Barreiras

Dona Iolanda assistia a tudo abismada, Pois nunca vira aquele cavalo tão Manso assim. Aceitou ir com a neta , sem estar sedado e não protestava.

Mais tarde , quando chegou em casa , ela surpreendeu a cuidadora.

- Ei , vem cá, o que faz com  esse cigarro?

- Consegui com um dos empregados. Ai, ser boazinha é tão chato! tem que ser  normal e eu odeio isso.

- Não gostaria que isso Se repetisse. Você está sobre a minha responsabilidade. Você conhece seu pai, está respondendo a um processo judicial isso pode te prejudicar ainda mais .  Era maluquinha lá fora viu,  mas aqui eu não vou deixar.

- Relaxa. Não faço mais.

- Assim espero. Vou te ajudar em tudo que for possível se colaborar.

- Já te falei, não esquenta. Não vou fumar mais.

- Obrigada.

- É que agora, não consigo ficar tranquila .Minha mentira vai durar até sábado quando o Patrick chegar, até lá , vou ter que pensar em outra coisa.

- Você é esperta. Tenho certeza de que vai conseguir.

                 Os dias iam passando e agora ela tinha Total Liberdade para lidar com o animal. Tob o ex namorado foi visitá-la quinta e sexta feira, mas acabou sendo negligenciado.

- Acho que perdi para um cavalo.

               Ele comentou com Taele, que riu.

- Vem castanha. Vamos dar uma volta.

             O animal atendeu satisfeito ao doce chamado da garota.

Saíram cavalgando e Tob os acompanhava.

- Por que não desce daí e me dá um beijo?

- Hoje estou muito ocupada. Tenho que dar banho no Castanha e preparar o jantar de mais cinco.

                 O ex namorado acompanhava todo o seu dia e segurava a mangueira enquanto ela ensaboava  o imenso animal.

- Não pode deixar isso para depois?

- Não.

            Respondeu seca.

- Estou morrendo de saudades. Antes você dava tudo por um beijo meu.

- Antes eu era uma garota muito irresponsável.

             No sábado ela era toda sorrisos. O pai levou irmãozinho e Pillar  estava grudada nele Desde quando eles chegaram.

- Que bom que você veio com o pai , vasquinho! Achei que não queria mais me ver.

          O pequeno passava a mão no rosto dela com carinho.

- Você não vai mais me bater?

- Não meu amor , pode ficar tranquilo! A mana não vai fazer isso.

- Sua irmã esta mudando meu filho.

- E o meu bolo?

          Ela perguntou travessa.

- Vou buscar.

          O pai prometeu. Quando ele voltou , ela estava corada e os olhos cheios de lágrimas.

-  Meu primeiro bolo de aniversário.

- Você nunca desejou.  Bem , melhor esquecermos isso. O que achou?

- Ele é lindo!

- E que tal assoprar as velinhas?

- Sim papai.

                    Taele e dona Iolanda se juntaram a eles para comemorar e no final daquela pequena confraternização, ela ganhou muitos abraços.

- Feliz aniversario minha querida.

- Obrigada Tata.

- Filha , eu e a  Taele temos uma surpresa para você.

- Para mim?

              Ela arregalou os olhos.

- Sim.

- Querida , só peço que não se assuste. Teremos que vendar seus olhos.

- Por que? Onde vamos?

- Sem perguntas , senão vai perder a graça.

- Tudo bem , vou ser boazinha.

- Calma que é rápido, e você vai gostar.

                 Patrick informou.

- Gostar? Não não! Tenho certeza de que a minha princesa vai amar.

                 Taele apostou.

- Estamos quase chegando lá fora.

- Papi ! Esta muito escuro! Não me deixe cair.

- Estou segurando você.

                  Ela então deixou-se levar pelo pai e o irmão, Taele  acompanhava atrás sorrindo.

- Pode tirar a venda querida.

                 Tata sugeriu.

     Na sua frente estava Castanha todo enfeitado, com laço vermelho no pescoço.

- Uau ! Como ele ficou elegante! Ei rapaz! Você veio participar da festa?

              Riu divertida.

- É o seu presente de aniversário.

- O quê?

           O coração de Pilar começou a bater descompassado. Ela olhava para o pai espantada.

- Se não gostou , podemos trocar.

         Ele brincou. Sinceramente tocado com a emoção da filha.

- Não! Nem brinca com isso! Eu amei! Amei.

- Agora decide se você continua chorando ou ri! As duas coisas ao mesmo tempo não dá!

               Patrick observou.

- Eu paro de chorar! Obrigada papai ! Obrigada.

               Ela soluçou.

- De nada meu amor.

                 Beijou a testa dela com carinho. Castanha encostou o focinho na mão da garota.

- Ai que nariz gelado! Não tenho nada para você comer. Posso dar uma volta nele?

- Vai em frente. Agora ele é todo seu.

               Os três acompanharam para assistir. Era a terceira volta que ela dava na pista profissional.

- Meu Deus! Ela é outra! Eu quase não a reconheço mais.

                Patrick comentou.

- Realmente ela mudou.

                   Taele concordou.

- Onde foi que ela aprendeu a cavalgar assim? Nunca  teve contato com esse mundo e por muito tempo também detestou esses animais.

- Isso só pode ser instinto.

                    Depois de levar o cavalo até o estábulo , ela voltou sorrindo.

- Acho que vou agradecer o resto da vida , nunca fui tão feliz.

- Então filha , acho que chegou a hora de tratarmos de um assunto um pouco chato para você.

- O quê ?

- Suas aulas começam na semana que vem, mas devido ao cumprimento da ordem judicial,  você não poderá se ausentar da cidade, para seus estudos não ficarem prejudicados e eu não quero que tranque a  faculdade, mediatamente eu vou fazer sua matrícula na escola da cidade.

 Você estuda 5 á 6 horas e ao final do dia volta para o haras e também não pode se esquecer de comparecer ao fórum para assinar todas as medidas.

- Ah ! Papai!

-Sem conversa moça. Acabei de realizar uma das suas maiores vontades. Vai contrariar seu pai?

- Não.

              Garantiu de cabeça baixa. Voltou ás aulas , mesmo contrariada e provocou espanto nos colegas que também pediram transferência pra lá. Causou estranheza com suas roupas simples e sentou-se o mais distante possível . Devido aos estudos pesados , não via Castanha a 2 dias e seu coração indomável batia forte por ele , doendo de saudades.

Tob , expôs aquela paixão , exibindo para os colegas uma fotografia que ela deixou cair de dentro do livro.

- Veja pessoal , por quem Pillar me trocou.

- Pillar, você enlouqueceu?

                   Um dos colegas protestou.

- Não me importo com o que vocês dizem. Ele mudou completamente a minha vida.

                    Ela teve uma surpresa. Naquele dia Taele estava esperando na porta da escola. Coisa que o pai nunca fez.

- Oi princesa. Vim te buscar.

- Estava com saudades de mim é?

- Sim . Aquele haras não é o mesmo sem você.

- Aquele juiz gordo e nojento não larga do meu pé. Nem posso sonhar em me ausentar de lá. Estou cansando muito. Trabalho demais e ainda tenho que estudar.

- Mas estou te achando muito triste. Aconteceu mais alguma coisa?

- Tob não me deixa em paz. Pediu uma definição , falei com ele que a gente não ia voltar. Não estou com cabeça para esse tipo de coisa .  Me senti muito mal , mas nós dois não vamos dar certo.

- Estou aqui para te apoiar.

- Obrigada.

                      A primeira coisa que ela fez ao chegar no haras, foi atravessar o campo vasto com Castanha , onde tinha muito capim para ele poder se alimentar.

Quando parou para descansarem , ela aproveitou para observá-lo com encantamento.

A Única coisa que a acalmava sempre que não conseguia dormir , ela ir no celeiro e enchê-lo de beijos.

Era a primeira vez que ela se apegava tanto a algo e tinha muito medo de perder o animal.

Um pressentimento ruim a dominou e na manhã seguinte se confirmou , ao encontrar vários veterinários no estábulo.

- O que houve?

                       Perguntou preocupada.

- Esse cavalo está muito doente. E se a doença continuar a se agravar , vamos ter que sacrificá-lo.

- Não. Não pode ser! Ontem a noite ele estava bem. O que ele tem?

                         Ela chorava angustiada ao ver o bicho deitado , apático , sem qualquer reação.

- Ainda não descobrimos. É uma patologia rara. Temos que fazer alguns exames para detectar. Mas ele tentou avançar e sabemos que um coice dele , estaríamos mortos.

- Não se preocupem. Me digam o que tenho que fazer e eu ajudo vocês.

- Lógico , mas primeiro se controle. Está tremendo demais e não é bom passar insegurança.

- O senhor tem razão.

                        Ela tentava se acalmar.

- Ele é seu?

- Sim.

- Como consegue lidar com um bicho desses? Ele estava uma fera quando chegamos aqui.

- Ele é muito dócil comigo. Não se preocupem. Não correm risco enquanto eu estiver aqui.

                      Ela garantiu aos profissionais.

- Esperamos poder confiar na senhorita.

                       Pillar assobiou.

- Vem Castanha. Vem! Esses senhores precisam se aproximar de você.

                         O animal se levantou fraco e aproximou-se  relinchando. Estava passando muito mal.

 - Vamos Valter. Aplica logo a injeção e vamos acabar com isso.

                         Um dos homens se pronunciou.

Pillar seguia conversando com ele.

- Agora fique bonzinho , porque depois da injeção , um banquete te espera.

                         Ela beijou o focinho do bicho enquanto os profissionais faziam o procedimento. Castanha fixou nela um olhar perdido. O coração da menina congelou. Ela daria tudo para ele não sentir nenhuma dor.

- Como conseguiu isso moça?

                          O veterinário perguntou.

- É que esse cavalo gosta muito de mim. Quando eu cheguei aqui , ouvi dizer que ninguém nunca havia montado nele e eu consegui com apenas 10 dias, tenho certeza que temos um futuro brilhante pela frente.

- Parabéns.

                     Castanha agora estava agitado e se empinava.

- Viram, ele se comportou como um rapazinho.

- Não esperava muito dele quando chegamos aqui.

- A partir de  agora vocês podem deixar comigo . Me diga o que eu tenho que fazer e farei tudo direitinho desde que vocês não sacrifiquem.

- Você pode tentar , mas sozinha eu não acredito que consiga isso.

- Eu posso ajudar.

                         Ruizinho se ofereceu , um jovem funcionário do haras.

 - Você faria isso por nós cara?

                          Pillar perguntou entusiasmada , demonstrando gratidão.

- Claro que sim Patroa. Esse animal sempre me fascinou. Estava esperando a tempos uma oportunidade para me aproximar desse cavalo.

- Então crianças, vou receitar a dieta e as vitaminas. Vamos voltar três meses depois e se ele estiver na mesma... sinto muito.

                          O veterinário prosseguia.

- Não! Ele vai ficar vem.

- Assim espero. Até mais.

                           O rapaz estava mesmo empenhado, ele e  Pilar carregavam fenos. O cavalo obedecia todos os comandos da dona.

- Vem garoto. Vem. Muito bom garotão. Você não pode morrer. Preciso muito de você.

                           Ela beijava o longo pescoço do animal. A avó a interpelou bruscamente.

- Quero que você se desgrude desse animal. Não quero te ver paparicando esse bicho o dia todo. Tem mais coisas a fazer.

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