Eu me afastei procurando os olhos de Antonieta. Eu me sentia tão culpada! — Antonieta, ele te machucou, foi isso? Tudo isso por minha causa? Não seria melhor desistir de tudo? Não precisa pagar esse preço! Eu vou embora e tudo volta a ser como antes! — Não!— ela quase gritou. Eu fiquei surpresa com a reação dela. — Não tem que sofrer por minha causa, amiga— minha voz saiu embargada. — Alguém precisa ser feliz— foi o que ela disse, antes de me abraçar novamente. Eu sabia que ela estava se arriscando por minha causa, pois o chefe da guarda tinha muito poder, mas eu precisava achar um ponto fraco dele, tirar as forças que ele exercia por ser italiano, por estar ali há tanto tempo, desde que Matteo se entendia por gente, quem sabe? Talvez a resposta para isso estivesse mais perto do que eu pensava. As duas criadas nos deixaram a sós e foram para o fundo da casa, agitadas, mãos na cintura, procurando com os olhos o autor daquele mal estar todo.
Ela virou-se parando na minha frente. — Você não o traiu com os seguranças e nem lhe roubou. Eu fiquei confusa, sem entender, e ela continuou a falar, sempre com o olhar perdido: — Giglio entregou o relógio do patrão, disse que estava com ela. Meneei a cabeça incrédula. — E você confia nele? Ela estava com ele, por acaso? — Não! Ele não se atreveria a me trair. Soltei o ar pela boca. Então Giglio era muito pior do que eu pensava. Saí atrás de Antonieta ouvindo ela destrinchar aquela história horrível . — Ele a mandou embora, no meio da noite, sem um pingo de piedade. — Claro, o seu querido namorado bateu na porta dele de madrugada para entregar a moça! —eu contestei. Antonieta ficou alterada. — Ela o roubou, deitou-se com um dos seguranças! — Quem garante que não foi com ele mesmo? Ele pode ter armado para ela!— retruquei insistente. Antonieta engoliu em seco, a voz parecia presa. — Ele é louco por mim, sempre foi!
Durante o almoço eu estava visivelmente inquieta e Antonieta percebeu. Minha sorte, é que Matteo teve que se retirar da mesa por um momento e nos deixou à vontade. — Morar com os pais dele?— ela também estranhou. — É Antonieta, morar com eles, lá na Itália! Não os conheço, mas me arrepio só de pensar nisso! Não sei, aqui no Brasil nos casamos e vamos morar em casa separada dos nossos pais, porque temos que ficar debaixo do mesmo teto que eles? Antonieta expressou preocupação, mas eu não parava de falar. — Antonieta, e se eles perceberam que sou uma farsa? Ela inclinou-se para mim subitamente. — Não pode abaixar a cabeça para eles, ouviu? Tem que manter o patrão nas rédeas, ou a sua sogra te devora! Eu suspirei impaciente. — Aqui no Rio de Janeiro, também não posso ficar! Logo seria descoberta por eles! Nem percebemos a presença de Nath, que nos ouvia incrédula. Quando Antonieta virou-se, ela se retirou nervosa. — Confia nela, Antonieta?
— S-sim, senhor— ela gaguejou. Fiquei boquiaberta. Era como se ele estivesse me escondendo algo. Depois do almoço, Matteo voltou para o escritório e eu fui ter com Antonieta, falando sem parar: — O que está me escondendo? Ele não sairia da mesa se não fosse algo tão importante, não é? Fala Antonieta, o que está me escondendo, ele tem outra, é isso? Ela voltou-se para mim. — Ela quase sempre liga nesse horário. — Ela, ela quem?— balbuciei apavorada. — A mãe dele. Suspirei aliviada. — Oh meu Deus, quase me matou de susto! Saí andando sorrindo de volta para a sala, Antonieta veio atrás de mim. — Mas seria melhor que se tratasse de uma amante! — O quê! Ela ficou inquieta. — Essa mulher tem controle sobre ele! — Por isso vai se casar escondido dela?— Minha voz nem saía direito. Antonieta começou a me empurrar, tentando me animar. — Vai casar escondido sim, mas você vai tirar isso de letra. Vai chegar lá casada, e e
Esse dia foi bem movimentado. Antonieta foi tirar satisfação com Odete, logo cedo na cozinha, enquanto elas preparavam o desjejum. — Então você foi fazer uma visitinha ao velho safado essa madrugada. Me conte tudo, estou muito curiosa!— ela falava, andando em volta da outra. Odete empalideceu e Nath cobriu a boca com a mão. — Não acredito, Odete. Você fez isso? Logo você que tinha tanto respeito por Antonieta! — Pois é, ela fez. Eu acredito que ela tenha uma boa desculpa para isso! Odete começou a gaguejar: — E-ele exigiu que eu fosse falar com ele em segredo. — É mesmo?— Antonieta debochou. Nath também estava possessa. — Deixou outra lembrancinha no armário secreto, sua falsa, traidora! — Ei, ei Nath, a traída aqui sou eu!— Antonietta gritou. Nath começou a chorar e foi uma confusão. — Não é a primeira vez que ela sai com ele!— Nath gritou descontrolada. Odete arregalou os olhos, apavorada. — Isso é verdade, Odete?—
Disfarcei, fingi está subindo para o andar de cima e larguei o corrimão às pressas. — Precisa me ajudar!— cheguei esbaforida na cozinha. — O que houve, por que está tão assustada?— Antonieta largou na pia, a louça que recolheu da mesa. — Ele foi me envenenar novamente para o Matteo. Não suporto mais pensar que esse italiano mau-caráter pode me prejudicar! Antonieta fechou o semblante e tirou o avental branco, que usava por cima do uniforme azul marinho, composto de um vestido não muito comprido. — Vou tomar uma atitude, talvez a saída dessas duas possa ter contribuído para alguma coisa. — Como assim?— Eu não entendi. Ela saiu falando e gesticulando impaciente. — Você me ordenou levar as duas daqui, apenas sustente isso! Suspirei assentindo. Antonieta chegou no local onde ficavam os aposentos dos seguranças. Para sua sorte, deu de cara com quem estava à procura. — Silva! Queria mesmo falar com você! O rapaz virou-se surpreso, e
Silva deu um jeito de não acompanhar o chefe. — Melhor eu ficar aqui na sua ausência, senhor. Eu sou o mais antigo e não podemos descuidar da moça! Giglio pensou um pouco. — Acho que tem razão. Não podemos descuidar dela. Reforce a segurança na casa, Silva. Não deixe que ela escape. Se tudo der certo, hoje ela vai sair daqui escoltada pela polícia! Silva não disfarçou a surpresa. — Acha que o patrão faria isso? Não temos certeza se ela é tão perigosa assim! Giglio alterou-se. — Ela é, Silva! Eu tenho certeza disso, nunca me enganei com mulher alguma! Nem Antonieta me surpreendeu! Ela pensa que me engana! Se essa mulher estiver mentindo, pode ter certeza que ela tem o apoio dela! Vou desmascarar primeiro essa intrusa, depois será a vez dela, pode esperar! Quero ver ela sair daqui escorraçada! Silva segurou a respiração e deixou o chefe se afastar para soltar o ar pela boca. — Eu não vou deixar isso acontecer!— desabafou ao vento. Enqu
O homem sorriu aliviado. — Ah, deve estar falando da tal moça que passou mal e deixou o carro aqui no estacionamento! — Então é verdade, confirma essa história ao meu patrão!— Giglio falava soltando saliva ao vento. Nesse momento, Matteo chegava junto com o garçom. — Vamos embora, Giglio, já sabemos que essa história é fantasia da cabeça desse rapaz. O homem no balcão confirmou a história que Giglio duvidava. — Verdade, ninguém pulou do mar aqui. A irmã da moça veio buscar o carro, e está tudo esclarecido. Sinto muito, mas se estão procurando por alguém não podemos ajudá-los. Giglio se pôs a espalmar as mãos no balcão, inconformado. — Não pode ser! O Silva esteve aqui, vocês estão mentindo! Matteo deu as costas e saiu andando em passos largos. Outros seguranças vieram buscar o chefe, inclusive Almir. — Vamos senhor, precisa enfrentar a ira do patrão— ele disse agitado. Giglio encarou Jorge com ódio. — Você está mentindo. Está enco