Capítulo 5

Com o roubo e o desespero rondando, uma ideia sombria, mas necessária, começou a tomar forma na mente de Miranda. A geladeira vazia, a energia cortada e a humilhação do jantar desastroso a impulsionaram a buscar uma solução imediata, não importando o custo. A agiotagem, um tabu em seu bairro, tornou-se a única saída. Era melhor do que se vender, ela pensava.

Com o coração apertado, Miranda procurou contatos e, após conversas estranhas e olhares desconfiados, conseguiu um empréstimo com juros exorbitantes. A quantia era pequena, apenas o suficiente para o essencial, mas permitiu que ela comprasse um celular mais simples e um chip novo. O aparelho em suas mãos era mais do que um meio de comunicação; era sua ferramenta de sobrevivência.

Com o novo celular, Miranda decidiu mergulhar de cabeça no universo que Peterson havia lhe apresentado. Ela criou novos perfis em aplicativos e grupos especializados em lactação adulta e fetiches relacionados. Desta vez, não haveria timidez. Ela seria direta e explícita sobre sua condição, anunciando abertamente o que poderia oferecer. A vergonha que sentiu no encontro anterior havia sido substituída por uma fria determinação, de quem estava cansada de ser rejeitada nas entrevistas de emprego.

A caixa de entrada de suas mensagens começou a encher rapidamente. Homens de diferentes idades e perfis, alguns com propostas detalhadas envolvendo sexo e outros mais curiosos, manifestavam interesse. Miranda lia cada mensagem com um olhar calculista, avaliando as ofertas e os possíveis riscos. Ela não buscava romance ou conexão; buscava apenas o dinheiro que a tiraria do fundo do poço.

Seus dias se transformaram em uma sucessão de conversas online e agendamentos discretos, esperançosa para encontrar Peterson. Colocou na cabeça que cada encontro era uma transação, uma troca fria de seu tempo e de seu corpo (seios) por notas que garantiriam sua subsistência.

O primeiro encontro foi em um shopping. Ela foi com o mesmo vestido florido surrado, dessa vez, sem maquiagem, deixou os cabelos presos, não queria passar a ideia de que pretendia transformar aquilo em um encontro romântico ou sexual. O combinado era se encontrarem na praça de alimentação. Ela iria até o espaço reservado para mães e seus bebês, esgotar os seios com a bomba extratora, colocar em um copo com canudo, e levar para ele.

Os dois se encontraram, se cumprimentaram com beijo no rosto. Ele era baixinho, um pouco acima do peso, disse ter vinte e seis anos, parecia bastante careta, sem tatuagens, usava roupas clássicas simplórias. Sentaram por alguns minutos, ele lhe ofereceu um lanche e suco, mas disse que preferia tomar direto da fonte, e que não tinha muito dinheiro para mudar o acordo. Ele foi incrivelmente educado e simpático, enquanto Miranda só ficava rindo e balançando a cabeça, que sim ou não, se sentindo muito nervosa. Ela disse que preferia seguir com o acordo, recusou o lanche e tudo mais, mesmo estando faminta.

Ela fez o que combinaram. Quando voltou com o copo cheio, ficou constrangida, com a sensação de que todos lá estavam sabendo de tudo. Saiu às pressas, após ele degustar pelo canudo, e fazer a transferência de trezentos reais. A sensação foi de vazio, frustração, diferente da outra experiência. Alguns dias depois, uma empresa a chamou para fazer uma entrevista, e só por isso ela estipulou encontros, apenas para obter o dinheiro do agiota.

O segundo encontro foi marcado em um clube. Esse rapaz era todo desenrolado, tagarela e bonito. Victor mandou fotos até do pênis, deixou claro que queria o pacote completo, disse que não tinha dinheiro para pagá-la, mas que poderiam fazer um "treino experimental" só de curtição, tomar um lanche, usar a piscina, por conta dele. Ele era lindo e a proposta tentadora: forte, tatuado, moreno.

Miranda estava carente, em uma maré de azar. Aceitou o convite, gastou dez reais com o ônibus, foi com uma calça legging transparente velha, bem maquiada, regata sem sutiã, com um body por baixo. Achou que poderia usar o body de maiô na piscina. Ao chegar na frente do clube, Victor ficou esperando. Ela chegou usando sandálias rasteiras, ele a beijou no rosto, cumprimentou.

Perguntou se ela tinha levado o tênis para treinarem. Ela não tinha entendido muito bem, ficou desconcertada, nervosa, pediu desculpas. Ele foi simpático, disse que iriam precisar ocupar o tempo de outra forma, fazer outros exercícios cardiovasculares. Ele era sócio, a levou para os armários, ficou reparando nela, que parecia pobre, simplória. Enquanto guardavam as coisas, ele perguntou se ela era do "job". Miranda ficou sem reação, incrédula, o olhando.

Disse que não era do "job", e que só foi lá para ter algo casual, ficou nitidamente nervosa. Ele tentou contornar a situação, a chamando para ir à sauna. Com um sorriso gentil, disse que queria um tempo a sós com ela, logo. Miranda se sentiu completamente sem jeito, a vontade de desistir era enorme, mas ele a chamou para ir na piscina com uma gentileza inesperada. Ela, ainda hesitante, aceitou. Se trocaram em silêncio e seguiram para a área da piscina. Victor, com seu corpo esculpido e tatuagens que dançavam pela pele morena, era de uma beleza quase irreal.

Sentados à beira da piscina, ele pediu um suco e, com um olhar atencioso, ofereceu a ela qualquer coisa da lanchonete. Mas Miranda estava completamente retraída, seu coração batia forte no peito, uma mistura de nervosismo e uma crescente onda de vergonha. As palavras pareciam presas em sua garganta, e o sentimento de fracasso começou a inundar cada célula de seu corpo. Ela não conseguiria. Não ali, não daquele jeito. Aquele cenário de clube, com pessoas ao redor, só amplificava seu arrependimento por ter aceitado a proposta. Com a voz quase num sussurro, ela finalmente conseguiu dizer:

— Não vou conseguir fazer o combinado.

Ele percebeu o nervosismo dela, um lampejo de compreensão cruzando seus olhos. O sorriso que antes era galante, agora se tornou mais suave, quase terno. Pareceu deduzir que ela não era acostumada a ficar casualmente com homens, que aquela situação toda era nova e desconfortável para ela. Rapidamente, Victor a tranquilizou:

— Ei, calma. Não tem problema nenhum, de verdade.

Ele se inclinou um pouco, olhando-a nos olhos, serviu amendoins, e continuou:

— Podemos só ficar de boa, conversando, curtindo o dia. Zero pressão, ok?

A sinceridade em sua voz era genuína. Ele então, com uma franqueza surpreendente e sem julgamentos, perguntou:

— Você está precisando muito de dinheiro? É por isso que ofereceu o leite em troca?

A pergunta pairou no ar, mas a forma como ele a fez, sem qualquer malícia, fez com que Miranda sentisse um alívio inesperado em meio à sua vergonha.

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