Capítulo 68 — Do outro lado do prédio
Narrador:
Cleo deixou o garfo sobre o prato, sem olhar para ele. Quando falou, sua voz era baixa, rouca, como se lhe custasse sair.
— Eu sempre vivi à sombra de Marianne...
Nerón ergueu os olhos.
—Cleo...
—Não —ela o interrompeu, sem olhar para ele—. Deixe-me terminar. Ele fechou a boca. Apenas assentiu, em silêncio. —Apesar de ter sido reconhecida pelo meu pai, ela se encarregou durante toda a vida de me fazer sentir uma intrusa, uma mancha, um erro do qual todos deveriam se envergonhar.
Cleo apertou os lábios antes de continuar. —Antes de me leiloar, fui pedir ajuda a ela. Nada mais do que isso. Ajuda para estudar, para não abandonar a faculdade. Ela me expulsou do apartamento como se eu fosse uma ladra. Disse que não era responsabilidade dela, que já era o suficiente ter me permitido ter o sobrenome dela. Nero não se mexia. Mal respirava. —E hoje... —ela continuou, com a voz trêmula pela raiva que subia do peito —hoje entro no seu escritório e a