Capítulo 3
Ao ouvir as palavras de Vanessa, Frederico não insistiu mais. Apenas disse com uma tranquilidade gentil:

— Se algum dia o trabalho for pesado demais, volte para casa. Me dói te ver desgastada, exausta desse jeito. Vanessa, você sabe que posso te sustentar.

Mas Vanessa balançou a cabeça, olhando nos olhos dele, cada palavra marcada por uma firmeza inusual:

— Eu não sou propriedade de ninguém.

Frederico ficou surpreso, atordoado por um instante.

— Como assim, propriedade? Claro que não é.

Vanessa nem quis escutar até o fim. Interrompeu, desviando o rumo da conversa:

— E por que hoje você voltou tão cedo? Não foi para a empresa?

Ele relaxou o semblante, tornando-se novamente o namorado atencioso e presente de sempre.

— Ultimamente o trabalho tem tomado tanto tempo, quase não consigo estar com você. Resolvi tirar algumas horas para compensar. O que você quer fazer? Jantar fora? Um filme? Qualquer coisa, só dizer, hoje eu sou só seu.

Talvez a Vanessa de antes teria ficado profundamente tocada por esse gesto. Afinal, ela sabia bem que como herdeiro do Grupo Pires, Frederico vivia atarefado. Ele reservar um tempo para ficar com ela era prova de que, entre tantas prioridades, ela ocupava um lugar importante no coração dele.

Mas agora, ao encará-lo, Vanessa não pôde evitar o pensamento amargo. Será que ele estava mesmo ocupado com trabalho ou era com os preparativos do casamento com outra mulher?

Como Frederico conseguia equilibrar tudo? De um lado, preparava uma vida ao lado de Amanda. Do outro, dizia amar apenas Vanessa, a enchendo de promessas vazias.

No entanto, ela escolheu não desmascarar a mentira. Em poucos dias, desapareceria da vida dele para sempre, sem deixar rastro.

Negando a proposta, Vanessa balançou a cabeça. Por fim, ela sugeriu, numa tranquilidade calculada:

— Prefiro que me ajude com uma faxina geral. Tem muita coisa velha nessa casa. Não faz mais sentido manter tudo.

Frederico sorriu, aceitando sem questionar. Passaram horas juntos organizando o que já não lhes servia. Mas, conforme o tempo passava, Frederico percebeu que tudo o que Vanessa jogava fora eram objetos que eles compraram juntos, sempre em pares: xícaras, adereços, roupas, chinelos... Tudo, sem hesitar, foi para o lixo.

O sorriso dele foi desaparecendo aos poucos, se tornando cada vez mais forçado, à medida que a pilha de lembranças partilhadas ia para a lata de lixo. Quando a última peça caiu no fundo do saco, o desespero tomou conta.

— Vanessa, você... Descobriu alguma coisa?

Ela ergueu as sobrancelhas, com um olhar cortante.

— Descobrir o quê? Tem algo que eu devesse saber?

Frederico desviou o olhar, incapaz de encará-la. Ficou em silêncio por longos segundos. No fim, só teve coragem de segurar a mão dela com força e declarou:

— Não importa o que aconteça, Vanessa, você só precisa lembrar que é você quem eu amo.

Vanessa deu um meio sorriso, mas já não respondeu.

Depois da faxina, o Frederico ainda fez questão de sair com a Vanessa. Com medo dele perceber algo estranho, ela acabou não recusando.

Jantaram fora, assistiram a um filme, até que por fim, chegaram em frente a uma casa de leilões. Assim que estavam prestes a entrar, surgiu uma jovem elegantemente vestida, em um conjunto clássico e maquiagem impecável, caminhando confiante em direção a eles.

Por um instante, Frederico pareceu desconfortável.

Vanessa percebeu imediatamente e comentou:

— O que foi? Encontrou alguém conhecido?

A pergunta mal havia terminado quando a jovem parou à frente deles, sorrindo calorosamente. Frederico foi rápido na apresentação:

— Esta é Amanda, filha de velhos amigos da minha família.

Depois, de modo quase mecânico, completou:

— E esta é minha namorada, Vanessa.

A diferença absurda no tom das apresentações não passou despercebida por Amanda, cujo sorriso vacilou por um segundo. Ainda assim, recuperou a compostura e, com toda elegância, estendeu a mão.

— Sempre ouvi dizer que a namorada do Fred era linda. E, realmente, a fama faz jus à realidade.

Antes que Vanessa pudesse responder, um grupo se aproximou. Eram os mesmos amigos que, no dia anterior, haviam feito piada com ela em francês. Disfarçando, deram uma piscadela para Frederico.

Só então ele percebeu toda a armação. Aquela coincidência não era nada acidental. Era uma encenação minuciosa, com Amanda no papel principal.

Consumido pela raiva, Frederico precisou se controlar. Ali, qualquer explosão só pioraria as coisas. Segurou-se como pôde.

No leilão, Amanda foi posicionada cuidadosamente ao lado de Frederico. Ao contrário do veneno impresso nas mensagens, no mundo real ela se mostrava polida, gentil e inteligente. Descobrindo o interesse de Frederico por porcelanas, mergulhou com ele no assunto, e Frederico, antes tão frio, foi baixando as defesas, inclinando-se em direção a ela.

Só voltou a si quando um súbito pigarro de Vanessa o fez se lembrar de sua existência. Desajeitado, tirou o blazer e colocou delicadamente sobre os ombros dela.

— Sentiu frio? Assim está melhor? Sei que você não liga para essas coisas, mas caso se interesse por algum item, é só pedir.

Os sussurros dos amigos, sentados logo atrás, chegaram nitidamente aos ouvidos de Vanessa. Eles tentavam ser discretos, mas a proximidade traía.

— Fred está mesmo tentando salvar a imagem da Vanessa. Mas ela não entende de nada disso! Aposto que nem sabe como funciona o leilão direito, haha...

— Pois é. Primeira vez dela num evento desses, com certeza.
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