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O Tio da minha AMIGA
O Tio da minha AMIGA
Por: Francis Wil
Capítulo 1 — Todos fizeram ofertas, mas eu ganhei.

Capítulo 1 — Todos fizeram ofertas, mas eu ganhei.

Narrador:

O tapete do corredor amortecia seus passos, mas dentro de sua cabeça, tudo ressoava como uma marcha fúnebre.

— Cleo, pense — disse a si mesma — É só uma noite, uma maldita noite, e eles pagarão o semestre inteiro. Não... toda a faculdade... toda. Você poderá se formar, ser alguém. Não é prostituição se for por um sonho, certo? —A voz dentro dela era fraca, trêmula, mas insistente. —Só desta vez, só hoje, só por isso. —Ela repetia as frases como uma oração enquanto avançava pelo corredor silencioso de um hotel luxuoso demais. Cheirava a perfumes caros, a pecado oculto entre paredes à prova de som. —Uma noite... só uma, e uma fortuna em troca da coisa mais inútil que tenho. Quem dá valor à virgindade hoje em dia?

Quando chegou em frente ao quarto, seu coração batia como um punho histérico dentro do peito. O número estava escrito em um cartão branco que lhe deram sem nome, sem explicação. Apenas uma indicação: “Entre, está aberto”. Ela respirou fundo e empurrou a porta.

O lugar estava na penumbra, iluminado apenas pelas luzes fracas das lâmpadas ao lado da cama. O quarto estava vazio. Não havia ninguém. Mas sobre a cama... uma caixa preta com um bilhete escrito à mão, sem assinatura: Vista isso. Ela ficou paralisada. Dentro da caixa, um conjunto de lingerie que ela nunca imaginaria ter entre os dedos. Preta, com rendas quase invisíveis, um tecido que parecia feito para pecar. E ao lado, uns sapatos de salto alto que deixavam mais pele exposta do que coberta. Cleo engoliu em seco. Olhou à sua volta, mas não havia ninguém. Sentiu náuseas e depois raiva. Mas, no final, o medo prevaleceu. — Tudo isto é pela tua carreira, Cleo. Vais ser advogada. Vais formar-te. Você vai parar de implorar por bolsas de estudo e favores à sua meia-irmã. Apenas... faça isso. Ela se despiu lentamente. Sentiu o tremor em suas mãos ao vestir a peça minúscula. O frio do ar condicionado mordendo suas coxas nuas. O ardor nas bochechas. Ela não se olhou no espelho... não conseguia, a vergonha a dominava.

Os saltos altos foram mais difíceis do que o resto. Mas ela os calçou. Então esperou, minutos que se arrastaram como horas, de pé, de costas para a porta, como se isso pudesse lhe dar algum tipo de controle. Mordendo os lábios. Sentindo-se uma impostora em sua própria pele. E então... a fechadura girou e a porta se abriu, com uma lentidão torturante. Ela não se virou, não se moveu. Apenas se endireitou um pouco, cerrou os dentes. Sentiu a presença. O peso de uns olhos que a percorriam por trás como um laser quente. Passos firmes e medidos atravessaram o tapete até pararem atrás dela. O silêncio tornou-se denso. Cleo continuava ali, parada, rígida, sem se virar. Ela não queria confirmar o que temia, não podia. Sua respiração acelerou sem permissão. Então ela sentiu a proximidade, o calor do corpo dele atrás do seu, apenas separado. Um perfume que lhe parecia familiar, tão masculino e penetrante, como se a envolvesse sem tocá-la. Até que ele tocou. Seus dedos, firmes e quentes, roçaram a pele exposta de seus pulsos. Cleo deu um leve sobressalto, mas não se moveu. Ele continuou, traçando uma linha lenta e tortuosa em direção aos seus antebraços, depois subindo pelos braços nus até os ombros. A pele se arrepiou quando as mãos dele chegaram ao pescoço, não a apertaram, acariciaram, como se a desenhassem, como se quisessem conhecê-la, memorizá-la. E então... a boca. Um beijo, úmido e profundo, na curva do pescoço, outro mais acima e outro atrás da orelha. Cleo estremeceu com um gemido abafado. Não ousava se mover.

— Mmm... — ele grunhiu, baixo, gutural, como se cada segundo lhe custasse muito autocontrole.

Ela sentiu o ofego contra sua nuca, o tremor em suas próprias pernas, a umidade traiçoeira entre os quadris. As mãos dele desceram pela clavícula até o decote. Ele roçou a borda da renda. Acariciou, apalpou, apertou. Sem piedade. Tocando-a com fome, sem dissimulação, como se ela lhe pertencesse. Como se já fosse sua. Ela apertou as pálpebras com força. E então, o inevitável. Ele a segurou pela cintura e a girou com um único movimento. Ela manteve os olhos fechados e apertados, como se não olhar pudesse apagar o que estava sentindo.

—Abra os olhos —ordenou ele, sua voz mais rouca do que nunca. Ela tremeu. —Vamos, Cleo. Abra-os. Quero ver você agora.

Ela abriu-os muito lentamente e o mundo desmoronou-se.

—Não... —sussurrou ela, quase inaudível, como se quisesse negar o que já era evidente.

Nerón Valmont estava à sua frente. O advogado... o tio da sua amiga... o seu professor.

O mesmo que ela admirava. O mesmo que a intimidava. O que tinha lido todos os seus ensaios com aquele olhar que parecia despir-lhe na aula. O mesmo que agora a tinha comprado e a olhava com uma mistura de desejo e poder que era assustadora.

—Você...? —conseguiu dizer, com a voz quebrada.

—Surpresa? —Ele sorriu, apenas.

Ela olhou para ele pela primeira vez. Olhou para ele de verdade. Com a garganta seca, as mãos tremendo.

—Eu não sabia... —gaguejou —Eu não sabia que... você...

—Você teria preferido um desconhecido? Um anônimo? Um degenerado qualquer com dinheiro? —perguntou ele, sem levantar a voz —Lamento muito decepcioná-la, Cleo, mas fui eu.

Ela deu um passo para trás. Ele a seguiu.

—Por quê?

—Porque eu pude, porque eu quis —respondeu ele— Porque todos fizeram ofertas, mas no final eu ganhei.

Ela abriu a boca... fechou a boca e abriu novamente.

—Você não pode... não pode fazer isso comigo —sussurrou ela.

Ele sorriu, com os lábios levemente curvados. Sem nenhum traço de doçura.

—Na verdade, eu não fiz nada a você. Esta noite, sua virgindade tinha um preço, eu apenas paguei.

—Mas não... —ela tentou— eu não pensava que...

—Que eu seria capaz —completou ele, e então a encurralou contra a parede sem tocá-la, apenas com sua presença, com aquela sombra que sempre a oprimia desde o primeiro dia.

—O que você quer de mim?

Ele se inclinou, muito perto. O perfume amadeirado, sua respiração controlada, o brilho perigoso nos olhos. Ela engoliu em seco e fechou os olhos. Inclinou levemente o rosto para ele, como se se entregasse. Como se aquela palavra estivesse prestes a nascer entre seus lábios. E então... Ele a levantou nos braços. Ela sufocou um suspiro. Não era uma carícia. Não era uma insinuação. Era pura posse.

Ele a levou até a cama e a deitou com uma lentidão tão perigosa quanto uma arma carregada. Ele se inclinou sobre ela, mas não a tocou, apenas a olhou. E então... roçando os lábios em seu ouvido, ele disse algo em voz baixa. Cleo abriu os olhos de repente. Ficou imóvel. Seus lábios entreabertos, sua respiração ofegante. O peito subia e descia violentamente. Ele permaneceu ali, tão perto que o ar parecia pegar fogo entre seus corpos. Sua mão roçou a borda da coxa dela. O silêncio se tornou insuportável. Então, ela fechou os olhos novamente.

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