JavierO silêncio na sala era absoluto, quebrado apenas pelo som ritmado dos meus passos. Caminhava de um lado para o outro, os olhos fixos na cadeira de metal no centro da sala. Era ali que os funcionários eram levados, um por um, para interrogatório.A iluminação fraca lançava sombras alongadas contra as paredes de concreto. A atmosfera estava carregada, densa. O cheiro de suor e medo impregnava o ar.O primeiro a ser trazido foi o jovem jardineiro. Ele parecia ainda mais frágil sob a luz dura da sala, seus olhos arregalados enquanto tremia visivelmente na cadeira.— Sabe por que está aqui? — perguntei, minha voz baixa, mas carregada de intenção.Ele balançou a cabeça rapidamente, negando, enquanto seu olhar passava de mim para Marco e depois para a porta, como se calculasse a distância até a saída.— Não quero perder meu tempo, garoto. Quem está ajudando Juan Carlos? — continuei, cruzando os braços.— Eu... eu não sei, senhor! Eu juro!Marco se aproximou, apoiando as mãos nos ombro
CamilleOs primeiros raios de sol invadiam o campo de treinamento improvisado enquanto eu ajustava as faixas em volta dos pulsos. Estávamos em um armazém abandonado, um espaço amplo e isolado que Eleonora garantiu ser seguro.O lugar tinha um cheiro de madeira velha e ferrugem, com o piso de concreto rachado em alguns pontos, mas era perfeito para o que pretendíamos fazer.Lúcio estava parado no centro do espaço, os braços cruzados, esperando pacientemente enquanto Eleonora e Lola organizavam as recém-chegadas. Ele era um homem robusto, com uma postura intimidadora e um olhar que parecia enxergar através de você. Ele não dizia muito, mas quando falava, a autoridade em sua voz era inegável.— Vamos começar com o básico hoje — ele disse, cortando o silêncio, sua voz ecoando pelo galpão. — Autodefesa, percepção de ameaças e, para as mais avançadas, talvez o uso de facas e armas.Eu ergui uma sobrancelha, intrigada com o último ponto, mas mantive minha atenção nele. As outras mulheres ao
CamilleAinda sorrindo, ele me ofereceu a mão. Era um gesto cortês, mas não pude evitar o arrepio que correu pela minha espinha quando vi o brilho familiar nos olhos castanhos. Ele parecia novamente um anjo sombrio, com a beleza sublime maculada por uma sombra maligna.Engolindo em seco para me livrar do nó na garganta, coloquei a mão na dele e deixei que ele me levasse para o andar de cima. Era melhor assim, mais civilizado. Permitia que eu fingisse por mais alguns momentos, que me agarrasse à ilusão de ter opção.Quando entramos no quarto, ele fez com que eu tirasse a roupa e deitasse de bruços na cama.Em seguida, ele amarrou firmemente meus pulsos atrás das costas. Depois, colocou uma venda sobre meus olhos e travesseiros sob meus quadris.Quando senti o lubrificante gelado entre as nádegas, tentei relaxar e deixar que ele fizesse o que quisesse. Um brinquedo foi inserido em mim. A invasão me assustou, mas não foi particularmente dolorosa. Ele deixou o brinquedo dentro de mim ao m
JavierEstava tudo planejado. Não era uma decisão fácil, mas era necessária.Camille havia se tornado parte de minha vida de forma inevitável, e precisava que ela compreendesse, ao menos em parte, o que moldou quem sou. Talvez fosse egoísmo de minha parte, mas o fardo que eu carregava havia se tornado insuportavelmente solitário.Seus olhos, curiosos e levemente cansados, buscaram os meus. Eu sabia que estava envolvida em tantas coisas que a exauriam, mas isso era inevitável. Ainda assim, havia algo diferente nela naquela manhã.— Quero levar você a um lugar — disse, em vez de me prender às formalidades habituais.Não expliquei mais nada. Sabia que ela não insistiria em perguntar, e, em poucos minutos, estávamos no carro.Dirigir novamente depois de tanto tempo trouxe uma sensação agridoce.Era uma ação simples, quase mundana, mas que eu não fazia há anos. Ficar no controle do volante me dava uma estranha sensação de liberdade. Por outro lado, me lembrava do motivo pelo qual eu havia
CamilleA manhã de treinamento havia sido mais intensa do que eu imaginava.Minhas pernas ainda estavam tensas dos exercícios, e minhas mãos doíam levemente dos golpes que Lúcio insistia que repetíssemos à exaustão. No entanto, saí da sessão com uma estranha satisfação, como se estivesse mais próxima de recuperar algo que havia perdido: meu controle.Lola e Eleonora eram minha companhia perfeita. Elas não apenas compartilhavam das mesmas frustrações que eu, mas também transformavam qualquer momento em algo divertido. Por isso, quando sugeriram uma pausa para um café, aceitei prontamente.— Depois dessa manhã, acho que merecemos um café bem forte — comentou Eleonora, ajeitando o cabelo enquanto caminhávamos pela calçada.— E um pedaço generoso de bolo de chocolate — acrescentei, arrancando risadas de ambas.Lola apontou para uma cafeteria charmosa na esquina, com mesas na calçada e um aroma irresistível de café fresco. Entramos e logo escolhemos uma mesa. O ambiente era acolhedor, e o
JavierO som insistente do telefone me tirou da concentração. Eu estava analisando relatórios com Marco quando o toque me obrigou a pausar. Atendi com impaciência, já esperando alguma notícia problemática.— Javier? — A voz do delegado local, Santiago, do outro lado da linha, parecia cautelosa, o que não era um bom sinal. —Preciso que venha à delegacia. Sua esposa está aqui.Minha mente se dividiu em um turbilhão de pensamentos. Delegacia? Camille? Algo havia acontecido.— O que aconteceu? — perguntei, já me levantando, ignorando os olhares curiosos de Marco.— Ela... teve um pequeno incidente envolvendo um ladrão. Nada grave, mas acho que você vai querer ouvir pessoalmente.Não esperei mais explicações. Marco já estava atrás de mim enquanto eu pegava as chaves do carro.— Algum problema? — ele perguntou.— Camille está na delegacia. Fique aqui e cuide de tudo. Eu volto quando resolver isso.Dirigi rápido, meu coração acelerado. Pensar em Camille envolvida em algum problema fazia meu
CamilleAo sair do carro, ainda podia sentir o olhar de Javier queimando em minhas costas, mesmo que ele não tivesse dito uma palavra durante o caminho. Suspirei, ajustando a alça da bolsa no ombro e começando a andar em direção à mansão. Estava cansada, mas não fisicamente – meu cansaço vinha de outro lugar, um peso que parecia crescer cada vez mais entre nós.Meus saltos batiam contra o chão de pedra com firmeza, o único som no silêncio do jardim. No entanto, antes que pudesse alcançar a porta, ouvi o ronco do motor atrás de mim. O carro de Javier estacionou bruscamente ao meu lado.— Camille, pare. — Sua voz era séria, autoritária.Parei e me virei para ele, surpresa. Ele raramente me abordava dessa maneira, pelo menos não tão abertamente.— Parar com o quê? — perguntei, confusa.Ele saiu do carro, andando em minha direção com passos firmes. Havia algo em sua expressão que era difícil de decifrar, mas eu sabia que estava prestes a ouvir algo que não gostaria.— Com isso. Com... o q
JavierO ambiente estava carregado de tensão, e o som das vozes masculinas se sobrepondo umas às outras ecoava pela sala. Eu, que permanecia em silêncio, observava tudo com atenção. Nenhuma palavra minha seria capaz de acalmar a situação; era óbvio que os homens ao meu redor estavam impacientes, irritados, e talvez até um pouco assustados com o que estava acontecendo. As esposas haviam tomado uma decisão, e aquilo estava causando mais do que um simples desconforto nos maridos.Marco, que estava ao meu lado, tentava inutilmente colocar ordem na conversa. Ele levantava as mãos, pedindo calma, tentando apaziguar os ânimos. Mas os homens continuavam a falar ao mesmo tempo, a indignação em seus rostos era visível, e podia sentir a pressão crescente.“Isso é ridículo”, “Você não pode deixar isso acontecer”, “Ela está nos envergonhando, Javier!” eram algumas das frases que consegui ouvir em meio ao caos.Não conseguia entender por que tantos estavam tão preocupados. Na verdade, não me surpr