QUATRO

Abla Dinis.

Faz exatamente, quatro anos que estou aqui em New York. Naquele mesmo dia em que perdi minha gêmea, tomei a decisão de ir embora da minha cidade, Salvador, capital da Bahia. Mas, o que me surpreendeu mesmo, foi à necessidade de partir do meu país. Eu escolhi essa cidade, na verdade aleatoriamente, não foi porque eu a amava. Em primeiro lugar, nunca havia pisado nela. Foi muito difícil dar esse passo, no entanto, eu estava decidida. 

Para ajudar a nossa mudança, pedi um favor a uma conhecida, ela conseguiu um visto para mim, e para as meninas. Desde que eu cheguei, trabalhei em vários lugares. Tudo isso para dar uma boa estrutura às minhas meninas. No tempo do exército, consegui guardar uma boa soma, mas quando se vive com duas crianças, o dinheiro evapora. Eu preciso de um emprego que possa ganhar melhor, sei que ficarei muito tempo longe delas, mas é necessário para nós três.

Vocês devem ter reparado que as meninas me chamam de mãe! Na verdade, é uma opção delas. Assim que elas completaram quatro anos, eu as chamei e contei sobre a mãe delas, mostrei fotos, e expliquei tudo resumidamente, claro, de forma simples para que elas pudessem entender. Pensei que ao explicar, elas não me chamariam novamente de mãe, mas, ledo engano. Perguntei o porquê, e elas disseram:

— Mamãe, nós entendemos que foi a mamãe Pan, que nos colocou neste mundo, mas, foi a senhora que nos criou. — Quem falou isso foi Nia, ela desde pequena, sempre foi muito esperta, a razão, como eu a classificava, enquanto que a irmã era emoção pura.

— Mamãe é quem cria! Não se preocupe, levaremos nossa mamãe Pan sempre em nossos corações. — Niara também não ficou atrás, porém, fiquei espantada com tanta sabedoria para tão pouca idade.

Eu chorei tanto nesse dia, fiquei muito emocionada. Percebi que meus tesouros já estavam crescendo e me orgulhei muito naquele momento.

— Bom dia senhor Carson! — Comprimento, com o meu melhor sorriso.

— Bom dia menina Abla. — Respondeu-me igualmente. 

O senhor Carson é uma ótima pessoa. O conheci três anos atrás, infelizmente ele não fala muito sobre si, mas, a minha mente doida, já imaginou várias e várias coisas.

— Está com fome? — Perguntei, fazendo o bico no final.

— O que acha? — Me respondeu com outra pergunta. Típico dele. Colocou a mão na barriga sugestivamente, e terminou com um bico, mais longo que o meu. Eu ri da carinha que ele fez, e lhe dei um abraço. Aqueles de rachar costelas.

— Eu trouxe empadão de frango. — Avisei empolgada.

— O Senhor ouviu as minhas preces ontem. — Praticamente puxou a vasilha de minhas mãos. — Menina, comendo sua comida, engordei uns dez quilos. — Informou animado.

— Assim seja! — Levantei as mãos para os céus.

— Vai sair?

— Entrevista de emprego!

— Boa sorte menina Abla! — Sua sinceridade me comoveu.

— Agradeço meu amigo. — Lhe dei outro abraço e saí para pegar a condução. A empresa não é longe, mas, eu já enrolei demais. Se eu inventar de ir andando, chegarei atrasada.  Eu preciso desse emprego, e farei o possível para consegui-lo.

 me sentia sozinha e seca, sem ele ficaria muito melhor.”

Então eu lhe mandei um foda-se, e disse para aquele filho de uma puta, sair de vez da minha vida. Foi um problemão! O infeliz me perseguiu por meses. Não pensem que era porque gostava de mim, longe disso. Ele me perseguia por que estava com o ego ferido. Acho que ele preferia terminar, mas, eu fui mais rápida. Graças a Deus, me livrei daquele embuste.

Voltei a mim quando ouvi a voz da minha futura colega de trabalho. Olhe-me eu sendo positiva! Preciso ser, essa é a verdade.

— Que bom! Vamos até aquela sala. — Ela falou rindo. Entramos e me sentei de frente para ela e esperei que começasse a falar.

— E então, fale um pouco sobre você.

— Como falei antes. sou brasileira, vim para esse país três anos atrás. Tenho 26 anos, mãe e irmã falecidas.

— Sinto muito!  Por que veio para New York?

— Eu precisava recomeçar, e nada melhor que um lugar novo.

— Que bom. Você começa amanhã, não se atrase, seu chefe não gosta de atrasos. — Falou se levantando, deixando-me extasiada.

— Mas como? — Estava de boca aberta. Pensei que suaria bem mais para conseguir esse emprego.

— Você já estava contratada. — Levantou como tivesse livrando-se de um grande peso. Eu quis perguntar-lhe o porquê, porém, desisti. Não irei brincar com a sorte.

— Quem será meu chefe?

— O dono da empresa, o senhor John Riddick!

— John Riddick! — Exclamei pensativa. Eu já ouvi falar desse nome. Dizem que ele é uma lenda. Várias condecorações, o cara é tudo e mais um pouco.

— Isso! — Não me respondeu com uma empolgação tão boa.

— A senhorita possui algum conselho? — Indaguei desconfiada.

— Só não o irrite, ele não é uma pessoa fácil de lidar. Não o encare muito, ele não gosta. Ah!  O senhor usa óculos de sol o tempo todo. 

E agora essa. Por que será?

— Por quê? — Meu lado investigador falando.

Cala a boca Abla! 

Mas também né, essa moça não se calava. Tudo que eu pergunto, ela responde. 

Toma cuidado moça. Nem tudo tem que ser dito.

— Ele sofreu um acidente quando estava em uma missão. Acho que uma bomba explodiu, não agarrou nele, mas o calor quase fritou seus olhos. — Escondeu a boca com suas mãos. — Todos ficaram impressionados porque ele não ficou cego, mas em compensação, ficou com uma irritação a luz do sol.

— Entendi. — Sorri desconfortável. — Agradeço pelas informações.

— Minha querida, eu que agradeço, você salvou o meu pescoço. — Seus olhos estavam arregalados. De novo aquela aflição na voz dela. Será que esse homem é tão ruim assim de se lidar? Bem, não estou nem aí, se ele vier pra cá, não espere que eu baixe a cabeça, porque comigo não.

Despedi-me dela e saí da empresa, estava doida para chegar em casa, no entanto, tenho outras coisas para fazer. Como por exemplo, comprar roupas para o trabalho. Eu não tenho nada bonito para usar como assistente da presidência. Nunca liguei para isso, passei a vida toda com farda e um rifle em mãos. Só que agora é muito diferente, a minha vida é diferente. Fiz as compras necessárias para o mês atual, quando receber meu primeiro salário, comprarei mais coisas. Claro que não comprei só para mim, para minhas meninas também. Ambas estão crescendo muito rápido, então isso quer dizer que suas roupas estão se perdendo da mesma forma.

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