Ricardo

O silêncio no carro depois que Flávia saiu parecia diferente, mais pesado. Suspirei, passando a mão pelo volante, tentando ignorar o incômodo que permanecia no ar. Mas algo me impulsionou a abrir o porta-luvas—e lá estava.

O pacote de preservativo, ainda grudado ao cartão de Melissa.

Agora tudo fazia sentido. O jeito que Flávia havia me questionado, a expressão que ela tentou esconder, a forma como virou o rosto para a janela sem insistir na conversa. Ela não acreditou.

E como poderia?

Melissa era alguém com quem eu tinha uma história, mas nunca houve compromisso, nunca passou de encontros ocasionais. Nós saímos, ficamos juntos algumas vezes, mas nunca nos envolvemos de verdade. E, faz tempo, muito tempo, que isso havia ficado para trás.

Eu não trairia Flávia.

Mas isso não mudava o fato de que, aos olhos dela, eu já tinha traído.

Fechei o porta-luvas devagar, apoiando a cabeça contra o encosto do banco, soltando um longo suspiro.

Agora, eu precisava encontrar um jeito de conse