Capítulo 8

Enquanto Yágilla falava, o celular de Kassandra vibrou insistentemente em sua bolsa. Era Andy. Ele estava ligando sem parar desde que ela havia saído. O som das chamadas, somado à proposta inesperada de Yágilla, fez a cabeça de Kassandra girar. A mistura de alívio e aterrorizante familiaridade com a situação a deixou em pânico.

— Yágilla... — Kassandra disse, a voz quase inaudível, o olhar desviando-se para o celular que não parava de tocar. — Eu... eu preciso pensar melhor.

Ela se levantou abruptamente, com o rosto pálido.

— Me desculpa, de verdade. Eu agradeço muito a sua oferta, a sua ajuda, o seu acolhimento... Mas eu preciso ir embora agora.

Kassandra saiu apressada em direção à porta, sem dar tempo para Yágilla reagir. Yágilla, percebendo a urgência e o desespero nos olhos de Kassandra, rapidamente pegou a carteira.

— Espera, Kassandra! Deixa eu pedir um Uber para você.

Yágilla rapidamente chamou o carro pelo aplicativo enquanto Kassandra esperava na porta, ainda trêmula. Assim que o carro chegou, Kassandra entrou, ainda meio atordoada, e o Uber partiu com a corrida paga por Yágilla.

Após a saída abrupta de Kassandra, Yágilla ficou preocupada, ela decidiu conversar com Valentino sobre a situação, esperando encontrar nele o mesmo apoio que havia oferecido a Kassandra.

— Valentino, preciso conversar com você sobre a Kassandra — Yágilla começou, sentando-se ao lado dele no sofá.

Ela explicou a vulnerabilidade de Kassandra, a história do relacionamento dela com Andy, as traições e a situação do dinheiro, as dividas. Por fim, mencionou a perda do bebe e o fato de Kassandra não ter para onde ir.

A expressão de Valentino endureceu à medida que Yágilla falava. O semblante gentil de antes deu lugar a uma carranca.

— Yágilla, eu não gostei nada disso — ele disse, com a voz séria.

— Não quero me meter na vida do Andy, e muito menos nas brigas dele. Ele é meu colega, e essa história pode atrapalhar nossos negócios.

Ele se levantou e começou a andar de um lado para o outro na sala.

— E, sinceramente, Yágilla, boa coisa essa Kassandra não deve ser. Eu a vi lá em casa com o Andy, e a forma como ela apareceu aqui... Quem entra na casa dos outros assim? Se ela está passando por isso, alguma coisa ela fez. Não vamos nos envolver. É melhor você se afastar e esquecer essa história.

Yágilla tentou argumentar, mas Valentino estava irredutível, sua raiva crescendo com a ideia de que a situação de Kassandra pudesse impactar sua vida ou seus negócios.

Apesar da repreensão do marido, Yágilla não conseguia tirar Kassandra da cabeça. A história que ela contara, a tristeza em seus olhos e a repentina fuga a deixaram com uma pulga atrás da orelha.

— Tudo bem, Valentino — Yágilla respondeu, embora sua voz carregasse uma determinação silenciosa. — Entendo seu ponto. Mas eu vou investigar isso melhor. Tenho um pressentimento de que há mais nessa história do que parece.

Enquanto isso, o Uber deixou Kassandra em frente ao prédio de Andy. Ela subiu pelo elevador de serviço, o coração batendo forte no peito. Assim que abriu a porta do quarto que dividia com Andy, um cenário de destruição a atingiu. Suas roupas estavam todas espalhadas pelo chão, rasgadas, sujas e até mesmo cortadas. Sapatos jogados, objetos pessoais quebrados. Um grito de desespero escapou de sua garganta.

Antes que pudesse processar o que via, Andy surgiu na porta, com os olhos vermelhos de fúria e o corpo exalando cheiro de álcool.

— O que você estava fazendo fora, sua vagabunda? — ele rosnou, avançando sobre ela.

Kassandra recuou, mas não foi rápida o suficiente. Ele a segurou pelos braços com força, chacoalhando-a.

— Você acha que pode me desafiar? Sair por aí falando mal de mim?

O tapa no rosto de Kassandra veio antes que ela pudesse responder, seguido por empurrões que a fizeram cair no chão, em meio aos restos de suas roupas. A dor física e a humilhação eram insuportáveis. O terror se instalou em seu peito. Andy estava descontrolado.

Em choque, com o corpo tremendo e as lágrimas escorrendo sem controle, Kassandra mal conseguiu se levantar do chão. A dor da cirurgia recente parecia triplicar com a agressão. Sem pensar, ela se arrastou para fora do apartamento, fugindo daquele inferno. Não tinha para onde ir, mas a única certeza era que não podia ficar ali.

Ela vagou pelas ruas da cidade, sem rumo, com as poucas coisas que conseguiu salvar e a alma dilacerada. A noite caiu, e com ela o frio e a sensação de desamparo aumentaram. Kassandra caminhava por um bairro que não conhecia, um lugar que exalava perigo, na tentativa desesperada de encontrar a casa de uma amiga distante que talvez pudesse abrigá-la.

De repente, dois homens se aproximaram em passos rápidos, vozes roucas exigindo o que ela tinha. O celular, a pequena quantia de dinheiro. O pânico a invadiu. Ela estava encurralada, indefesa.

Quando parecia que tudo estava perdido, uma voz forte ecoou atrás dela.

— Ei! Deixem a moça em paz!

Um rapaz alto e corpulento se jogou contra os assaltantes. Ele era Ayrton. A briga foi rápida e violenta. Ayrton, mesmo em desvantagem numérica, lutou com bravura, mas os dois agressores conseguiram atingi-lo antes de fugirem. Ele caiu no chão, gemendo de dor.

Kassandra, aterrorizada, viu o sangue escorrer do rosto de Ayrton. Ele, que havia acabado de salvá-la, agora precisava de ajuda. Sem hesitar, apesar da própria dor e do medo, ela se ajoelhou ao lado dele.

— Você está bem? Meu Deus, eu preciso chamar uma ambulância! — ela exclamou, a voz embargada.

Ayrton mal conseguia falar, mas indicou com a cabeça que ela ligasse. Em pouco tempo, a ambulância chegou e levou Ayrton para o hospital. Kassandra o acompanhou, sentindo uma estranha mistura de culpa e gratidão por aquele desconhecido que havia arriscado a vida por ela em um bairro perigoso.

No hospital, Kassandra ficou com a família de Ayrton, que estava muito aflita e preocupada. Todos choravam muito, tristes. Ele parecia ser muito querido por todos. Kassandra permaneceu quieta o tempo todo, sem sair de perto da mãe dele. As pessoas cochichavam e comentavam sobre ela, e ela percebia os olhares.

Horas depois, veio a notícia de que Ayrton estava estável, mas não podia receber visitas. Havia quebrado o braço e tido várias escoriações. Um irmão dele disse a Kassandra para ir embora, pois ela não era da família e não tinha por que ficar ali. Kassandra também não tinha para onde ir.

— Eu estou preocupada com o Ayrton e gostaria de ficar aqui até ele acordar — ela respondeu.

A mulher desse irmão, a nora, disse a Kassandra baixinho, longe da mãe de Ayrton:

— Moça, você não é bem-vinda aqui. Por sua causa isso aconteceu, e ninguém aqui te conhece. Você mesma disse que nunca viu o Ayrton na vida, não tem por que você continuar aqui. Faz assim, me passa seu contato e eu te ligo quando ele acordar.

Kassandra viu que estava sobrando, e não estava nada bem. Achou melhor respeitar e deixá-los. Disse à mãe de Ayrton que ia beber água e saiu para fora do hospital. Era madrugada, e seu celular estava sem bateria. Sentou-se em um banquinho ao lado do hospital e ficou lá o resto da noite. Ela não tinha um real no bolso, sem celular, sem dinheiro, sem rumo algum. Seu corpo doía inteiro por causa da agressão de Andy. Ficou ali pensando na vida.

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