Klaus
O pensamento na belíssima mulher de olhos cor de esmeralda e riso como o som das águas tranquilas voltou sem esforço. Envolto numa nostalgia dolorosa, engoliu em seco.
— Seja mais clara, Hilda, antes que eu fique paranóico.
Ela riu, achando graça e olhando para os lados, chamou-o para perto de si. Sussurrou:
— Os Petrakis estão participando do festival, então por curiosidade fui checar os expositores inscritos e adivinha o que descobri?
Os olhos de Klaus cintilaram de esperança. Hilda balançou a cabeça positivamente, decifrando a fisionomia surpresa do amigo.
— Sim, sua amada Alyssa participará do evento com um dos irmãos... Saulo. E o melhor, sem o demônio do pai dela para atrapalhar o caminho.
Ele endireitou o tronco devagar. A confirmação do milagre o deixou estarrecido. A notícia mais desejada, em meio ao sucesso. O coração batia num compasso tão acelerado, que gaguejou:
— A-Alyssa? Sério?
— Yup! — Hilda exclamou, ao movimentar o braço para baixo, como se tivesse puxando a corda da felicidade. — É, cara, você está com muita sorte!
" Sorte?" Reencontrar Alyssa era uma coisa, ser aceito por ela, não sabia dizer.
— Tomara que esteja certa.
Ele voltou a pensar nela. Alyssa, sua ex-mulher, filha de Heitor Petrakis, o mais importante magnata do azeite na Grécia. Ela escorregou de sua vida de maneira brusca e por mais que tentasse recuperar o seu amor, ela saiu de Atenas após o divórcio e foi para Paris, sem permitir contato algum.
Ressurgir no festival dava-lhe a chance que precisava para reconquistá-la. Não sabia se teria melhor chance, embora o evento só durasse três dias. Era tudo ou nada.
Hilda estalou os dedos para tirá-lo das divagações.
— Terra chamando Klaus!
Ele piscou repetidamente, antes de perguntar, num tom de ansiedade.
— Onde mesmo está o stand dos Petrakis?
Hilda revirou os olhos em desaprovação.
— Klaus, você nem pense em abordar Alyssa sem mais, nem menos. Precisa ser sutil, seu tolo ou, se não, vai se dar mal.
Ele coçou o queixo, uma mania quando ficava ansioso e perguntou:
— E o que você sugere? Não tenho cabeça pra pensar em nada sabendo que ela vai estar aqui.
Hilda voltou a esboçar um sorriso misterioso e com uma piscadela, sussurrou:
— Deixa comigo!
E foi saindo, cantarolando, sem dar chance a Klaus de perguntar o que ela estava planejando. Por enquanto, teria que se contentar como se fosse expectador de um filme de suspense, só que no caso, ele era o protagonista.
Em meio a multidão, Klaus deu uma volta de 360 graus, perguntando-se qual seria o stand dos Petrakis. Sabia que Hilda tinha razão, devia evitar excessos, mas uma coisa era certa: não ficaria de braços cruzados.
Não ia deixar nenhum nó desatado dessa vez e quem sabe ela o perdoasse? Antes porém, a pergunta que não calava: Qual seria a reação de Alyssa ao revê-lo?
Resolvido a responder aquela questão, virou-se para o lado oposto do seu stand e seguiu para ao menos ver de longe a mulher amada.
Enquanto caminhava, ignorava alguns olhares sedutores e murmúrios audaciosos. O seu coração pertencia única e exclusivamente a uma mulher e não havia espaço para outra. E quanto a Alyssa? Ela tinha outro alguém? Se ela o superou, tudo estaria perdido.
Ao aproximar-se do stand, avistou Saulo. Ele tecia explicações sobre o azeite Petrakis, exposto em vários formatos para os visitantes. Além dele, havia algumas funcionárias. Uma delas exibia uma tela com imagens de como o azeite poderia ser consumido em pratos da culinária e outras, ofereciam na degustação algumas receitas com o uso do azeite.
Para sua decepção, nenhum sinal de Alyssa. Será que ela desistiu de ter vindo e não informou à organização do evento?
Saulo o avistou de longe. Sem esboçar surpresa, acenou com um sorriso contido nos lábios. Falou algo para uma das funcionárias e foi até ele.
— Olá, Klaus! Que bom revê-lo.
Eles se deram as mãos em cumprimento. Klaus se surpreendeu com a receptividade do ex-cunhado. O que havia mudado? Saulo não sabia o que ocasionou o término do casamento?
— Igualmente, Saulo!
Os dois ficaram se olhando, como se andassem numa corda bamba e com medo de cair num abismo.
— Veio com seus irmãos? — Arriscou não entrar diretamente no assunto do seu interesse.
— Ah, não. Lucca está com uns compromissos inadiáveis na empresa de Nova York e Damon ficou em Atenas para dar suporte de lá, pois também está sobrecarregado de serviço e então sobrou pra " o papai aqui".
A postura amistosa do Petrakis o incentivou a continuar conversando.
— Entendi... Você consegue, é claro. É tão competente quanto seus irmãos. Tenho acompanhado sua evolução na empresa de Paris.
— Obrigado. E você também está dando um show de empreendedorismo. Meus parabéns!
Klaus agradeceu e não contendo a ansiedade, perguntou por Alyssa.
Saulo desviou o olhar, hesitante. Klaus voltou a repetir, insistindo:
— E Alyssa?
— Ela veio comigo. — respondeu sem fitá-lo diretamente nos olhos. — Imagino que está pra chegar.
Ao confirmar que Alyssa participaria do evento, deu vontade de pular de alegria, mas disfarçando a agitação emocional, comentou com falsa calma:
— É bom saber disso. Ela está bem?
— Ah, normal... — E com ar de confidência, disse: — Se quer saber se ela continua solteira, a resposta é sim.
Agradecido pela informação surpreendente, Klaus confidenciou de volta:
— Eu também. — E suspirou, ainda com o sabor da satisfação pairando nos lábios. Gostaria de aprofundar mais a conversa, mas percebendo vários visitantes no stand de Saulo e as funcionárias acenando para que ele retornasse, resolveu encerrar o diálogo — não vou mais tomar o seu tempo, a gente se ver por aí.
— Claro! Até mais.
Com o coração repleto de amor e de esperança, Klaus caminhou um pouco até ficar num lugar estratégico. Não ia perder de vista a chance de pedir perdão e reconquistar o seu amor e para isso arriscaria qualquer coisa para tê-la de volta.