tirou os dois, um após o outro, e mesmo que tivesse me devolvido um, ele já não carregava toda a importância e carga emocional de antigamente, e mesmo se o fizesse, eu não era mais capaz de suportar nenhum volume de sentimentos. Me tornei um invólucro raso, incapaz de conter qualquer sentimento por muito tempo, sem deixá-lo escapar pelas paredes rachadas. Fiz o que deveria ter feito desde o momento em que cheguei. Me levantei e caminhei pelo gramado, ignorando o chamado de Lucas, que deixei me observando partir. C
Lucas Park Finalmente, havia chegado o dia. Eu a veria, estaria ao lado dela, e, ao contrário daquela manhã decepcionante, Gabrielle não poderia fugir. Passei horas acordado durante o voo, me preparando, repassando mentalmente tudo o que eu diria a ela quando nos encontrássemos. Ensaiei dezenas de vezes como deveria me apresentar, escolhi cuidadosamente a roupa que iria vestir e calculei o tom exato que deveria usar para não a assustar. E apesar de ter minhas mãos suando e minhas pernas tremulas, eu não poderia permitir que ela percebesse meu nervosismo, pois poderia interpretar de forma errada. De nenhuma forma ela poderia ter a impressão de que eu não queria estar ali, com ela. A verdade é que eu sabia que não nos víamos havia cerca de 10 anos, e que não sabia absolutamente nada sobre quem ela havia se tornado. Talvez ela fosse parecida com as outras garotas da sua idade e status, o que me deixaria um pouco decepcionado. As garotas com quem tive contato, daquelas que tinha