Capítulo 3: Eu imploro, me ajude

POV: Linnea

Um forte golpe atingiu minha mão, me fazendo soltar o homem que parecia em choque com toda a situação. Voltei a me encolher na gaiola e o homem retomou seu caminho. Eu havia falhado. Nunca mais o mestre me permitiria ter outra oportunidade como aquela. Voltaria aos meus dias trancada naquele cofre, abusada por um homem egoísta e sem nenhum escrúpulo que não se importava em destruir as vidas de outras pessoas, com tanto que ele conseguisse o que queria.

A grande festa continuou, não vi mais o lindo homem de cabelos e olhos negros. Era como se ele tivesse desaparecido. O mestre evitou que outras pessoas se aproximassem da mesa de gelo, onde eu sentia cada vez mais e mais frio. Estava cansada e faminta quando finalmente a festa acabou e eu fui descida da mesa. O mestre se aproximou com seu bastão e bateu forte contra as barras de aço.

― Sua puta de merda! O que achou que fosse conseguir? Achou mesmo que um homem como o Wolf te ajudaria? Acho que bati tanto em você que acabou ficando burra! ― Mais batidas contra as grades. As vibrações do metal me deixavam desnorteada e enjoada. Cobri meus ouvidos com força, tentando bloquear aqueles horríveis sons e a voz do mestre.― Tranquem ela no cofre.

A gaiola foi posta em um carrinho e fui levada de volta para o único lugar que eu conhecia. O cofre era muito bem protegido, com segurança e mecanismos de última geração. Eu não entendia muito bem como aquilo funcionava, apenas sabia o que já ouvi das pessoas quem me levavam comida que apenas poucos tinham o cartão de acesso e que tudo dentro do cofre possuia um tipo de rastreador, caso alguém de dentro tentasse levar algo. Olhei para as correntes em meus braços e pernas, pensando se elas eram rastreadores também.

― É um desperdício. ― Um dos homens que estava me levando falou para o seu companheiro. Quando virei meu rosto, vi seu olhar assustador em minha direção. ― Um pedaço de carne desses, trancado em um cofre frio quando tantos de nós estamos com fome.

― Se o chefe te ouvir falando isso, eu garanto que não vai ser só o seu emprego que vai perder. ― Com isso a conversa foi encerrada e eu fui deixada sozinha e grata dentro do cofre.

Estava faminta e cansada, não havia nada que eu pudesse fazer além de me deitar e aproveitar meus últimos momentos naquela espaçosa e confortável gaiola. Me deitei em um canto, encolhida para aquecer meu corpo quando um estrondo fez o chão tremer.

O alarme começa a soar, as portas de emergência do cofre são acionadas, mas as grandes placas de metal não conseguem se fechar a tempo. Outro grande estrondo as entorta para dentro do cofre. Fumaça, e poeira foram lançados para todos os lados e um grupo de homens entrou calmamente no cofre, se espalhando em várias direções. Todos usavam as mesmas roupas pretas, mas um deles em especial se destacou. Sua presença mostra que ele liderava aquele grupo e todos o respeitavam. Eles andaram pelo cofre, ignorando a minha presença, menos o líder. Ele se abaixou diante da gaiola e, com um movimento suave de sua mão sobre o cadeado, quebrou o trinco. Ele baixou a porta da gaiola e me estendeu sua mão. 

Estava assustada com toda aquela estranha situação, primeiro que ninguém jamais ousou tentar roubar do mestre, pois era abertamente conhecido que ele não era um homem piedoso. Segundo que a calma com a qual aqueles homens estavam apenas buscando algo especial lá dentro me mostrava que eles poderiam ser mais perigosos do que o meu mestre. Me encolhi. Não sabia se aquele homem estava atrás dos meus dons ou se apenas se sensibilizou em me ver trancada naquele lugar.

― Venha logo, ou vou te largar aqui para ser morta por aquele porco. ― A voz do homem vez os pelos do meu corpo se arrepiarem. Olhei dentro de seus olhos negros e tive a sensação de ser puxada em sua direção.

Minha mão se moveu antes mesmo que eu pudesse entender o que estava fazendo e aceitou o toque daquele homem, que me puxou bruscamente para seus braços. Assim que me choquei contra seu grande corpo, senti seu calor e até mesmo pude ouvir as batidas ritmadas de seu coração. Enquanto o meu batia de forma frenética no peito. Mordi o lábio inferior, tentando conter minha curiosidade em perguntar o motivo de estar sendo levada. 

― Não está aqui. ― Um dos homens do grupo se aproximou e me olhou com curiosidade. ― Tem certeza disso? ― Ele perguntou e me agarrei as roupas do homem que me segurava firmemente.

― É problema meu. Vamos embora. ― O líder rosnou irritado. Com  essas palavras, todos caminharam na direção do buraco aberto na porta do cofre.

Vários homens armados surgiram no caminho, dispostos a tudo para protegerem os bens mais preciosos do mestre. O homem que me carregava caminhou até o cofre e me colocou sentada no chão, ele segurou meus pulsos e pressionou minhas mãos contra minhas orelhas, então cobriu meus olhos com sua grande e quente mão.

― Fique aqui até que eu volte. Não veja nada, não ouça nada. ― Apenas acenei concordando e senti sua presença se afastar.

Fiquei sentada naquele canto, o chão frio debaixo de mim, enquanto eu contava mentalmente, abafando os poucos ruídos que fui capaz de captar. Não demorou para que o calor daquelas mãos voltasse, mas não me atrevi a abrir meus olhos. Mantive meus ouvidos cobertos enquanto o homem me tomava em seus braços e carregava para fora do andar, então para dentro do elevador e finalmente para fora do prédio, só então eu abri os meus olhos para me deparar com o nascer do sol mais lindo que eu já havia visto em toda a minha vida.

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