O Inferno sempre muda de forma conforme o humor de seu soberano.
Naquela noite — ou no que o Inferno chama de noite —
as chamas estavam baixas, o ar pesado, a escuridão pulsante,
como se o próprio espaço estivesse aguardando notícias.
No centro da grande sala de recepções —
um salão circular de pedras vivas que se moviam como criaturas dormentes —
Satanás aguardava, sentado em seu trono de raízes queimadas.
Aos pés do trono, uma mesa feita de ossos petrificados se iluminava sozinha,
registrando tudo o que seria dito.
Era a Mesa de Memórias, onde o próprio Universo anotava o mal executado.
As chamas se abriram ao meio.
A família-lobisomem chegou.
Não caminhavam: surgiam como fumaça condensada,
depois tomavam forma humana,
cada qual ainda com os olhos prateados do ataque recente.
O Diabo inclinou a cabeça.
— Voltemos ao trabalho, meus queridos.
Sua voz soava como pedras rangendo.
— Vamos aos relatórios. Como foram os ataques?
O mais velho do grupo deu um passo à frente.
— Na Áf