As lágrimas que escorriam pelo rosto agora se misturavam ao suor que descia pela testa. Seus pés começaram a latejar, o desconforto logo virou uma dor quase insuportável. O salto fino enroscava em rachaduras do asfalto e a cada passo parecia cortar a sola dos pés e torcer os tornozelos. Melia sentia o couro da sandália começar a abrir feridas em carne viva.
Mesmo assim, não parou. Nem por um segundo.
A cada rua que atravessava, sentia a memória arrastá-la de volta no tempo. Onze anos. Um quarto pequeno em Obsidian. Sua mãe segurando sua mão com força, arrastando-a para fora da casa das escravas no meio da noite. As duas correndo descalços pelo mato úmido, o cheiro de fumaça e sangue no ar.
Ela se lembrava do som dos lobos de Van Smaill uivando ao longe, perseguindo-as como caçadores atrás de presas. Lembrava da voz dele gritando que iria marcá-la, que ela pertencia a ele, mesmo sendo só uma criança.
“Um dia você vai ser minha, Melia. É seu destino.”
— Não... não de novo... — ela chora