Redding - Sobrevivendo ao Apocalipse
Redding - Sobrevivendo ao Apocalipse
Por: J. C. Widell
Prólogo - Sangue sobre as mãos

O cheiro forte de sangue me deixou paralisado por um longo momento. O líquido vermelho e viçoso escorreu por uma faca de cabo de madeira trabalhada. E no mesmo podia ser lido os seguintes dizeres sobre madeira:

"A sabedoria não está na arma que carrega, e sim na cabeça do manuseador".

As pequenas letras não interessavam naquele momento, o que realmente importava era: como eu tive a coragem de fazer o que fiz?

— Júlio... — chamou uma voz feminina ao longe. — Júlio, o que você fez?

Nem eu sabia como havia feito, simplesmente fizera.

— E... eu... eu...

A voz não saía, era como se estivesse paralisado com toda a maldita cena ao meu redor. Estava paralisado anestesiado num misto de sensações indescritíveis.

— O que você fez? O que fez?

A pergunta repetitiva da garota estava me deixando ainda mais assustado.

— Como você foi capaz? — A voz dela estava trêmula e quase rouca. Devia ser o choro acompanhado da emoção que o cenário lhe causara.

— Porque fez isso Júlio? Por que fez isso?

A cada vez que ela me fazia aquela pergunta, era como se me enfiasse uma estaca, que penetrava cada vez mais fundo meu cérebro me deixando ainda mais nervoso e sem ação.

— Eu não sei... Eu não sei... — disse, tentado explicar de alguma forma o acontecido.

De joelhos sobre o chão, pude notar o que realmente havia feito. O corpo de uma senhora de identidade desconhecida para mim, estava estirada ao frio chão. Seu rosto desfigurado me deixou com uma estranha sensação de nojo e desespero. Havia marcas de sangue espalhadas por todo o local. Minhas vestes estavam sujas.

Cada canto do meu corpo estava com sangue, impregnando pele, cabelo e vestes.

O chão branco em contraste com o vermelho do sangue não era a única coisa que se destacava na pequena cozinha de minha casa, a jovem fazia todo o diferencial para a cena grotesca. Seu olhar não mudava, ia de mim para o cadáver, do cadáver para mim como se um nervosismo a fizesse imitar os movimentos sem ao menos ter percebido. Ela estava nervosa e aquele corpo só a estava deixando ainda mais alucinada.

— Júlio o que houve? — Perguntou mais uma vez só com lágrimas escorrendo pelos olhos castanhos.

Não conseguia responder. Não só a fala, mas também meu corpo estava paralisado. Não conseguia me comunicar. Foi quando a jovem garota se aproximou de mim, colocou as mãos sobre o meu rosto em sinal de prece, e disse olhando diretamente em meus olhos:

— Júlio, o que aconteceu aqui? — sua voz mudou completamente. O nervosismo tinha dando lugar a um tom doce e calmo, como se soubesse do que precisava. Seu doce tom de voz não pertencia à cena monstruosa. Seus olhos, porém, continuavam a escorrer lágrimas.

Ela sofria mais do que a mim.

— Confie em mim... Conte-me o que houve...

As imagens começaram a se formar em minha mente, levando-me diretamente ao ponto onde tudo se iniciou.

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