A reconstrução do ninhoHoje, com as mãos firmes e o coração pulsando de expectativa, começo a montar os móveis do quarto do bebê. Cada peça que encaixo é mais que madeira e parafusos, é um símbolo do recomeço e da minha determinação de criar um ambiente seguro e repleto de amor para o meu filho. O berço que escolhi é branco, simples, mas lindo, e representativo da pureza com a qual desejo que ele viva. Montá-lo sozinha é um desafio que abracei para provar a mim mesma que sou capaz, que consigo reconstruir a minha vida tijolo por tijolo, mesmo quando a solidão insiste em bater à porta.Enquanto seguro cada tábua e parafuso, lembro-me da época em que meus pais passavam horas organizando os cômodos com uma ternura que parecia mágica. O berço branco me remete a esses momentos, onde o amor se fazia presente em cada gesto e em cada detalhe. Quando finalmente consigo colocar todas as peças no lugar, respiro fundo, sentindo uma onda de alívio e orgulho. E logo, posiciono-o cuidadosamen
O lar que renasceFinalizo os últimos detalhes com um misto de cansaço e alegria que me inunda o peito. Almofadas novas enfeitam o sofá da sala, tapetes lavados repousam impecáveis no chão, e lençóis frescos, com o suave aroma de lavanda, acariciam a cama. Cada objeto cuidadosamente colocado me faz sentir que a casa, antes desolada, agora pulsa com a vida que escolhi reconstruir. O sítio exala um cheiro acolhedor lavanda, bolo recém-assado e a memória de dias melhores e, por um breve momento, posso acreditar que o lar que sempre desejei está se tornando realidade.Hoje, decidi comemorar de maneira simples: Cozinhei um prato modesto, um arroz soltinho, legumes coloridos e um frango assado que encheu a cozinha com seu aroma caseiro.Sentei-me à mesa sozinha, sozinha não! A criança em meu ventre me faz companhia, não me sinto só! Cada mordida era um lembrete de que a vida se refaz, que os sabores do passado misturam-se aos novos para compor o futuro que estou construindo. Enquanto
Dias de HarmoniaO sol invade a varanda do sítio como um abraço caloroso. Já se passaram quase quatro anos desde que Julian nasceu, e cada manhã aqui tem um sabor de plenitude. Estou sentada na cadeira de balanço, segurando minha caneca de café, enquanto o cheiro forte e doce do café fresco se mistura ao perfume do manjericão e das margaridas recém-floridas. Julian aparece na porta da cozinha, ainda de pijama, com os olhos castanhos do papai: brilhantes, curiosos, cheios de ternura.— Mamãe, já fez meu mingau? Ele pergunta, a voz suave, puxando meu avental.— Quase pronto, meu amor. Respondo, sorrindo. Levanto-me devagar, sentindo a brisa matinal acariciar minha pele. Enquanto coloco o mingau na panelinha colorida que ele tanto adora, logo me vejo a alegria simples estampada em seu rosto quando vejo o sorriso no canto de sua boca.— Obrigado, mamãe! Ele fala, pegando a colher com cuidado e experimentando um pouco, franzindo o cenho antes de fechar os olhos de prazer.Observo-o co
Rotinas e Pequenas AventurasAcordo com o som distante de galinhas espalhando penas pelo quintal. Abro os olhos num instante e percebo que Julian já está acordado desde cedo, provavelmente explorando o mundo antes mesmo de mim. Saio do quarto e o encontro sentado na soleira da porta, observando o pátio com o rostinho sonolento iluminado pelos primeiros raios do sol.— Bom dia, meu tesouro, agachando-me para cruzar olhares com ele.— Bom dia, mamãe, bocejando Julia me pede. Posso ver as galinhas?— Claro, vamos juntos, atendo ao pedido.Ele segura minha mão e, calçando suas botas coloridas, me acompanha até o galinheiro. Ali, ele cumprimenta cada ave como se fossem velhas amigas:— Bom dia, Dona Penélope! Oi, Dona Gertrudes! E estende migalhas de pão que guardamos para elas.Observo a alegria simples em sua carinha quando as galinhas ciscam ao seu redor. Eu, que antes vivia trancada em escritórios e planilhas, agora faço parte de uma rotina que inclui entrega de ração, recolha de o
Entre Girassóis e PlanilhasAcordo antes mesmo do canto do galo, como se o sítio já soubesse que hoje seria um dia especial. Espio pela fresta da janela e vejo os primeiros raios de luz atravessando as nuvens, iluminando o campo. Meu coração se enche de gratidão. Desço as escadas com cuidado para não acordar Julian, mas ele já está sentado no degrau, brincando com uma pequena pá de plástico e observando os girassóis que plantamos na semana passada. Seus olhos castanhos brilham quando me vê:— Mamãe! Dormi pensando no sol que vai ajudar as plantas a crescer.— Bom dia, meu amor respondo, pegando-o no colo. — Hoje eles vão receber água fresquinha.Sentamos lado a lado na soleira alguns minutos beijo suas bochechas com vontade de apertá-las mas sei que Julian não gosta pois diz que já é um homenzinho e não um bebê. Juntos, seguimos pelo caminho de pedra até o canteiro. Ele segura o regador amarelo com sua pouca força infantil e, com as duas mãos, molha as mudas que começam a formar
O Jogo das SombrasRaul parece estar se afundando em seu próprio medo. Eu vejo o suor escorrendo por sua testa, os olhos evitam os nossos como se buscassem uma fuga que não existe. Mas ele está encurralado, sem escolha. Todos sabem que, em momentos como esse, a verdade é a única saída, mesmo que ela doa.Eu respiro fundo, tentando conter a crescente raiva que sinto. O que Raul sabe pode ser a chave para desmantelar toda a operação dos Cordobeses. Mas o que ele nos revela, ao invés de ser uma resposta, só adiciona mais complexidade ao enigma.— Eu não sei onde El Diablo está, mas sei quem sabe. Ele repete, e sua voz falha. Ele me encara com os olhos esbugalhados, buscando algo em nosso semblante que indique clemência. Não há nada em minha expressão, nada que o tranquilize.Eu me inclino para frente, aproximando-me o suficiente para ver a hesitação em seus olhos. Raul não é mais o homem de antes. Ele parece um fantasma agora, alguém que sabe que sua hora está chegando e que, por mais qu
O Amanhecer AlexandroO sol mal surgiu no horizonte quando despertei, sentindo a brisa matinal esgueirar-se pela fresta da janela. O som distante dos pássaros se misturava ao leve farfalhar das cortinas, e eu permaneci deitado por alguns instantes, deixando aquele momento de transição entre o sono e a vigília me envolver.Respirei fundo. O cheiro familiar de café fresco e pão torrado alcançava meu quarto, guiando meus passos até a cozinha. Desci as escadas lentamente, sentindo o piso frio sob meus pés descalços. Ao chegar, encontrei Dona Catarina, a governanta que cuidava de mim desde pequeno, servindo o café da manhã com o mesmo zelo de sempre.— Bom dia, meu menino — disse ela, sorrindo com carinho enquanto colocava uma xícara de café diante de mim. — Dormiu bem?— Melhor agora com esse cheiro delicioso de café — respondi, levando a xícara aos lábios. — A senhora sempre sabe como melhorar meu dia.Ela riu baixinho, sentando-se à minha frente.— É meu dever cuidar de você. E também
O Encontro com Marcelo FelícioChegando à sede de sua empresa, Alexandro Barroso foi recebido por Marcelo Felício, chefe de segurança e homem de confiança há anos. Marcelo era um profissional experiente, dedicado e sempre atento a qualquer eventualidade.— Bom dia, Alexandro — saudou Marcelo, acompanhando-o em direção ao elevador privativo. — Tudo tranquilo até agora. A equipe está de olho em qualquer movimentação fora do comum.Alexandro assentiu.— Fico mais tranquilo sabendo que você está no comando disso. Como está a equipe?— Motivada e bem treinada. Estamos sempre prontos para qualquer situação. E sobre a reunião de hoje, tudo está organizado para garantir privacidade total.Alexandro sorriu levemente. Marcelo era um profissional de extrema confiança, e saber que ele cuidava da segurança o permitia focar nos negócios.Os dois entraram no elevador, e Marcelo pressionou o botão que levava ao andar da diretoria. Enquanto subiam, Alexandro aproveitou o momento para abordar outro as