O sequestro dos gêmeos
O sequestro dos gêmeos
Por: Gabriela Jervais
CAPÍTULO UM

TOWNBURG

Trabalhar servindo as pessoas nunca foi um problema para Domenica, ser garçonete é o trabalho que sustenta seus filhos.

Se dependesse apenas do seu leite, eles não ficariam satisfeitos. Estão o tempo todo com fome e precisam sempre de mais, e duas crianças gasta muito. O dinheiro que as irmãs mandam do orfanato é o complemento perfeito de sua renda.

Mesmo com toda a dificuldade de sua vida, ela conseguiu acabar a escola, começar em um cursinho que ficava perto do orfanato e enfim se formar como auxiliar administrativo.

Em seguida, a oportunidade de entrar em uma empresa que é o sonho de qualquer jovem apareceu em sua frente. Estava em um momento da vida que era só felicidade, mas precisava se manter fora dos radares de qualquer forma possível. E a solução seria largar todo aquele sonho.

O início do dia em seu trabalho é como qualquer outro, a cafeteria abre sempre um pouco mais cedo para os trabalhadores que querem tomar um café. Domenica faz todo o serviço ali, limpa, serve, faz lanches, o que o patrão mandar. O vizinho da cafeteria, sr. Child, não trabalha, vive sozinho e pelo mesmo motivo vai lá todos os dias ter companhia para sua manhã.

Como sempre, Domenica cumprimenta e anota seu pedido. Ele pede o mesmo, pão de queijo e um cafézinho. Enquanto ela coloca o pedido na bandeja, seu telefone toca, ela atende com apenas uma mão e com a outra pega o copo.

O nome da diretora da creche onde ficam os pequenos aparece em letras grandes na tela do celular.

Seu primeiro pensamento é:

"Aconteceu alguma coisa? Acabei de deixá-los lá!"

A notícia que recebeu a faz deixar o copo cair de sua mão, espatifando-se no chão. A diretora está desesperada e chorando, contando que homens violentos entraram e levaram os gêmeos. Apenas eles.

Suas pernas tremem com a possibilidade de perdê-los. Um arrepio de desespero percorre sua espinha. Ela não sabe para onde ir, o que fazer, quem procurar. E o mais importante, quem teria coragem e por que fazer isso com crianças.

Conforme lhe foi ordenado, ela se distanciou de qualquer um e de qualquer coisa que pudesse prejudicá-los. A seu ver, ali, a tantos quilômetros de distância, eles estariam seguros.

O que Domenica poderia fazer naquele momento seria ir até a delegacia e aguardar o que a polícia estava fazendo para encontrá-los.

***

Na delegacia, eles sabiam o que ela sabia... NADA. As imagens da câmera de segurança mostram exatamente o que a diretora disse ao telefone. Todos mascarados, e foram direto para seus filhos. Como se alguém tivesse pedido por eles. Os policiais fazem o que podem com os recursos que têm, mas não é o suficiente para encontrá-los.

Os dias passam e a angústia de Domenica aumenta a cada segundo, ela não come, nem dorme. E nenhuma notícia sobre eles é encontrada.

A única solução que Domenica vê à sua frente é procurá-lo.

Seu instinto não quer, mas sua relutância não pode ser maior que seu amor pelos filhos. É o que ela faz, com as mãos trêmulas, pega o celular e procura o número de Valentim, que não teve coragem de deletar.

Chama uma vez...

Duas vezes e nada.

A terceira chamada...

"Espero que Valentim não tenha mudado de número!"

— Olá?! - ele responde.

"Sua voz continua a mesma."

--Olá?!! Quem é? - ele insiste.

— Valentim?!

— Sou eu, Domenica! - ela fica alguns segundos esperando a reação dele. — Domenica? Quanto tempo! Como vai você? - ouvindo a voz de Valentim, todas as memórias que Domenica deixou trancadas dentro de seu coração sem acessá-las voltaram com força. Apenas por sua voz, a alegria preenche o vazio em seu coração.

— Estou bem. - por um momento ela havia esquecido o motivo de sua ligação.

— Desculpe. Mas eu não liguei para falar sobre nós. Eu tenho algo importante a dizer.

— Mas que... - ele tenta falar, mas ela o interrompe.

— Logo depois que terminamos eu...

"Eu preciso fazer isso, pelo bem dos meus filhos!"

- descobri que estava grávida. Eu não queria te contar e atrapalhar sua vida e seu relacionamento com Nádia.

Do outro lado da linha, Valentim escuta em silêncio. Assimilando tudo o que ela disse.

— Eu mantive a gravidez. E de qualquer maneira... eu tive dois bebês. Mas o que me fez ligar... é que... eles foram sequestrados!!! E os policiais não sabem mais o que fazer ou quem pode ter feito isso. E infelizmente você é a única pessoa que pode me ajudar e a quem posso recorrer agora.

- Espere!!! O que você acabou de dizer? Você estava grávida? Eu… eu… tenho dois filhos e você não me contou nada?

Sua indignação era clara. A mulher que ele amou escondeu que lhe deu dois filhos.

— Eu posso responder o que você quiser. Mas agora não! Preciso de ajuda para encontrar meus filhos!! Por favor?!

Ela implora por ajuda, o que ela não precisava fazer, Valentim prontamente solicitou seu jato e partiu em direção ao endereço que Domenica havia dado. Tudo o que ela fez para manter seus lobinhos longe dele estava falhando. “Apenas pense que é melhor para eles, Domenica!”

***

DOIS ANOS ATRÁS

WILORD

Diante do espelho, Domenica pensou em tudo o que a levara até ali. As noites mal dormidas, o tempo estudando, e que ela conseguiu se formar. Agora ela estava se preparando para começar seu primeiro dia de trabalho.

“Eles vão gostar de mim?”

"Meu arquivo não tinha nenhuma foto minha, eles não sabem como eu sou!” “Vai ser um grande choque para eles!"

Ela estava indo para a maior empresa de alimentos da cidade, KALUA. Exportadora, grande, tudo que um recém-formado deseja. A proximidade das horas deixa-a com dores no estômago, a possibilidade de trabalhar ao lado do presidente é uma oportunidade rara. Para não assustar tanto as pessoas com sua aparência, ela resolve fazer um coque com o cabelo e deixá-lo o mais discreto possível. O que não deu muito certo.

“Eles vão acabar me demitindo quando virem como eu pareço!”

—Você está pensando em sua aparência, mocinha? - entra irmã Dulce.

—Você tem razão! Tenho medo de que me rejeitem por ser assim.

— Filha. Se gostarem do seu trabalho, eles são boas pessoas. Mas se eles olharem apenas para a sua aparência, é ótimo que eles não aceitem você. Você não deve julgar ninguém pelo que vê por fora.

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