— Andrew? — Os olhos de Harry Zhao se arregalaram e o norueguês sentiu que a morte era a única forma de a humilhação que sentia diminuir. — Harry?O norueguês tinha acabado de traçar uma série de planos em sua mente, apesar de nenhum deles ser completamente executável. Poderia pedir demissão do KRS e tentar a sorte em alguma liga árabe, mas sua rescisão contratual era cara demais para isso. Poderia mudar de nome, país e profissão, mas tinha certeza de que algum fanático por futebol o reconheceria mesmo que estivesse em Madagascar. Poderia, ainda, se jogar da Tower Bridge, que não estava muito distante, e acabar, de uma só vez, com aquele vexame, apesar de ter certeza de que se fizesse isso, suas conversas com Harry vazariam e seriam o escândalo midiático do semestre, com direito a frases distorcidas e uma manchete tendenciosa. Já imaginava as manchetes:“Zagueiro de time da Premier League comete suicídio depois de ter sua homossexualidade vazada na internet” E ainda tinha Alexandr
(07.01.2023)Sadie Hummels era o ser humano mais arrogante que Christian já vira na vida. Tudo naquela mulher exalava prepotência e ele torceu, mesmo se sentindo mal por isso, para que ela caísse de uma vez na piscina, borrasse toda maquiagem e desfizesse o coque ridículo que usava, que para ele, mais parecia um ninho de pássaros do que um penteado.Ralph, seu noivo, em contrapartida, era agradável, tinha um sorriso cordial nos lábios e admitira para o jogador, momentos antes, que o achava mais habilidoso do que Lukas Haus, o que no momento o tornava um dos seres humanos que Christian mais gostava no mundo.Agora, segurando um rebatedor para Alexandria, que, para ele, ficava extremamente sexy trabalhando, estava fazendo algumas fotos do casal com os pés dentro da água da piscina dos Tapper. Eles já tinham passado pela London Eye, que, para variar, estava absurdamente lotada e conseguiram apenas fotos panorâmicas e com a Roda Gigante ao fundo. Tinham demorado mais de trinta minutos di
— É uma pena — ela deu ombros, um sorrisinho maldoso nos lábios avermelhados que retinham o olhar fixo do equatoriano. — Eu sempre acreditei na premissa de que “os opostos se atraem”. Alexandria abriu aspas no ar ao citar a frase, mas, ao invés de retornar os braços para debaixo d’água, onde estavam antes, ela envolveu o pescoço dele, quebrando mais a distância entre eles. Sob a superfície, os dedos do equatoriano tatearam o couro da calça da fotógrafa até alcançar os botões e manter uma das mãos paradas ali, enquanto subia a outra por debaixo da blusa azul até alcançar o sutiã que ela usava. Conseguia ver o desenho da própria mão pelo tecido fino da blusa molhada. Contornou a peça com uma sutileza que não costumava fazer, mas gostava do olhar significativamente excitado que Alex tinha agora. — Já transou em uma piscina, cariño? — Ele encostou os lábios na orelha dela, sentindo o corpo da fotógrafa estremecer quando ele mordeu seu lóbulo, milímetros atrás do brinco que ela usava.
Alexandria encarou a televisão à sua frente. Dementadores haviam acabado de atacar Harry durante a partida de quadribol e o garoto despencou a toda velocidade, até Dumbledore se levantar, erguendo o dedo para ele e a tela escurecer por um mero segundo. — Alex? — O pai chamou sua atenção. — Pense neles, naqueles que nos magoaram e que nos marcaram como dementadores — e ao perceber que ele não tinha entendido a referência clara que fez, recapitulou a frase. — Pense nas pessoas que nos marcaram como fantasmas, não importa o quanto a gente tente tirar elas do nosso coração ou cérebro, sempre vai haver um espectro para nos assombrar. Teddy Tapper era quem tinha um olhar etéreo agora, como se Alex o tivesse deixado muito confuso, ou como se ele soubesse exatamente sobre o que ela estava falando. Eles ficaram em silêncio por um momento, apenas encarando a cena da enfermaria e a caminhada do protagonista com o Remo Lupin em seguida.— Sua mãe é o meu — Teddy Tapper rompeu o silêncio entre
(09.01.2023)A cabeça de Alexandria Tapper estava explodindo naquela manhã. Tinha passado o domingo inteiro enfurnada no quarto com a justificativa de que tinha muitas fotos para editar, e de fato, tinha edições o suficiente para ocupar boa parte do seu dia. A outra parte, foi preenchida pela versão em português de The Stand do Stephen King, intitulada de “A Dança da Morte” e suas 1248 páginas.Ela não tinha tido tempo para pensar na declaração, implícita, de Teddy Tapper que, se pudesse voltar atrás, não conheceria Amanda, logo, ela não teria nascido. Também não tinha pensado direito no porquê de Christian ter ido embora tão repentinamente no sábado e muito menos tinha respondido às mensagens de Lukas, mas isso não tinha sido por falta de tempo. Alex se sentia confusa em relação ao belga e tinha decidido que conversaria com ele pessoalmente. O maior copo de café que a Black Coffee poderia produzir agora estava nas mãos de Alexandria, que andava com o salto produzindo sons rítmico
Alex sentiu cada parte do seu corpo gelar. Uma expectativa que parecia pertencer a outra pessoa tomou conta de si e a sensação estranha de borboletas batendo asas fortemente no seu estômago a fez soltar um suspiro longo e pesado.— E o que você sente por mim, Chris?Pelos segundos que se seguiram, os dois eram capazes de ouvir Teddy Tapper soprando o apito do lado de fora da porta fumê, os passos vindos do andar superior, gritos dos jogadores que ainda treinavam e, cada um, o próprio coração disparado contra a caixa torácica. A brasileira tinha certeza de que se uma abelha caísse no chão, ela seria capaz de ouvir de tão ensurdecedor que a quietude entre eles era.— Cariño, você é incrível e linda — ele deixou as palavras morrerem na garganta.— É isso? Você me acha bonita? — tinha uma revolta crescente na maneira com que Alexandria apertava o copo de café e ajustava a postura. — Esse último ano inteiro o que tava rolando entre a gente era sexo casual porque você me acha bonita? E, por
O almoço correu bem, sem mais menções a Lukas e sem toques ocasionais de Harry. Teddy Tapper pegou mais leve pela tarde, apenas treinos de pênaltis e alguns minutos de musculação, que Andrew praticamente não teve proveito, afinal, estava mais ocupado em ouvir resmungos enraivecidos de Christian, que largava as barras de ferro no chão como se elas tivessem ofendido a família dele, e em encarar o suor caindo, sensualmente pela nuca de Harry enquanto ele fazia uma série no avoador. No fim do dia, a maioria dos jogadores do KRS já tinha tomado banho e pareciam mais do que dispostos a correr até seus carros estacionados na garagem para ter um fim de tarde de descanso. Andrew foi um dos últimos a adentrar o chuveiro do time, com os mesmos tons azuis e brancos de todo o resto do CT. Com muito esforço, ele conseguiu evitar a memória dos lábios de Harry Zhao tocando os seus ou a ideia de sentí-los em outras partes do seu corpo. A água parecia cada vez mais quente à medida que os pensamentos o
O céu tinha um tom esverdeado naquela tarde, os finos flocos de neve que caíam até a semana anterior não deixavam mais vestígios, apenas uma camada de névoa deixava, visualmente, claro os oito graus Celsius que fazia. Alex tirou a câmera da bolsa, gostava do reflexo do Sol nos vidros espelhados do Centro de Treinamento dos KRS. Ela sorriu ao ver a foto. O nome, com letras douradas e elegantes, do time havia ficado em um canto, na parede de mármore branco que dividia espaço com os enormes espelhos refletindo um número consideravelmente grande de árvores e uma pequena parte da lagoa situada bem diante da instalação gigantesca do time.No centro da foto, uma scooter, levemente distorcida pela incidência dos raios solares na lataria dourada, e uma moça, com contornos mal definidos e fora de foco, cuja câmera em mãos tinha sido a responsável pela imagem capturada. Alexandria amava fotografar, mas se sentia estranhamente frustrada nas últimas semanas. Não tinha mais o entusiasmo da faculd