Narrado por Gustavo Henrique Oliveira Andrade
O motor do carro ronronava baixo na estrada de terra. Lorena dormia com a cabeça encostada na janela, o cinto atravessando o peito. O cabelo preso num coque desfeito, a pele pálida, mas serena.
Ela foi.
Sem barganha.
Sem cobrança.
Sem esperar mais do que a verdade que eu ainda nem sei se posso dar.
Eu olhava pra frente. Mas era como se estivesse olhando pra trás.
Pra tudo que me tiraram.
Pra tudo que ainda ia reconquistar.
O celular vibrava no console.
Mensagem recebida.
Aplicativo criptografado.
Número: desconhecido — mas eu sabia. Só podia ser ele.
Toquei na tela. Abri devagar. E ali estava:
> "Lugar: Marina do Flamengo.
Hora: 03h17.
No cais abandonado do lado leste."
(pausa)
> "Só vem com sangue no olho e silêncio na boca.
O resto eu te devolvo no aperto de mão."
Assinei embaixo com o olhar.
Fechei o celular.
Renan respondeu.
O mesmo filho da puta leal que me viu quebrar os dentes numa briga de boteco na faculdade — e limpou o sangue do