O fim de semana de Lia foi um purgatório. O dinheiro que Lysandro lhe dera era um sinal de que ele era um homem de palavra, apesar de tudo. Usou uma parte para comprar, de imediato, os remédios mais urgentes da mãe. A facilidade com que o dinheiro resolveu problemas que pareciam intransponíveis agiu como um anestésico amargo, silenciando por um tempo a voz da consciência que gritava sobre a vergonha.
Mas o silêncio durou pouco. Assim que colocou a cabeça no travesseiro na sexta e no sábado à noite, o rosto de Lysandro voltava, frio, crítico, e a proposta, brutal, repetia-se como um mantra maldito: “Só precisa se tocar. Expor-se, sem que eu te toque. Eu observo.”
Lia já se sentia sujja. Não por limpar o chão ou cozinhar para os outros, mas por ter quebrado o único juramento que fizera a si mesma depois do trauma de infância: que seu corpo seria dela, intocável, e que ela jamais o usaria como moeda. O fato de ser virggem e ter crescido reprimida, escondendo-se de todos e até de si mesma