Vanessa se sobressaltou, desligando o telefone por reflexo. Não conseguiu evitar o pensamento: por que essas pessoas têm a mania de surgir por trás dos outros para falar?
Ela se virou e logo deu de cara com Frederico. Sua expressão não era nada agradável.
Após um breve silêncio, Vanessa se explicou:
— Não é nada, só uma ex-colega perguntando o que eu vou fazer agora que saí do trabalho. Brinquei dizendo que ia voltar para casa assumir herança.
Frederico franziu ainda mais o cenho. Vanessa nunca foi de brincar desse modo. Sentia que havia algo estranho, mas antes que ele pudesse perguntar, Vanessa já se adiantava, chamando por ele:
— Não vem? Ainda faltam algumas joias para serem exibidas.
Imaginando que Vanessa quisesse comprar algumas das joias, Frederico apenas acenou e a seguiu.
De volta ao salão do leilão, Frederico arrematou todas as peças de joia restantes por preços altíssimos e as mandou embrulhar para entregar diretamente a Vanessa.
Vanessa olhou para as caixas nas mãos e murmurou baixinho:
— Eu não uso essas joias.
Frederico sorriu, bagunçando levemente os cabelos dela e comentando:
— Vai se acostumar. Não precisa economizar, prometo que vou te dar diamantes pela vida inteira.
Vanessa abriu a boca, mas não disse nada. Não usava joias comuns de milhões, as joias dela, cada peça valia dezenas ou centenas de milhões.
O leilão terminou, e as pessoas começaram a sair. Frederico e Vanessa também não demoraram para ir embora.
Como cada um tinha vindo com seu próprio carro, seria natural cada um seguir para sua casa. Mas, assim que entraram no carro, antes mesmo que ligassem o motor, alguém bateu na janela do carona.
O vidro desceu, revelando Amanda, com uma expressão de timidez completamente diferente da mulher arrogante que Vanessa havia enfrentado no banheiro.
— Fred, meu carro pifou, você pode me levar para casa?
Frederico hesitou e ia recusar, mas Amanda insistiu:
— Seus pais pediram que você cuidasse de mim. Você não esqueceu, né?
Frederico pareceu se lembrar de algo, fechou a cara e, a contragosto, concordou.
Amanda sorriu, satisfeita algo além do razoável, e logo se virou para Vanessa:
— Mas eu enjoo no banco de trás, e agora?
Frederico olhou para Vanessa, mas, antes que dissesse qualquer coisa, Vanessa já tinha saído do carro e trocado de lugar, sentando-se no banco traseiro. Tudo com uma naturalidade que deixou Frederico sem reação.
Ele engoliu as palavras que estavam prestes a sair, constrangido. Olhou para Vanessa pelo retrovisor, e ela já mantinha os olhos fechados como se quisesse apenas descansar.
Amanda entrou sorrindo e, ao notar Vanessa quieta lá atrás, curvou os lábios num sorriso vitorioso. "Vanessa, mesmo que ele ainda goste de você. No fim, tudo o que eu quiser vai acabar sendo meu. O coração dele também, mais cedo ou mais tarde, será meu." Pensando nisso, Amanda se sentiu ainda melhor, e, com voz doce, disse olhando para Frederico:
— A Srta. Vanessa está cansada? Deixe ela descansar um pouco.
Notando o estranho silêncio de Vanessa, Frederico não quis prolongar o assunto com Amanda. Apenas acenou que sim e dirigiu em silêncio.
Vanessa, sem perceber, acabou adormecendo. Quando abriu os olhos, já estavam na garagem da mansão da família Pires e Amanda já tinha ido embora.
Frederico acariciou seu rosto e disse em tom suave:
— Acordou? Você estava dormindo tão bem que não quis te acordar.
Ainda sonolenta, ela só acenou, abriu a porta e saiu, indo direto para a entrada sem esperar por ele.
Quando Frederico saiu do carro, ela já tinha chegado à porta. Ele a alcançou depressa, bloqueando seu caminho, ansioso.
— Está brava? Amanda é só filha de amigos da família, você sabe disso.
Vanessa apenas acenou com a cabeça.
Ele pensou que ela ainda estivesse aborrecida, segurou-a pela mão, tentando convencer:
— É sério, só você importa para mim. Você sabe disso, amor.
O cheiro de rosas vindo dela, a lembrança de quanto tempo haviam passado sem se aproximar... Frederico sentiu o desejo lhe subir pela garganta, ele se inclinou para beijá-la, mas Vanessa o empurrou friamente e entrou direto, se trancando no quarto.
— Estou de TPM. Quero descansar. — Ela disse, trancando a porta e isolando Frederico de qualquer possibilidade de se aproximar.
Na manhã seguinte, Vanessa e Frederico estavam tomando café na sala de jantar quando o celular dela, deixado de lado sobre a mesa, tocou de repente.
Era um alarme que ela tinha programado semanas atrás, com uma anotação lembrando do dia marcado para apresentá-lo aos pais.
Frederico não deixou de notar a mensagem na tela.
Dias antes, ela tinha planejado revelar sua verdadeira identidade a ele e, por isso, sugeriu que ele conhecesse seus pais, convite que ele aceitou sem hesitar.
Os dois trocaram olhares significativos. Justo quando Vanessa estava pensando em como desmarcar esse encontro, o celular dele começou a tocar. Era Amanda na linha.
O que tivesse sido dito do outro lado da chamada fez com que a expressão dele mudasse sutilmente. Quando voltou a se aproximar de Vanessa, com um semblante claramente constrangido, ele mesmo acabou cancelando o compromisso.
— Vanessa, surgiu um imprevisto, não vou poder te acompanhar para conhecer seus pais. Fica para próxima, tá?