Capítulo 4 - As perguntas

 — Sempre estou, fofinha. Quando é o encontro?

     — Depois do almoço, uma hora da tarde. E isso não é um encontro.

     Ela olhou o relógio, apressada e já eram meio-dia.

     — Amiga, precisamos te arrumar depressa. Você tem que estar sexy nesse encontro.

     — Já te disse várias vezes que não é um encontro!

     — Do mesmo jeito você precisa fazer ele ficar babando.

     Geo nem me deixou dizer que sim ou não, apenas me puxou pra dentro de seu closet e começou a procurar uma roupa decente entre milhares.

     Eu me sentia muito estranha. Ela me fez vestir:

     > Um short jeans escuro com uma corrente prateada;

     > Meia-calça preta;

     > Bota preta, sem salto, com corrente prateada;

     >  Blusa branca com sutiã de enchimento;

   > Blusa transparente azul claro, larga, que deixava meus ombros mostrando a alça da blusa branca.

     Geovanna não me fez usar brincos, porque disse que não combinaria com meu estilo. Pra uma patricinha igual a ela, ela soube me identificar no modo de vestir. A única coisa que ela colocou que eu não gostei foi o sutiã de enchimento. Parece que a mentalidade de patricinha falou um pouco mais alto nessa parte. Meu cabelo estava solto.

     ★Dica 216 = Em um encontro (que não é um encontro), deixe que uma pessoa te ajude a escolher sua roupa (tenha o bom gosto de escolher alguém que saiba se vestir, viu?).★

     — Amiga, você está arrasando! — elogiou ela batendo palminhas.

     — Posso retirar o sutiã de enchimento? — choraminguei.

     — Não pode.

     — Por favor... — Tentei convencê-la com uma carinha fofa.

     — Sua carinha fofa é horrível — disse ela sem conter uma risada.

     — Tá bom, você venceu. Vou ficar com o sutiã só dessa vez.

     Ela pareceu ficar ainda mais animada.

     — Falta dez minutos. Quer almoçar antes de ir?

     — Não, valeu.

     — Quer comer junto do seu futuro namorado, não é? — Geo me cutucou com o cotovelo. Corei levemente.

     — Não. É só que não estou com fome. — Dei de ombros para disfarçar.

     — Fofinha, eu te conheço têm anos.

     — Mas ficou afastada de mim por meses e eu mudei muito — rebati dando língua.

     — Sim, já percebi suas horríveis mudanças. Coitada. Vou ter que botar juízo na sua cabeça de novo. — Geo deu tapinhas na minha cabeça.

     — Errado. Você vai ter que tirar o juízo da minha cabeça.

     Acabamos por rir daquilo e alguns segundos depois ouvimos uma buzina do lado de fora.

     — Deve ser ele! — adiantou-se Geovanna indo pegar as chaves para abrir a porta.

     Respirei fundo e a segui para porta de entrada, esperando que encontrasse a chave certa.

     — Droga de chave! Eu nunca encontro você quando quero — murmurou ela, zangada consigo mesma.

     Abriu e lá estava ele em um carro que não consegui identificar, mas era branco e conversível. Sempre adorei esse tipo de carro. Ele acenou e começou a sair do carro.

     — Lembre-se — ela sussurrava em meu ouvido —, seja sexy e sedutora. Ele tem que ser seu, amiga. E caramba! Ele é mais gostoso ao vivo!

     Por fim, ela me deu um empurrão que me fez desequilibrar por um momento, mas nada de quedas! Ele ofereceu seu braço para me acompanhar. Aceitei. Dentre seu terno branco (o mesmo que ele usou pra me buscar no hospital), dava pra sentir alguns de seus músculos.

     — Não sabia que a Hello Kitty, ficava mais linda fora do colégio. — Ele piscou pra mim.

     — Ah, obrigada — as palavras saíram de mau jeito.

     O Dani abriu a porta para que eu entrasse em seu carro chique e a fechou. Entrou no banco do motorista e deu a partida.

     — Vamos mesmo apenas pra sua casa? — questionei arqueando uma sobrancelha, surpresa.

     — Claro. — Ele sorri.

     — Não parece.

     Não respondeu, apenas soltou uma risadinha e me levou pra sua casa. Era grande. Maior que a minha, com certeza. Abriu novamente a porta para que eu saísse e ofereceu seu braço para mim. Mais uma vez eu estava sentindo aqueles músculos. Era tão bom... Espero que mais vezes eu tenha oportunidades como essa. Procurou a chave e achou mais rápido que a Geo — e posso apostar que naquele chaveiro havia muito mais que o dela.

     — Espero que não se incomode com a bagunça — diz o mesmo meio envergonhado e abriu a porta, fazendo um gesto para que eu entrasse.

     — O meu quarto é uma bagunça, sua casa é arrumada — falei assim que entrei, com ar brincalhão e ele riu.

     Quando ele ia me puxar para sei-lá-onde, uma mulher com cabelos mais brancos do que negros apareceu na sala, com um roupão branco e uma taça de vinho em uma das mãos. Seus cabelos estavam bagunçados e ela bocejou antes de nos ver...

     De imediato seus olhos cintilantes verdes bateram em mim. Na hora eu soube que ela era a mãe do Dani. Lembrava dela na “maravilhosa” reunião que decidiu que eu deveria limpar privadas por uma semana. Seu olhar encontrou o meu e aquilo acabou que me deixou nervosa. Era como se aqueles olhos pudessem enxergar o mais profundo da minha alma.

     — O que essa garota está fazendo aqui? — questionou ela séria num tom que eu mal sabia se ela queria fuzilar eu ou o Dani.

     — Eu... Eu convidei ela.

     A expressão de Rebeca — vulgo mãe do Dani — ficou dura e ela passou a segurar a taça de vinho com mais força. Tanta que as juntas de seus dedos ficaram esbranquiçadas.

     — Ela vai me ajudar com a música pra Carol — adicionou ele rapidamente.

     — E tinha que ser na minha casa?

     — É, eu...

     — Tem algum problema? — indaguei, fazendo ambos se virarem pra mim.

     Claro que tinha um problema. Eu era o problema.

     Dani lançou um olhar para sua mãe e quando a mesma abriu a boca para dizer alguma coisa, Júlia apareceu.

     — Senhora Whiston, por que não vamos ali conversar sobre uma coisa? — disse ela da maneira mais doce possível.

     Dani segurou meu pulso e tudo que consegui ver depois foi a taça se espatifando na mão de Rebeca. Quem sabe aquilo fosse uma mensagem indireta pra... mim?

     Ele me guiou até um quartinho (que era grande demais para eu usar diminutivo, mas ok) onde havia vários instrumentos, até mesmo uns que eu nunca tinha visto na minha vida. O que mais me chamou atenção foi um lindo piano branco no centro.

     ★Dica 217 = Quando estiver em um local diferente, faça elogios (uma nota muito importante é: não compare uma casa super-ultra-mega-chique com seu quarto).★

     — Qual instrumento é melhor pra você? — questionou ele.

     — De preferência o piano.

     — Então pode ficar à vontade. Vem.

     Fomos até o piano no centro e sentamos no banquinho sem encosto.

     — Já escolheu alguma música? Ou alguma opção? — perguntei enquanto me ajeitava.

     — É, eu andei olhando algumas. Acho que a mais legal que eu achei foi essa aqui — diz ele procurando entre algumas folhas que estavam jogadas nas teclas do piano.

     Alguns segundos depois ele conseguiu achar e a pego, entregando-me em seguida. Li por um momento. A letra da música era bonita.

     — Aprovado? — perguntou ele com um toque de curiosidade na voz.

     — Claro, a letra é linda, mas... é um dueto.

     — E por que você acha que está aqui?

     Arregalei os olhos quando percebi o que ele queria dizer.

     — Peraí, você quer que eu cante com você?

     — Hm, por que não? — O mesmo sorriu.

     Mostrei o melhor sorriso que eu poderia mostrar em resposta. Ele me pareceu feliz com isso.

     — Ao invés de cantar uma, que tal cantar duas músicas? — sugeri antes de começarmos a ensaiar.

     — Conhece outra?

     Afirmei com a cabeça.

     — Não sei se tem muito a ver com o aniversário, mas... também tem uma letra bonita e é um dueto.

     — Pode cantar? — pediu ele.

     Cantei a primeira parte e ele pareceu gostar da música (pra falar a verdade, eu queria que ele tivesse gostado mais da minha voz).

     — Então vamos cantar duas músicas. Eu te ensino a minha e você me ensina a sua.

     — Fechado. — Apertamos as mãos.

     Fiquei impressionada com a capacidade incrível que o Dani tem de tocar piano. E em pensar que há alguns meses atrás eu achava que ele era um folgado... Parece que ele anda bem ocupado de vez em quando. Agora que fiquei curiosa em saber se ele toca todos os instrumentos que existe aqui no quartinho (que continua sendo grande demais pra eu chamá-lo assim).

     A voz dele era muito bonita. Bem melhor que a minha, sem a menor dúvida. Eu me sentia pequena ao lado dele em relação a isso. Ele não sabe tocar perfeitamente, mas sabe várias notas e músicas. O ensaio foi meio que uma troca de ajudas. As notas que ele não sabia eu ensinei e as notas que eu não sabia ele me ensinou, além de cada um ter ensinado um ao outro suas respectivas músicas.

     ★Dica 218 = Em um ensaio, faça uma troca de ajudas (se for uma pessoa que você gosta, faça isso mais pra passar mais um tempinho com ela).★

     A tarde que passei ensaiando ao seu lado foi perfeitamente agradável. Ele ficou impressionado com minha capacidade de fazer as notas mais rápido que ele. Demos boas risadas e até fizemos uma aposta de quem tocava a música de Beethoven (Für Elise) mais rápido. Ganhei.

     — Acho que terminamos — anunciei.

     — Pois é, eu me diverti muito.

     — Também me diverti e fiquei impressionada pelo fato de você saber tocar piano.

     — Ah, obrigado. — Um dar de ombros. — Qual é, eu nem sou tão bom assim. Fazia tempo que não tocava.

     — Qual outro instrumento você toca? — questionei curiosamente.

     — Só violão. Não fui muito de tentar tocar outros tipos de instrumentos — suspirou e de repente um sorriso surgiu em seu rosto —, mas eu bem que gostaria de aprender a tocar guitarra tão bem quanto você.

     — Posso te ensinar um dia. — Dou de ombros levemente.

     — Seria uma honra ver uma moça bonita enquanto estiver aprendendo.

     Por um momento estranhei o fato dele ter sido tão... formal. Só que alguma coisa me incomodava. Eu já havia ouvido aquilo em algum lugar... A carta! A carta do meu admirador... Quer saber, diário? Isso deve ser só coincidência.

     — E seria uma honra ter um garoto lindo pra ensinar — respondi sorrindo, mesmo com as bochechas fervendo.

     Nada melhor do que terminar um dia perfeito, flertando com um garoto perfeito. Achei até um pouco de graça de vê-lo um pouco corado. Tão fofo; tão lindo; tão perfeito; tão gosto... Droga! Eu vou matar a Geovanna! Com o Ícaro eu pensei a mesma coisa. Será que o espírito de patricinha dela está grudando em mim? Se for isso... Pera que eu to indo ali me jogar da ponte e já volto.

     ★Dica 219 = Não deixe com que nenhum tipo de espírito de patricinha grude em você (se você nasceu com isso, desculpa, mas você é um caso perdido. #EuContraPatricinhas).★

     Ah, novamente seus olhos estão cravados nos meus e mais uma vez quero descobrir cada segredo escondido por trás de seus olhos. O que ele está pensando? Em mim? Ou em sua namorada? Beijá-lo? Eu deveria? Eu me atreveria? Faria sentido? Depois de ter admitido por partes meu sentimento? Depois do beijo, ele teria coragem de dizer alguma coisa? Qualquer coisa? Droga, estou me enchendo de perguntas como sempre faço.

     ★Dica 220 = Não se encha de perguntas (perguntas são do mal, cara, elas te fazem ficar na dúvida *emoji chorando*).★

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