O primeiro contato com Castanha

- Por que não tenta se acalmar um pouco?

                  Sugeriu doce.

- Impossível. Ainda não engoli a injustiça que fizeram comigo. Você tem cigarro?

- Não fumo.

- Eu odeio pessoas caretas. Não quero ter que conviver com nenhuma delas.

                 A menina disparou amarga.

- Olha querida...

- Por que me chama de querida?

                Ela interrompeu Taele com impaciencia.

- Porque gostei de você.

               Pillar olhou a mulher com choque , como se estivesse ouvindo aquilo pela primeira vez na vida.

- Espero que não mude de ideia quando me conhecer.

- Tenho certeza de que não.

                 Declarou , despertando em Pillar um sorriso tímido.

- Quantas horas vou ter que trabalhar?

- Temos que esperar sua avó dizer.

- Ih! Esqueci A toda poderosa é que manda em tudo. Mas na minha vida ela não vai mandar.

- Escuta , que tal se deitar? Já é hora de dormir. Amanhã o dia que te espera vai ser bem puxado. Vou te mostrar o quarto.

                    Chegando no aposento, Pillar se deitou sem hesitar. Estava muito cansada. Taele a cobriu com dois cobertores grossos e apagou a luz do abajur.

- Boa noite querida.

- Boa noite.

                       A loira lhe deu um beijo no rosto , e dessa vez Pilar se sentiu diferente. Suspirou ao ver a porta do quarto se fechar, encolheu-se na cama sentindo-se desprotegida. Aquela sensação não abandonou e se  intensificou quando foi chamada no dia seguinte pela avó no seu escritório.

- Pillar, vá até a estrebaria, prepare as selas , lustre-as . Daqui a pouco o Haras abre e teremos muito movimento. Por isso quero tudo impecável . Ah ! e antes que eu me esqueça, escove alguns cavalos.

- Eu?

                   Ela protestou em choque.

- Sim senhora. E vai depressa.

                     Sem se conformar com o jeito duro da patroa Tatá tentou intervir e ajudar.

- Ela não pode tomar café?

- Primeiro o dever.

                    Dona Iolanda não cedeu e Pillar saiu do escritório , seguida por Taele.

- Está com fome meu amor?

- Sim.

                      Concordou de cabeça baixa, de novo com vontade de chorar.

- Vem , vamos correr , vou preparar um café reforçado para você.

- Mas a vovó disse...

- Ela não precisa saber disso.

- Valeu.

                    Mesmo sendo muito bem tratada por Taele, ela preferiu manter distância. Um medo enorme de perda se apossou dela, assustando-a. Ela nunca havia tido muita coisa , não queria criar laços com nada nem ninguém daquele lugar , já que ao final de três anos partiria e não queria sofrer.

Alguns minutos depois, ela suspirou e lamber os lábios satisfeita pela quantidade de coisa que comeu fazendo a cuidadora sorrir.

- Preparada?

- Não, mas sei que não tem remédio.

- Vamos lá, estou aqui para ajudar você. Não vou te abandonar.

                     Ofereceu a mão para Pillar.

A Menina aceitou resignada. Sabia que seu trabalho seria muito duro.

Taele entregou pra ela então, um balde de água, um shampoo adequado para animais e uma escova. Bem como um banquinho.

- Queria saber porque tratam esses bichos com tanta mordomia.

- Sua avó já disse. Eles eram a vida da sua mãe.

- Mas ela já está morta.

                  E contrariada aproximou-se de um animal.

- Agora chegou a hora de prestar muita atenção. Vou te ensinar como se faz.

                  A jovem Rebelde então, olhou atenta por alguns minutos para depois começar a Executar a tarefa.

 Deu um pulo quando cavalo a cheirou.

- Sai bicho infeliz! Não encosta esse focinho gelado em mim. Coisa nojenta!

                   Protestou com revolta.

- Esse é o juventude. Ele quer conhecer você.

- Mas é melhor ele ficar quieto. Porque senão , eu que vou dar um coice nele.

                     Taele riu.

- Coitadinho. Não foi com a cara do bichinho? Ele é tão fofo!

- Ele é detestável!

- Que dó.

                    Depois que terminaram com o animal, Tatá a levou para lustrar as selas. Ela detestou , mas achou melhor do que ficar em contato com o juventude. Achou aquele animal horrendo e faria de tudo para não chegar perto dele nunca mais. O que seria muito difícil. Naquele dia ainda cuidou de 3 cavalos. Odiava a experiência.

- Estou indo bem?

                     Perguntou insegura para Taele.

- Excelente Pillar. Continue assim. Vou ter que te deixar agora , preciso alimentar alguns animais.  Qualquer dúvida , me procura depois.

- Está bem.

                     Concordou , suspirando aborrecida , não queria ficar sozinha naquele lugar.

Frustrada , olhou para as 35 selas em estado deplorável que ela teria que consertar sem nunca ter feito isso na vida.  

Eram duas horas da tarde quando ela resolveu dar uma fugidinha e encostou-se na cerca  para ver alguns homens cavalgando , achando-os uns verdadeiros idiotas. Não conseguia entender o prazer que encontravam naquilo. Com medo de ser pega , ela correu e voltou para as suas atividades.

Estava cansada , suava em bicas. Gostaria de tomar um banho e dormir, mas com tanta tarefa para fazer isso era impossível. Será que sua avó não poderia lhe dar um pouco de descanso?

Cansada de ficar sozinha , foi procurar por Taele. Curiosa por saber o que ela estava fazendo.

A outra sempre a recebia com um sorriso. Ficou observando de longe , a dificuldade que ela tinha em alimentar um cavalo completamente selvagem. O bicho se empinou e ficou sobre as duas patas ganhando um tamanho gigante. Ele relinchava cada vez mais nervoso e tentava avançar. Pillar estava fascinada. Nunca vira algo tão lindo.

Os Pêlos dele era marrom escuro e brilhante ,  suas crinas estavam trançadas. Quando ele se aquietou, ficou ainda mais bonito , sua pose era elegante.

Pillar colocou as mãos na cintura e riu ao ver que sua cuidadora fracassava em mais uma tentativa de aproximação.

- Eu desisto.

- Está com medo dele?

                     A menina questionou de longe.

- Morrendo de medo. Ele não deixa ninguém se aproximar. Vou desistir. Não vou continuar.

- Você? Não acredito!

                    Ela chegou até Taele.

- E se esse bicho me pisotear?

- Vai deixar o pobrezinho com fome?

- É o jeito.

                       Pillar o encarava cada vez mais interessada.

- Qual é a raça dele?

- É árabe. Ninguém se aproxima , é perigoso demais. Seu nome é CASTANHA  , filho do BONITO , o cavalo preferido da sua mãe.

- Você a conheceu?

- Não , mas adoraria ter tido essa oportunidade. Me disseram que ela era muito especial. Assim como você.

                         Ela riu amarga.

- Então , te enganaram porque eu não sou especial. Eu sou um lixo.

- Ei nunca mais abre a boca para dizer um absurdo desses. Você não é um lixo , e eu vou te provar.

                       De repente Pillar se sentiu acolhida , um calor emanando de sua cuidadora , sentiu muita vontade de abraçá-la mas não se atreveu. Tentando se livrar do sentimentalismo que sempre a deixava desconfortável , ela perguntou:

- Ele é novo ?

- Me disseram que Tem 24 anos.

- Como fazem para cuidar dele?

- Geralmente temos que sedá-lo. Caso contrario não tem jeito.

- Coitado!

- Ele já provocou alguns incidentes.

                      Pillar sorriu divertida.

- Será que poderia me dar licença?

                      Pegou na mão de Taele uma bandeja repleta de cenouras e folhagem.

- O que vai fazer?

- Alimentar ele , oras. O que mais?

                        E aproximou-se de onde o cavalo estava preso, abrindo a porta com determinação.

- Volta aqui menina! Quer se matar por acaso?

                       Com a baia aberta , CASTANHA se empinou mais uma vez e assim que PILLAR chegou mais perto , se acalmou , tratando logo de cheira-la. Pillar riu , sentindo cócegas. Taele tremia em pânico. Se sentia em choque , sem acreditar naquela cena.

- Olá garoto! Como vai você? Chegou a hora de te alimentar e aposto que você já está faminto. Então , como quer que eu comece?

                          Ela acariciava o pêlo do animal, encantada. O cavalo balançava a longa calda e piscava. Aprovando.

- Pillar , não acha melhor sair daí?

                           Taele foi ignorada e assim , cada vez mais preocupada.

- Como você é lindo Castanha. Acho que seremos amigos.

- Não mesmo! Sua avó vai ficar furiosa se souber que eu deixei você chegar perto desse bicho. Vamos embora agora mesmo.

                        Pillar finalmente concordou em sair. Trancou a baia e deu um beijo no focinho de Castanha antes de se afastar por completo.

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