Saio do banho e agora estou presa, fazendo uma das coisas que eu menos tenho feito ultimamente: confrontando minha própria imagem no espelho. Aquela mulher pálida e irreconhecível que me olha de volta. Meu corpo nu com certeza não apresenta sintomas de gravidez, o que, de acordo com Hélio, é uma das consequências da desnutrição. Mas não importa, isso não muda o que está lá, não muda a realidade. Passo a mão na minha barriga, pensando na vida que estou gerando ali. Penso na ideia de ter um filho de Mason e meu corpo volta a gelar com aquela culpa fria e com as lembranças de tudo que aconteceu depois, quando eu deveria estar odiando ele. Eu deveria, mas não consigo. Não consigo odiá-lo. Não importa o quanto a mágoa seja pesada e minhas emoções conflitantes, e principalmente, não posso odiar essa criança dentro de mim. Eu me escolho naquele chão gelado no box, as mãos ainda firmes segurando a barriga. -Não vou te deixar sozinho - Eu sussurro, e meu peito aquece um pouco com a idei
Os dias foram passando, tão monótonos quanto poderiam ser. E era reconfortante esse monotonia. Se eu pudesse escolher passar o resto da vida sem mais grandes altos de baixo e viradas de vida de cabeça para baixo, eu ficaria muito feliz com isso e não reclamaria nem um pouco. Eu não tinha roupas nem nada de valor comigo aqui, mas uma velha senhora me visitou alguns dias atrás para me doar algumas que costumavam ser da sua neta. Ela tinha um tamanho bem próximo do meu e fiquei muito feliz com isso. Fiquei também pois a pesar da minha falta de vontade de conhecer as pessoas daqui, essa moça em específico foi muito gentil e me ofereceu uma conversa bem reconfortante, daquelas que só idosos com muitas histórias para contar tinham a oferecer. Seu nome era Donatela, ela ficou feliz em se convidar para passar na minha casa nova com biscoitos recém assados assim que eu tivesse alta. Foi muito bom ouvir isso e me senti bem com a proposta da companhia. E o dia finalmente chegou. Era apenas eu
POV MASONAndando de um lado para o outro no carpete da sala até o ponto de abrir um buraco, esse é um hábito que eu tenho feito muito, muito mais que o normal e isso já faz um tempo. Mas se eu fosse começar a contar todos os hábitos nada bons que eu estive adquirindo nos últimos tempos, eu não pararia de escrever até a lista batesse do outro lado da sala. Não dormir é um desses novos hábitos, ou dormir muito pouco. Horas de pensamentos inquietantes e constantes que não consigo fazer que parem depois de começarem também estariam nessa lista, e inclusive é exatamente isso que estou fazendo por agora.Passo a mão pela barba que já está em uma altura muito maior do que eu já teria deixado antes, mas uma consequência de tudo isso. A porta é aberta e eu encaro um dos meus homens parado na frente dela, com o rosto como quem já diz que não tem as notícias que eu gostaria de ouvir e sabe o quão péssimo isso vai ser para ele. Ele e todo o resto sabem que não estou tendo um bom dia e isso j
POV MASONEstou em uma das fronteiras. O cansaço me ameaça me consumir como um monstro de sete cabeças com um apetite terrível e insaciável. Já fazem dias que estou em campo, mas isso não me impede de continuar. Na verdade, nem um maldito tempo ruim, esse cansaço ou desastres naturais me impediram do que estou fazendo. Preciso encontrar aquilo que perdi e só mandar pessoas para fazer isso no meu lugar não é mais suficiente. Na verdade, nunca foi. E tem mais uma coisa positiva em estar cansado até os ossos. Meu lobo se sente calmo. Sem energia suficiente ou com muito pouca sobrando, toda aquela raiva descontrolada, todo esse pesar e suas palavras crueis e punitivas, tudo isso é amenizado pela sensação de correr em uma noite como essa. Pela sensação do vento em mim, pela sensação da terra contra as minhas patas.Tudo isso é amenizado, e quanto mais difícil fica, também fica fácil de me auto convencer de que eu mereço isso. Mereço sofrer, mesmo que isso não chegue nem perto de apazigu
POV JUDEEu também conheci o alfa da dessa alcateia nesse meio tempo. Ele também já tem já uma idade avançada e é extremamente simpático, o que distorce muito a visão e como um alfa deveria ser: temido, mortal e às vezes um pouco cruel para conseguir respeito. Mas a essa altura do campeonato, eu posso afirmar que minhas experiências não são as melhores do mundo para descrever a realidade.O mínimo que eu podia fazer por ele era dar explicações minimamente razoáveis e aceitáveis sobre a pessoa que ele tinha aceitado como novo membro da alcateia dele: Disse que vim de outra alcateia, que estava sendo feita prisioneira, mas jurei com todas as minhas forças que nunca havia cometido nenhum crime de verdade, o que soa confuso mas era a verdade. Disse para ele que consegui fugir e que não quero nunca, nem em um milhão de anos voltar, que se eu pudesse, por mim eu mudaria de nome de rosto e de vida. Apagaria tudo da minha cabeça para começar do zero e ser uma nova pessoa. Ele aceitou tudo
POV MASONAs chuvas da estação não param de cair. Elas chegaram atrasadas esse ano e parece que de alguma forma estão tentando compensar o tempo perdido. As nuvens espessas de chuva cobrem todo o céu até onde a vista acaba.Eu costumava achar reconfortante climas assim, mas agora, parece cravado na minha cabeça que a palavra conforto não tem mais sentido para nada. Dias cinzentos continuam sendo apenas dias cinzentos. São exatamente iguais aos dias ensolarados, que são exatamente iguais a qualquer outro dia: eles não tem absolutamente nada para me oferecer. Minhas botas de couro deixam pegadas sólidas pela terra molhada atrás de mim. Não há muitas pessoas por perto agora: a chuva forte faz com que a maioria procure coisas para fazer do lado de dentro do castelo e não se arrisquem muito pelo lado de fora, como se fossem feitos de açúcar e fossem derreter se ficassem molhados. O barulho da chuva caindo é muito maior do que o dos burburinhos ao redor de todos que estão olhando para mim
-Mason?? - Meu tio finalmente para de beijar aquela mulher e se vira para mim, surpreso como todo mundo. Acho um pouco irônico, já que devido às circunstâncias, eu deveria ser o mais surpreso nessa história toda. Não sou, nem perto disso na verdade. -Oi tio, vim fazer uma visita. Desculpe atrapalhar seu…seja lá o que seja isso. -Mason, eu…- Lorena a falar e o som da sua voz é algo que me irrita como se alguém estivesse arranhando um quadro negro. Pega bem dentro do meu ouvido e fico decepcionado que ela não fez a escolha maravilhosa que seria ficar quieta sem fazer absolutamente nenhum som. -Nem precisa começar. Não se dê ao trabalho. Só fique quieta e não diga mais nada.Ela obedece e desiste de qualquer argumento que fosse tentar.-Lorena, saia daqui. Nos deixe sozinhos. -Não vai ser necessário, realmente. Se ela não falar mais nada da forma que pedi, acho que também vai ser bom para ela ouvir o que eu tenho a dizer. Os dois estão bem tensos, e Lorena fica perto do canto da pa
POV MASONEle realmente deve ter resolvido que não falar mais nada seria única saída possível que teria para essa situação, ou isso ou o seu poder de mentiras finalmente estava ficando vazio. Lorena permanecia calada no canto sem se intrometer, mas eu percebi seu olhar de espanto e a forma que seus olhos saltavam na minha direção e na do meu tio conforme nossa conversa ia ficando cada vez mais acalorada. -Bom, era só isso que eu tinha para falar, então se não tem mais nada em sua defesa, eu vou me retirando. Meu aviso foi dado, mas só por garantia: mantenha sua tralha do seu lado da cerca, e isso é só o que eu peço. - Com esse último aviso, estou me virando de costas e pronto para ir embora. Pelo menos foi o que eu pensei, pois é claro que todo e qualquer drama familiar está fadado a terminar de uma forma muito mais dramática do que começou. -MASON, espere ai. - Hendrick finalmente encontra sua voz e fala. Eu me viro encarando seus olhos, que tinham deixado toda aquela passividade