Ensinamentos de mãe para filha

Foi um encontro. Não sei se o destino reservou aquele momento para mim, mostrando- me que ainda estava viva e mesmo evitando Ter ambições além da conta, referente a pretendentes ricos, não era difícil não se encantar por ele, Draco Testa. Se mostrou despretensioso comigo, não exigiu e nem deu a entender que estavam fazendo aquelas coisas por mim por algum tipo de interesse.

—Quer mais alguma coisa? —Disse assim que sair do banheiro.

—Não, estou muito satisfeita! Chegou a hora de ir para casa.

— Certo. Jean te levará para a casa!

Entrei dentro daquele carro um tanto frustrado, sei que as minhas intenções ali era aproveitar a boate conhecer qualquer pessoa e trocar olhares e beijo descomprometido. mas encontrei um ser que me tratou muito bem não como uma qualquer. Não trocamos números de celulares aquilo acabaria naquela mesma noite estou melhor madrugada. Silenciosa, seguir viagem um carro conversível blindado como uma pessoa importante, mas ainda sim descontente com o desenrolar daquela noite. Ele poderia ter me oferecido mais, pensava.

— É esse prédio?

— Sim. Obrigada Jean!

— Senhorita, aqui está meu cartão. Qualquer coisa, se precisar, não hesite em me ligar!

— Perfeito, você é muito gentil! — Disse já sendo esperada pelo porteiro da noite, Seu Jaime.

Sei boa noite a ele assim que entrei no elevador e cheguei em casa, mas a raiva e diferenças com a minha mãe havia passado, Fui para meu quarto, tirei a sandália e o vestido e deitei assim mesmo na cama com maquiagem e calcinha. Acordei nove horas da manhã na mesma posição que deitei. Meu corpo doía e minha cabeça também, estava com uma sede horrível; coloquei o hobby, minhas pantufas e segui agora a cozinha atacar a geladeira já com remédio para a ressaca na mão.

— Bom dia baladeira!

— Não posso dizer o mesmo para a senhora, minha mãe. Que história é essa de falar com Juliano sobre mim. Mãe, ele não é um cara bom...

—Mas ele pediu para ajudá-lo a te reconquistar. Cadê Marjorie?

— Vamos por parte: O seu príncipe encantado me bateu no dia daquele churrasco que a senhora estava presente.

— Imagina que ele faria isso. Você não disse nada e também ficou dançando forró com aquele amigo só de biquíni...

— E por isso merecia levar uma porrada na cara?

— Ultimamente seu linguajar está tão chulo... Aff. Eu não acredito que ele fez isso com você. Por que não me contou antes? E a Marjorie?

— Sua filha saiu com seu outro filho, Anselmo. Ele e Letícia a levaram a um casamento de uns amigos dele na Serra.

— E você não me fala nada! Marjorie e menor de idade, precisa só meu consentimento para sair. Eu não sei quem são esses amigos de Anselmo, ele resolveu ser pobre mesmo, vai entender.

— Sabe, às vezes acho que falar com a senhora é uma perda de tempo. O colégio dela está atrasado há três meses. Você esquece que sua pensão não é apenas sua e sim de Bernard e Marjorie!

— Eu vou pagar, está bem. Eu vou segunda na escola dela.

— A moto do seu filho está quebrada, deveria ver isso também. Agora, com o que você está gastando vinte e mil? É o que sobra e dava pelo menos para pagar o condomínio?

— Drezza, não me enche com essas coisas... Falou com seu irmão, ele resolve.

— Ele não resolve. Letícia sim, resolve! Deveria respeitar Letícia, ela sem que merecemos, nos ajuda muito.

— O mesmo brinquedo que eu dava a você, eu dava para ela...

— E por isso ela deveria desistir de Anselmo? Eles dois se amam.

— Eu criei vocês para serem pessoas bem sucedidas e não escolher viver de amor.

Minha mãe tinha uma ideias tão babacas que ficava com medo de absorver essa maneira de pensar dela. Não quis continuar retrucando suas palavras.

— Quero Marjorie aqui até o final da tarde! — Ela disse vendo que eu a ignorava.

— Ela voltará amanhã. Não vai ligar para Anselmo e não vai estragar a o final de semana deles.

— Parece até que sou uma inimiga para vocês! — Mais uma vez a alto piedade e vitimismo davam as caras. Ela foi para a varanda fumar.

Ela nem liga para Marjorie. Se ela tivesse fugido, só hoje ela sentiu falta e olha que minha irmã tem treze anos. Peguei meu café, quatro tortas com patê caríssimo de Leona e sai de sua frente. Estava sem paciência para suas queixas. No início, era até aceitável, mas agora, onde ela poderia procurar novas amizades, aproveitar sua pensão para viajar e coisa desse tipo, ela se vício em jogatina e por isso perdeu metade do sua pensão em empréstimos para pagar essa gente. Não tem como sentir pena de Leona, não tem. Há dez anos atrás eu estava perdida, vendo o meu espaço encolher, amigas virando as costas, sendo retirada de sala de aula por falta de pagamento. Engoli o choro e encarei o mundo, fui dar aula de inglês, ajudar Selma a vender salgadinhos e pedi bolsa de estudos encarando a mesquinharia das minhas então amigas, ganhei 100% e consegui terminar os estudos ainda no melhor colégio da capital paulista. Eu poderia estar me prostituindo agora, não que isso não tenha passado pela minha cabeça e de minha mãe, mas queria guardar comigo a dignidade que meu avô nos ensinou, que é de não ter medo de trabalho.

Vi meus gastos no cartão de crédito e não era tão grande, dava para pedir comida para mim e para a minha mãe. Mas uma vez a noite de ontem veio a cabeça e fiquei imaginado se aquele homem me desejasse. Se tivesse rolado alguma a mais, porém sei que ele queria apenas ser gentil comigo e me deixa insegura na frente do espelho, não era mais uma adolescente, nem uma mulher jovem, meu rosto envelhecido e pálido talvez não n a leveza de antes. Eu trabalhava, tinha que encara o trânsito de São Paulo e muitas das vezes não dormia o suficiente. Fui até o quarto da minha mãe e mexi nas coisas dela — sei que ela sempre tem muitos cremes anti-idade que ela pede nessas revistas — sei que ela compra em quantidades absurdas.

— Mexendo nas minhas coisas, Drezza!

— Eu quero um desses cremes seus.

— Está aí uma parte do dinheiro que você faz questão de jogar na minha cara!

— Por isso mesmo mamãe, eu posso confiscar pelo menos um.

— Ainda está com maquiagem da noite passada. Não se dorme com maquiagem! Sai daí! Eu tenho dois cremes que ajudará a diminuir essas olheiras e esse aspecto cansado do seu rosto.

— Valeu!

— Para de falar como uma marginal.

— Obrigada! Ficou melhor?

— Eu criei vice para ser uma dama, no mínimo uma empresária, mas...

— Não começa a pensar sobre isso. Remoer o passado não ajuda em nada!

Leona consentiu com a cabeça. Minha mãe é uma mulher muito bonita ela tinha seus cinquenta e dois anos, não era mais magra, criou culote e como uma Casadavell que preze, as olheiras era um sinal de família. Ela pegou uns kits fechados colocando em sequência em cima da pia de seu banheiro.

— Esses produtos, são produtos que comprei para você. Eu sei que trabalha muito, mas a beleza é uma coisa que, principalmente para as mulheres abrem portas. O encanto, tem que existir sempre.

Olhei para ela, sem confessar que estava com Draco na minha cabeça e sua recusa em me assediar mexeu veementemente com a minha autoestima.

— Quem é o cara que questão te deixando vaidosa? Ontem você não voltou cedo e não ficou na companhia de Juliano, ou ficou?

— É uma outra pessoas mãe. Ela me ajudou a me livrar desse babaca!

— Olha o palavreado, não se pode usar com homens descentes e eu acredito que esse seja. — Leona me encarava com certa curiosidade e rosto sereno.

Eu não queria dizer a Leona sobre a noite de ontem, mas precisava desabafar. Resolvi me abrir com a minha mãe e mostrar minha insatisfação com um fato de Draco não ter mesmo me visto como uma mulher em potencial para ele; poderia estar mentindo sobre o fato de ser dono daquele Império todo mas isso não importa, o que importa é que ele nem tentou chega tão perto de mim.

Pela primeira vez desde muito tempo, eu e Leona conversávamos como mãe filha onde eu me abria confessando meu interesse em arrumar realmente alguém que me tratasse como ele me tratou ontem à noite, com atenção, mostrando para mim o quanto eu era especial mas faltou uma coisa; faltou ele me querer de verdade, não apenas uma companhia para um jantar que poderia ser qualquer uma, inclusive uma de suas empregadas ou uma cliente no seu estabelecimento. Foi constrangedor sentir na pele o fato de não ser desejada e de estar realmente mal vestida e maquiada.

— Mas ele é o gerente do Village Margot? É um empório novo na cidade. Eu nunca passei por lá. Mas posso verificar para você se o que esse homem falou é realmente verdade.

— Nem sei se é importante fazer isso, mamãe. Eu posso ir lá de vez enquanto. Marcelo, que estudou comigo na faculdade trabalha lá.

— Eu sei sua consideração por pessoas de classe mais baixa que a sua, mas não pode ter seu nome associado a certas. Foi bom acontecer isso com você, quem sabe você começa a me entender quando digo que “ diga com quem andas, que te direi quem és.”

— Sério isso, mãe?

— Não me leve a mal. Mas quando uma mulher não se valoriza, não entende o seu lugar na sociedade, ela está a mercê do julgamento alheio. Ele não te olhou na ideia de querer te conhecer, mas na ideia de tratar alguém que Juliano conhece. Você perdeu a individualidade e ganhou a forma de coadjuvante como referência a você: é a ex namorada de alguém, a amiga de alguém, a funcionária de alguém, a filha de alguém... Você não fez o seu próprio nome, não consegue ser atriz principal de sua própria história. É sobre isso filha que falo, não é uma questão de te prostituir, mas sim, escolher o melhor. Busque o seu melhor e não apenas sua flexibilidade diante das circunstâncias.

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