Ela…
Voltei para casa naquela tarde com os pés leves, mas a alma exausta.
Não exausta como antes, não daquele cansaço que paralisa, que me fazia querer me esconder debaixo das cobertas e desaparecer do mundo.
Não.
Era um cansaço diferente. Quase doce.
Quase libertador.
Como quem termina uma longa corrida depois de atravessar um deserto em chamas.
O silêncio da casa me recebeu como um velho amigo.
Não havia sombras me espreitando nas paredes, nem vozes do passado ecoando nos cômodos.
Pela primeira vez, em muito tempo, tudo estava quieto.
Dentro e fora de mim.
Coloquei a bolsa sobre a poltrona, tirei os sapatos e caminhei pela casa como quem pisa em terra firme após anos naufragando por dentro.
As paredes eram as mesmas, os móveis não mudaram.
Mas havia algo novo no ar.
Eu.
Sentei na beirada da cama e olhei para minhas mãos.
Eram as mesmas que já tremiam de medo, de raiva, de culpa.
Agora, estavam