AVA
A festa de gala da Pierce International transbordava luxo e ostentação. Homens de ternos bem cortados e mulheres com vestidos cintilantes desfilavam sob lustres de cristal, enquanto o som suave de um quarteto de cordas se misturava ao tilintar das taças de champanhe. Mas, para mim, nada daquilo importava. Meus olhos procuravam somente uma coisa: Caleb.
Ver ele ali era um choque. Festas como essa eram restritas à nata do império corporativo — e Caleb, embora sempre presente, era invisível aos olhos do mundo.
Era meu segurança.
Meu.
Mais cedo, o vi encostado no bar, rindo com um executivo, como se pertencesse àquele lugar. A luz âmbar dos lustres realçava seus traços marcantes, e o sorriso despreocupado fazia meu estômago se revirar. Estava lindo — como sempre. Inalcançável — como nunca deveria ter sido.
Cada passo que eu dava entre os convidados era guiado por um fio invisível de esperança. Talvez ele estivesse confuso. Talvez ainda sentisse algo. Talvez…
— Você deveria esquecê-lo — murmurou Serena ao meu lado, a taça cintilando entre seus dedos perfeitamente esmaltados. — Caleb foi um canalha. Não merece seus suspiros.
Suspirei. Tentei não concordar, mesmo que uma parte de mim gritasse que ela tinha razão. Desde aquela noite no parque, quando ele partiu meu coração sem qualquer hesitação, comecei a enxergar quem ele realmente era: um homem que me seduziu com mentiras doces e olhos intensos, somente para me usar e descartar. E, ainda assim, bastava vê-lo para tudo vacilar.
Como agora.
— Falando no diabo… — Serene sussurrou, virando o rosto.
Caleb atravessava o salão, sozinho, com passos largos e postura relaxada. Ao chegar ao início de um corredor lateral, lançou um olhar por sobre o ombro. Um convite mudo. Como tantas vezes antes.
Atravessei o salão entre colunas de mármore polido, arranjos florais exagerados e risos escorregadios. Meu coração martelava como um tambor de guerra. Quando percebi, já estava em um corredor mais discreto, distante do burburinho. E Caleb… havia sumido.
Uma porta entreaberta à esquerda chamou minha atenção.
Ele odiava aglomerações. Talvez estivesse ali. Talvez quisesse me dizer algo. Me explicar.
Respirei fundo, juntei coragem e empurrei a porta com cuidado.
No início, minha mente se recusou a entender o que via. Caleb não estava ali.
O ambiente era silencioso e imponente: um escritório clássico, com móveis escuros que exalavam o cheiro intenso de couro e verniz. Cortinas espessas bloqueavam a luz externa, e um aparador com garrafas de uísque e copos de cristal reluzia num canto.
Passos ecoaram no corredor.
Vozes. Risos abafados. Alguém vinha.
Fechei a porta num impulso e olhei em volta, desesperada. Não havia saída. Só a mesa ao centro da sala, larga e com um painel de madeira na frente. Me agachei atrás dela, torcendo para que ninguém me visse ali.
A maçaneta girou.
Meu coração parou.
A porta se abriu com um clique sutil, seguido pelo som de dois corpos entrando. Uma mulher riu, e o timbre masculino que respondeu me arrepiou. Grave, rouco, com uma confiança fria que escorria pelas palavras.
— Você está diferente hoje — disse ela, com um tom provocante.
— Culpado — ele respondeu, com uma ironia preguiçosa que me fez prender a respiração.
A conversa se dissolveu em murmúrios. Beijos molhados. Risos abafados. O som da roupa sendo ajeitada às pressas. E eu ali, imóvel sob a mesa, com o rosto em chamas. Eles estavam perto. Tão perto que eu podia sentir a vibração das pisadas no chão de madeira.
E eu… presa.
— Vou servir algo para nós — ele disse, a voz arrastada, como veludo sobre lâmina.
Ouvi seus passos se afastando pelo piso de madeira encerada. Pela fresta entre o tampo da mesa e o chão, o vislumbre que tive me fez prender o fôlego: ele caminhava até o aparador de bebidas com uma elegância natural, quase perigosa. O terno escuro delineava seu corpo alto com precisão cirúrgica. Seus ombros largos. A postura ereta. O ar de quem nasceu para ser obedecido.
Impossível ignorar a presença dele — como uma corrente elétrica que percorria o cômodo inteiro.
Fiquei imóvel, cada músculo tenso, o coração martelando contra minhas costelas como se quisesse escapar do peito.
Ele abriu uma garrafa. O líquido tilintou contra o cristal.
E então, como se o universo tivesse um senso de humor cruel, ele se virou.
Meus olhos encontraram os de Sebastian Pierce.
Um segundo.
Dois.
Uma eternidade.
O mundo pareceu desacelerar. Havia algo nos olhos dele — um azul cortante, glacial, inumano de tão preciso. Eles me atravessaram como lâminas, e eu soube, naquele instante, que ele não era como os outros.
Primeiro veio a surpresa, leve, uma ruga na testa perfeitamente desenhada. Depois, o interesse. Um brilho afiado no olhar, como se tivesse acabado de encontrar algo… divertido.
A mulher atrás dele ainda mexia no vestido, distraída, murmurando qualquer coisa sobre a bebida.
— Me dá um minuto? — ele disse, cortês, frio, impecável.
Ela hesitou, soltou uma risadinha fingida de desdém e saiu rebolando, sem perceber nada. A porta se fechou atrás dela com um clique seco.
O silêncio que se seguiu era vivo. Denso. Tenso.
Não ousava respirar.
Passos lentos.
Ele se aproximou da mesa com a calma de quem tem o controle. Cada movimento calculado, como se caçar fosse uma arte refinada. Quando parou à minha frente, inclinou-se só o suficiente para me ver. Seus olhos desceram, encontraram os meus de novo.
E ele sorriu.
Um sorriso enviesado, quase cruel. Lento. Como se tivesse descoberto um segredo. Como se eu fosse o segredo.
— Posso saber — disse ele, a voz baixa, quase íntima. Seu olhar percorreu meu rosto com precisão desconcertante — quem é a senhorita e o que faz escondida debaixo da minha mesa?
Meu corpo gelou. Meu cérebro tentou desesperadamente encontrar palavras, explicações, qualquer coisa que fizesse sentido.
Nada veio.
Naquele instante, eu soube duas coisas com clareza absoluta:
A primeira — ele não fazia ideia de quem eu era.
A segunda — eu estava completamente, irrevogavelmente, encrencada.