POV MASON
Anos haviam se passado, mas tempo nenhum é o suficiente para apagar aquelas memórias que parecem que consomem nossas almas. Aquelas que deixam marcas e se tornam uma obsessão.
Vingança era uma obsessão.
E ela parecia tão fácil…tão acessível…
Ela estava bem ali na minha frente, colhendo flores em uma campina, com seus cabelos loiros avermelhados sendo soprados junto com o vento e brilhando sob a luz da manhã. Era muito cedo, o sol mal tinha acabado de nascer e ela parecia ter surgido junto com ele.
A filha do Alfa da alcateia lua de sangue. Ela vinha pelo menos a cada dois dias naquela campina, e no começo eu não sabia quem ela era…ou quem eram seus pais. Eu nunca falei com ela, só observava a distância vendo a forma que ela dobrava margarida por margarida até fazer a coroa de flores perfeita. A forma que ela passava a mão em seus cachos rebeldes, ainda mais rebeldes pela brisa de verão.
Quando eu descobri quem ela era e sobre a sua família, de repente ficou tudo tão fácil, ao alcance das minhas garras. Foi como se o universo estivesse me dando exatamente o que eu tanto queria, enrolado em um laço de fita.
Essa era a minha chance de vingança. A minha chance de fazê-los pagar por tudo que tinham feito.
Depois, foi mais fácil ainda se aproximar dela. Toda a sua inocência, suas ambições fáceis de serem atingidas, a forma como ela se derretia por qualquer gracejo que eu oferecia, a fazia parecer tão…desesperada.
Foi só me aproximar ali mesmo naquela campina.
No começo parecia que ela não cederia tão fácil, mas então os dias foram passando e eu comecei a reparar em como ela começou a frequentar ainda mais aquele lugar especial, sabendo que eu estaria esperando por ela bem ali.
Tentei não ficar surpreso com o quanto as coisas estavam progredindo rápido, e quando o casamento já estava marcado, tendo levado muito menos tempo do que pensei que iria levar, eu sabia que já estava com as garras fincadas exatamente onde queria. Agora eu só precisava agir.
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Eu estava agora no quarto da minha atual matilha. Meu tio é o alfa agora, desde muito tempo e juntos conseguimos salvar o pouco que havia restado da matilha da Lua crescente. Não foi fácil, mas tínhamos alguma coisa agora, depois de tudo que aconteceu.
Alguém b**e em minha porta. Meu smoking estava estendido na cama enquanto eu apenas encarava ele pensando no casamento que aconteceria em pouco mais de uma semana. Já estava tudo pronto, e nada parecia estar perto de dar errado e eu nem deixaria que desse.
Cortei meus pensamentos e fui até a porta, e assim que a abri fui surpreendida com uma forma de cabelos pretos se jogando em cima de mim.
-MASON, você não pode..não pode se casar com ela. Eu não vou deixar você fazer isso! - Ela fala pra mim com uma voz chorosa.
-Lorena, eu preciso fazer isso. Você deveria saber o quanto eu tenho esperado por esse dia.
-Não! Como sua amiga mais antiga, e a sua VERDADEIRA futura esposa, eu te proíbo de continuar com esse casamento estupido! - ela coloca as duas mãos em meu peito e empurra com força enquanto chora. Eu seguro seus pulsos e a faço olhar para mim.
-Nada vai me impedir.- Eu digo da forma mais calma que consigo, tentando não piorar a situação. - Você sabe que tudo isso é apenas pra conseguir minha vingança, não chegaremos sequer a parte do casamento. Pare de chorar, se recomponha e vá lavar esse rosto. Tudo isso vai acabar logo, eu prometo.
Ela faz biquinho e continua me encarando. Essa não é a primeira vez que ela tenta me convencer de algum jeito, e não duvido que também não seja a última. Ela solta um bufo de raiva.
-Eu acho ser mesmo só por essa vingança. Essa garotinha idiota não merece casar com você. -Ela fala e simplesmente saí porta afora não querendo mais conversar sobre isso, mas parecia satisfeita com a minha resposta, pelo menos por enquanto.
Depois que Lorena saiu, foi a minha vez de sair da minha casa de matilha e visitar a de Jude. Ela estava no seu lugar de sempre, o mesmo que eu havia encontrado ela pela primeira vez.
Quando eu chego e a vejo ela estava usando um vestido branco repleto de pequenas flores, e eu me aproximei sorrateiramente por trás.
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POV JUDE
-Consegue adivinhar quem é? - Uma voz que eu reconheço perfeitamente me pergunta, com as mãos tapando seus olhos.
-Não tenho ideia, talvez se você me der alguma pista.
Ele se aproxima do meu ouvido e sussurra para mim
-Você está tão linda com esse vestido, está tentando se misturar com a paisagem? Eu poderia te confundir com uma das flores.
Sem que ele solte as mãos dos meus olhos, eu me viro e meus lábios encontram os seus em um beijo apaixonado.
Quando encerramos o beijo, estou ofegante, sorridente e suas mãos não estão mais cobrindo meus olhos.
-Você está bem? -Pergunto para Mason, que não parecia mais tão sorridente de repente, como se estivesse pensando demais.
Ele acaricia o meu rosto e abre um sorriso maior que dessa vez vejo chegando aos seus olhos.
-Como nunca.
O beijo mais uma vez, dessa vez rápido, e logo depois pego sua mão, o arrastando, na verdade correndo animadamente pela campina em direção a minha casa.
-Venha, minha mãe acaba de fazer um almoço, e depois tem tortinhas de chocolate. Eles estão esperando por nós.
E ele me segue.
–
POV MASON
Depois do que me pareceu horas de bajulações, sorrisos falsos e carícias trocadas com Jude discretamente por de baixo da mesa, aquele pesadelo de almoço finalmente tinha acabado.
Eu me sentia rasgar por dentro toda vez que tinha que dirigir uma palavra ou até mesmo um sorriso ao homem responsável por assassinar minha família e destruir a minha matilha. Às vezes eu podia jurar que sentia minhas garras crescendo debaixo da mesa, da mão que não estavam na perna de Jude, prontas para fazerem o que a natureza as criou para fazerem.
Ele estava bem ali na minha frente, e era muito difícil não ceder aos instintos e acabar com isso de uma vez por todas. Mas a vingança é um prato que se come frio, e eu de algum jeito aguentei todo aquele tempo no controle.
Agora, Jude e sua irmã estavam tirando a mesa enquanto seus pais estavam na cozinha, e eu estava livre para andar pela casa.
O escritório do alfa da lua sangrenta, eu estava de frente para a porta enquanto ouvia os barulhos e murmúrios vindos da sala de jantar, minha mão se estende para a maçaneta, e eu me sentia sedento em pensar em todos os segredos que ele poderia manter escondido aí dentro em alguma gaveta qualquer. Era exatamente o que eu precisava.
Informações estratégicas, pontos importantes…um prato cheio para os meus planos.
Eu viro a maçaneta e me sinto festejar internamente ao perceber que a porta não estava trancada.
-O que está fazendo aqui? - Uma voz pergunta e eu me viro, de repente.
Pov JudeEstávamos eu e minha irmã retirando a mesa depois do almoço maravilhoso que tivemos com o Mason e nossos pais. Pode-se dizer que foi nosso primeiro almoço de noivado, já que fazia tão pouco tempo que ele tinha me pedido em casamento. Foi uma boa oportunidade também para contarmos aos meus pais durante esse almoço. Até eu fiquei chocada com o quão bem eles tinham reagido. Tudo está indo tão rápido e está sendo tão perfeito que realmente não parece real quando paro pra pensar sobre isso. Parece que estou sonhando ou coisa parecida. -Então, quando você planeja me contar como foi que ele te pediu em casamento?Eu sinto minhas bochechas esquentarem com a pergunta da minha irmã. Ela parecia um pouco brava comigo desde mais cedo, por ter ficado sabendo ao mesmo tempo que os meus pais. Ela queria porque queria, ter sido a primeira a saber. -Bem, você vai me perdoar se eu te contar primeiro a história? -Vou pensar. Pode começar- Ela disse enquanto retirava a toalha da mesa e começ
Não sei onde estou, mas onde quer que seja esta tudo escuro, e estou perdida aqui. Não vejo um palmo sequer a minha frente mas pelo menos estou andando, Só não vejo pra onde. Acho que tem alguma coisa na minha mão, que estou segurando, mas não consigo enxergar o suficiente pra saber o que é, e a forma é muito estranha pra conseguir sentir só pelo tato.E é então que eu vejo uma pequena luz, e um portal rodeado de margaridas, iluminado de um jeito que parece ter luz própria. Eu passo por ele e o mundo fica claro mais uma vez. A coisa nas minhas mãos era um buquê, de margaridas assim como no portal, mas diferente dele, vejo respingos de sangue nas pétalas delicadas. Olho pra baixo, e vejo meu vestido branco que era pra ser um vestido de noiva, também manchado de sangue. Estou no caminho para o altar, meus pés não pararam de se mover como se agissem por conta própria, eu tento parar mas não consigo e isso é desesperador. Eu olho ao redor aterrorizada quando percebo corpos sentados nas
POV MASONMe sinto estranho, completamente estranho. Meu lobo deve ter perdido a cabeça em algum momento durante esses últimos tempos, ou pior, eu mesmo devo ter perdido a cabeça.Por que diabos eu trouxe ela para cá? Não consigo ignorar a sensação conflitante dentro de mim, alguma coisa que eu sinto que com certeza está errada. Isso com certeza é sintoma de loucura, tanto a sensação quanto às decisões que tomei e principalmente não ter matado ela quando eu DEVIA ter matado. Por que eu não matei?Eu tinha conseguido, eu realmente tinha conseguido. Agora finalmente eu poderia descansar a cabeça em algum lugar e deixar o peso do meu coração sair. Todos aqueles que foram responsáveis pela maior tragédia da minha vida e a vida de todos que um dia fizeram parte da alcateia de meus pais, finalmente o preço tinha sido pago. Sangue por sangue. Depois de tantos anos, eu finalmente poderia deitar minha cabeça no travesseiro e dormir um sono sem pesadelos. Mas agora, bem agora no momento cruc
POV JudeEu acordo mais uma vez com as vozes que tinham acabado de falar comigo no sonho martelando na minha cabeça.“Foi culpa sua Jude. A culpa foi sua do que aconteceu com a gente. “A cabeça decepada do corpo da minha mãe tinha falado comigo no sonho, e a sua voz arrastada como de um zumbi de filme antigo -Pelo menos os que falam- tinha me causado arrepios, a voz e também o que ela estava dizendo.Realmente era culpa minha que eles tinham morrido, realmente foi culpa minha por eu ter deixado Mason entrar na minha vida. Não consigo deixar de pensar que teria sido mais misericordioso se eu tivesse ido junto com eles. Mas nem mesmo consigo ter certeza de que eu mereço essa misericórdia.Fazia uns dias que eu estava nesse quarto, e ninguém vinha me visitar, a não ser os guardas que me traziam as refeições e em algum dos casos, algumas roupas que com certeza tiraram da minha antiga matilha. Isso foi um combustível e tanto pra chorar até pegar no sono nesse dia, quando percebi que entre
POV MASONEstou andando de um lado para o outro no carpete do escritório, quase abrindo um buraco com meus passos quando burburinhos no corredor chamam a minha atenção. As paredes daqui bem que podiam não ser tão finas.-É verdade então? O que andam dizendo? Ele perdeu mesmo o controle do lobo?-Eu também ouvi sobre isso! Ouço burburinhos vindos do corredor, vozes baixas que pensam que sussurrar é o suficiente pra que eu não as ouça. Faça meu favor. Bato na porta, dessa vez tentando reunir um bocado de controle ao fazer isso, considerando que só essa semana eu tinha conseguido a façanha de quebrar três mesas. Não queria que o mesmo acontecesse com a porta.-ISSO NÃO É HORA NEM LUGAR PRA CONVERSINHAS! VÃO EMBORA DAQUI E NÃO SE METAM ONDE NÃO SÃO CHAMADOS!Ouço passos e depois silêncio. Isso não está certo, nada está certo. Eu realmente não consigo conter o meu próprio lobo, não consigo conter meus pensamentos, não consigo mais controlar nada! Ninguém deveria saber disso, saber que
POV JUDEMeu sentidos deviam estar meio letárgicos, talvez por ter acabado de acordar de algum tipo de sono, como um daqueles cochilos da tarde que tiram toda a nossa noção sobre os nossos arredores e até nós mesmos. Talvez seja fome, esse sono ou o frio, ou até mesmo uma mistura dessas três coisas, mas eu posso jurar que ouço esses passos se afastando. Mais do que ouço, eu VEJO aquelas botas polidas saírem pra longe, em passos firmes e decididos. Também posso jurar que pude ouvir alguém rosnar, mas isso não me fez tirar a cabeça de baixo das cobertas pra conferir. Acho que nada me faria fazer isso, na verdade.Eu só vi elas se afastando e me cobri totalmente de novo, pronta pra voltar pra terras dos sonhos que hoje mais estava parecendo um vale fundo e escuro, o que eu achava muito mais fácil de lidar do que aquele vale dos pesadelos que eu costumava cair hora ou outra. Mas então, em um piscar de olhos, estou direcionada entre braços quentes que pareciam ter vindo tão de repente q
Está tudo perfeito, assim eu espero, não está? Se eu coloco meu rosto pra fora da janela, o sol está brilhando, e talvez seja só a minha imaginação, mas até os passarinhos cantando lá fora parecem mais felizes. Com certeza isso é a minha imaginação, mas agora eu posso finalmente dizer que o dia que eu tanto estava esperando chegou. Não consigo parar de sorrir enquanto a minha irmã mais velha Elisa, arruma o meu cabelo do jeito que eu pedi pra ela.-Toma cuidado, se ficar sorrindo tanto assim vai acabar parecendo uma careta. E você se lembra do que o papai diz não? Se bater um vento do rosto enquanto estiver fazendo careta, vai ficar assim pra sempre. Ela fala, em tom de brincadeira, mas ela mesma tem um sorriso gigante no rosto dela, que foi contagiado pelo meu. -Olha, se quiser tanto um casamento assim, eu me visto de noivo por você, e ainda monto tudo de uma forma impecável do jeito que quiser. Não quer repensar? Sabe que eu faria tudo pra te ver feliz, assim como mamãe e papai
POV MASONFoi a 10 anos atrás que tudo aconteceu, mas eu ainda me lembro claramente, como se mal tivesse passado um dia. As coisas andavam muito estranhas na matilha da lua crescente. Foi o lugar que eu cresci e sempre foi tão pacifico, mas de repente….A guerra parecia prestes a estourar. Ainda assim, eu estava passando pelo território leste junto com uma equipe de patrulha. Estávamos passando perto da fronteira, éramos eu, meu pai e mais uns 5 lobos. A terra estava úmida depois de uma forte chuva e eu sentia minhas patas se afundarem a cada passo que dávamos. A fronteira agora tinha que passar o máximo de tempo possível sobre vigia. A paz era rala e parecia que qualquer coisa poderia acabar com ela, mas como alfa, meu pai estava fazendo o possível para evitar isso. Mas em um dia que era só pra ser uma vigia, um dia onde as coisas pareciam tão calmas…acabou sendo mais do que isso.Um barulho estranho chama a atenção de todos nós vindo do leste. Começamos a correr quase ao mesm