Meus pais desviaram o olhar e só naquele momento perceberam minha presença. Vi constrangimento em seus rostos.
Mas ao ouvirem minhas palavras, minha mãe ficou furiosa:
— Que absurdo você está dizendo?! É apenas um simples teste de medicamento, não fale coisas tão infelizes!
Meu pai me olhou com frieza:
— Você está querendo fugir de novo? Já assinou o contrato. É melhor você ir sem resistência. Quando a pesquisa do medicamento terminar, nós vamos buscá-la em casa.
Leon segurou minha mão com ternura:
— Vai ser rápido, apenas um mês. Quando você sair, eu comprarei qualquer coisa que quiser.
Olhei para meus pais, depois para Leon, e por fim suspirei, soltando sua mão.
Virei-me e caminhei com determinação para o laboratório, sem qualquer apego por eles.
O “teste de medicamento” não era normal: o experimento era doloroso. Meu corpo parecia estar sendo percorrido por mil formigas todos os dias.
Arranhava minha pele com força, deixando-a coberta de feridas e cicatrizes.
Durante esse período, eles não vieram me ver nem uma vez.
Talvez estivessem desfrutando de banquetes luxuosos, contemplando o pôr do sol à beira do Rio Sena.
Eu não sabia.
Só sabia que meu coração ficaria cada vez mais fraco.
No décimo oitavo dia, só havia uma linha reta sem qualquer pulsação na tela da máquina.
Quando o médico entrou, pensou que eu estivesse apenas dormindo e começou a cutucar meu braço impacientemente:
— Acorde, é hora de passar para a próxima fase da pesquisa.
Em resposta, houve apenas um silêncio interminável.
Ele franziu o cenho e, de repente, viu o monitor cardíaco ao lado.
Ficou horrorizado.
Após um longo instante, tremendo, pegou o celular e ligou para meus pais:
— Senhora… Senhora Alves… Clara… ela morreu!
Do outro lado da linha, houve um breve silêncio, seguido de um risinho desdenhoso e indiferente da minha mãe:
— Doutor, hoje não é Dia da Mentira, pare com as brincadeiras.
O médico olhou para meu corpo rígido e pálido sobre a mesa de cirurgia, misto de pânico e raiva:
— Não estou brincando com vocês! Ela parou de respirar!
Leon, do outro lado, arrancou o celular das mãos da minha mãe e falou com voz calma:
— Doutor, Clara provavelmente está fingindo para escapar do teste. Não se deixe enganar.
— Vocês estão loucos! Ela realmente morreu!
Antes que o médico terminasse, Leon interrompeu impacientemente:
— Temos outros assuntos aqui. Quando Clara acordar, informe-a para não tentar nenhum truque. Em doze dias vamos visitá-la.
Dito isso, desligou rapidamente o telefone.
O médico ficou paralisado, incrédulo.
Tentou ligar novamente, mas ninguém atendia.
Bufando, murmurou xingamentos e jogou meu corpo em uma sala fria improvisada.
Ninguém sabia que aquele suposto laboratório médico fora inteiramente criado por Viviane.
Tudo para manter sua imagem de fragilidade, para conquistar o amor dos pais, e para manter Leon como seu brinquedo.
Minha alma saiu e assistiu meu corpo ser jogado ali como lixo.
Não demorou até que formigas e ratos seguissem o cheiro e começassem a roer minha carne, sugando meu sangue.
Embora morta, parecia sentir dor.
Em vida não fui amada e, na morte, ninguém se importava. Minha vida parecia não ter sentido algum.
Minha alma ficou presa ao corpo, incapaz de se afastar.
Os dias passavam, e a sala fria exalava um cheiro cada vez mais fétido.
Finalmente, uma voz familiar soou do lado de fora:
— Doutor, a pesquisa do medicamento teve sucesso?