Capítulo 4
Eles continuavam a cochichar, lançando olhares carregados de desprezo na direção de Vanessa. Era evidente que aquilo não era segredo para ninguém, era provocação escancarada apenas para ela ouvir cada palavra.

Contudo, Vanessa não se abalou. Em breve, quando a verdade viesse à tona, seriam obrigados a tratá-la com respeito, chamando-a de Srta. Vanessa com todo o devido temor.

O leiloeiro encerrou a venda de uma peça e logo anunciaram a próxima. Era uma escultura em jade. A qualidade da jade era excelente, mas o que fez a plateia murmurar foi a apresentação. Tratava-se de uma obra do lendário José, tido como o mestre das esculturas em jade.

Mal o nome foi pronunciado, Amanda se empolgou, erguendo rapidamente a placa de lances.

— Fred, esse vale ouro! Depois de amanhã é aniversário da sua avó, seria o presente perfeito para ela!

Ao ouvir o nome do mestre José, Vanessa ergueu instintivamente o olhar para a peça. Observou-a por um segundo e desviou o olhar, dizendo num tom tranquilo, quase frio, como um banho de água fria sobre o entusiasmo de Amanda:

— Essa peça é falsa.

Amanda se virou para encará-la, mal contendo a fúria, pronta para soltar um insulto sobre a caipira que ousava desafiar seu conhecimento. Mas, ao ver Frederico ao lado, controlou seu impulso. Ela soltou um sorriso forçado e tentou manter a pose.

— Srta. Vanessa, por que acha que a peça é falsa?

— Porque a verdadeira foi dada de presente pela filha do homem mais rico do país para a avó dela.

A peça original era única, estava na casa dela. Se essa estava no palco, não podia ser legítima.

Vanessa quis, de boa-fé, alertar. Mas Amanda caiu na risada. E, logo depois, os amigos de Frederico seguiram zombando:

— Vanessa, se não entende do assunto, melhor ficar calada mesmo! Está passando vergonha.

— Pois é, dizer que a peça foi dada pela filha do homem mais rico do país, só vivendo no mundo da lua. Por acaso você acha que é parente dela só porque também se chama Vanessa?

As risadas cresceram, só cessando porque Frederico lançou um olhar gelado de advertência. Ele encarou Vanessa, segurando de leve a mão dela, como se quisesse transmitir compreensão, mas suas palavras diziam outra coisa.

— Vanessa, eu sei que você andou lendo alguns livros de apreciação de arte ultimamente, mas a verdade é que ninguém aprende a avaliar de verdade só em livros. Amanda desde pequena frequenta leilões e tem uma experiência enorme em esculturas de jade. É natural que ela entenda mais que você.

A fala não foi ofensiva em tom, e mesmo assim, não restava dúvida de que ele não levava a sério o julgamento de Vanessa. Era como se, para ele, tudo não passasse de imaginação dela.

Vanessa deixou escapar uma risada contida e permaneceu em silêncio.

No fim, Amanda arrematou a escultura de jade, não sem antes erguer o cartão preto metalizado e pagar, sem piscar, o lance de cem milhões.

No instante em que ela deslizou o cartão, Vanessa sorriu de leve.

"Fico curiosa para saber o que Dona Joana vai pensar ao descobrir que ela gastou uma fortuna comprando uma imitação."

Não tentou impedi-la, muito menos parecia preocupada. Ela se levantou com graciosidade em direção ao banheiro.

Acabava de lavar as mãos quando uma voz cortante, carregada de sarcasmo, ecoou atrás dela.

— Vanessa, será que eu não fui clara o bastante com você? Como você ainda tem coragem de aparecer aqui? Está querendo mesmo ser a amante? — A voz de Amanda soou cortante, longe da cortesia que exibia há instantes.

Vanessa ergueu o rosto, encontrando o olhar dela pelo espelho, e respondeu com frieza.

— Srta. Amanda, acho que você devia rever os fatos. Quem está com ele há cinco anos sou eu. Se existe uma amante nessa história, com certeza não sou eu.

Sem perder tempo, Vanessa tentou sair, mas Amanda bloqueou seu caminho, rindo com desprezo.

— Ah, cinco anos juntos e mesmo assim ele não te quis de verdade? Já se perguntou o motivo? Eu sou herdeira da família Fonseca de verdade, ele é o herdeiro do Grupo Pires. A gente nasceu para ficar junto, somos do mesmo mundo. E você? Um pai viciado em jogo, mãe doente, família cheia de problemas... Não tem nada a oferecer. Sinceramente, como você acha que pode competir comigo?

Por um segundo, Vanessa parou. Aquela história familiar absurda só existia porque ela mesma havia inventado como desculpa em outra ocasião. Mas não imaginava que Frederico teria levado aquilo adiante, contado a Amanda aquilo como se fosse verdade.

Ela não conteve uma risada amarga.

"Pois é... Se minha vida fosse mesmo essa bagunça que inventei, o meu 'namorado', aquele que dizia me amar, não seria o primeiro a me apunhalar. Ele só passou a faca para ela."

Ela olhou para Amanda mais uma vez, sentindo uma pontada de dor no peito que ela se recusava a mostrar.

— É, realmente nunca fui páreo para vocês. São feitos um para o outro. — Ela declarou, agora com o sentimento de mágoa se dissipando dentro dela. — Espero que sejam felizes, de coração.

Assim que terminou de falar, Vanessa caminhou para fora antes que a outra pudesse reagir.

Mal havia atravessado o corredor, o celular tocou. Era Paula Rocha, sua mãe.

— Vanessa, volta logo para casa, todo mundo está te esperando! Preparamos uma tonelada de presentes. Seu pai e eu te compramos um castelo no exterior, sua tia conseguiu uma coroa de diamantes que dizem ter pertencido à rainha da Inglaterra... Seu tio trouxe bastantes carros de luxo só para você...

Enquanto Paula desfiava a lista interminável de presentes e exageros, Vanessa quase riu de incredulidade.

— Mãe, eu vou para assumir a herança, não para torrar tudo até não sobrar mais nada!

Mal terminou de brincar, uma voz conhecida soou atrás dela.

— Que negócio é esse de assumir herança?
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