( Amber Petrova )
Meu despertador toca pela vigésima vez no exato momento que gritos invadem meu quarto.
— Amber, não acredito que você continua dormindo! — Emma chega gritando, jogando seus livros na mesa de estudos.
Droga! — Penso apertando meu rosto no travesseiro.
Não me lembro como cheguei até aqui ontem, só me lembro de rezar muito para não dar de cara com a Emma, que com certeza me dirigiria mais um dos seus sermões sobre relacionamentos tóxicos.
— Estou com sono, me deixa em paz... — Resmungo sonolenta puxando o cobertor.
O silêncio que se instala no quarto assim que digo aquilo era o sinal de que ela estava analisando o cenário para enfim jorrar suas suposições em cima de mim.
— Você e Oliver brigaram de novo, não foi?
— Não é nada disso. — Nego tentando fugir de uma possível discussão.
— Então por que está com uma faixa no braço? — Ela vê o maldito curativo sabendo que tinha coberto mais um hematoma.
Inferno!
— O que ele fez dessa vez, Amber? Ele te machucou de novo?
— Eu terminei com ele... — explico me colocando de pé. — Terminei mesmo, não vai ter volta!
Quem estou tentando convencer, ela ou eu?
— Disse isso da última vez, e bastou ele vir com aquele papinho de sempre, que você o perdoou. Não dá para continuar assim, como se isso tudo fosse normal. — ela estava furiosa e isso raramente acontecia. — Me preocupa que ele possa fazer algo pior e só você não vê isso!
— Sei que se importa comigo... — falo pegando as mãos dela. — mas agora vai ficar tudo bem... eu prometo.
Seus olhos negros me penetram buscando qualquer pedaço da minha alma onde ela pudesse se grudar e soltar o seu alerta de amiga protetora.
— Essa é a última vez que vou me calar sobre isso. — avisou com fúria nos olhos. — Se o Oliver tocar em você mais uma vez, eu mesma irei ligar para o seu pai, ouviu bem?
— Ouvi.
— Ótimo, agora vai tomar um banho e se arrume para próxima aula.
Bufando, eu pego minha toalha e entro no banheiro. Após deixar os jatos quentes baterem na minha pele, me atrapalho com a faixa, preferindo não a colocar de volta. Visto uma das minhas lingeries rosas, coloco uma calça jeans e meu salto favorito, uma blusa comum que aperta meus seios não tão grandes, e termino com um delineado rápido.
— Pronto! — Digo pegando minha mochila.
— Vai com o cabelo preso?
Uma das poucas coisas que eu e Emma tínhamos em comum era o zelo pela aparência.
— E agora? — Solto meu cabelo longo e jogo um sorriso para ela.
— Perfeita para deixar o Oliver com o queixo no chão! — zombou puxando minha mão. — Vamos!
Saímos do nosso quarto A02 do pavilhão E, e caminhamos até o prédio A onde aconteceria a terceira aula do dia. Os corredores estavam cheios, e estranhamente os olhares todos voltados para mim.
— Emma, que merda está acontecendo? — Cochicho ao lado dela, enquanto andávamos.
— Talvez seja esse roxo no seu braço... — ela olha entre nossos corpos encarando a mancha. — Toma, veste isso. — suas mãos me passam seu casaco preto e eu rapidamente o visto, dando um jeito de fugir dos curiosos.
— Obrigada.
Chegamos na sala de aula e para nossa sorte a professora de Mitologia Grega, ainda não tinha chegado. As fileiras estavam cheias, mas como as pessoas aqui respeitavam os lugares, eu e Emma, logo sentamos no nosso canto predileto.
— Será que ele não vem hoje? — Pergunto sobre o Oliver, o procurando pela sala.
— Melhor que não, assim você pode se concentrar na aula.
Mas para minha grande surpresa, o homem da noite passada entra na sala com sua mesma jaqueta de couro preta e uma mochila pendurada em um dos seus ombros.
Puta que pariu!
Minha estrutura inteira gela e as ações seguintes que tomo são tão inesperadas que meu corpo age sozinho.
— Ai, droga! — Me jogo rapidamente para baixo da mesa, implorando para que o motoqueiro gostoso não tenha me visto.
— Amber, que merda é essa? O que está fazendo? — Emma me cutuca embaixo da mesa, confusa com a minha atitude. — Levanta daí, maluca!
— É ele, é ele! — Disparo com as mãos trêmulas.