Capítulo 5
Ester Rossini
A manhã estava sendo difícil. Ouvir os comentários daquelas mulheres me deixou para baixo e me fez perceber que, até que eu arrume meu rosto, jamais terei uma vida normal. Apesar de ter medo de fazer uma operação, talvez seja necessária no futuro e, quem sabe, dessa vez seja possível fazê-la.
Apesar dos comentários, Samuel até que soube mexer com meu ego e me tornar uma mulher desafiadora. Se ele quer tanto assim me ter em sua cama, terá de se esforçar mais — e tenho certeza de que, quando ver meu rosto, ele vai desistir. E eu permanecerei com meu emprego, mesmo que ele nem sequer queira olhar nos meus olhos.
Eu não era louca de me apaixonar por ele, mas ainda assim adorava um bom desafio. E seria bom se, algum dia, um homem me desejasse mesmo depois de ver o meu rosto. Enquanto íamos para um lugar calmo para almoçar, o ouvi falar com alguém pelo celular e ele parecia irritado. Não quis me intrometer e apenas continuei a ouvir sua conversa sem muito interesse.
— Senhorita Rossini — chamou, após finalizar a chamada.
— Sim, senhor — respondi sem olhá-lo, já que eu estava sentada no banco da frente junto do motorista.
— Eu tenho de fazer os eventos da minha agenda agora à tarde? — questionou, passando a mão pelo cabelo. Ele parecia bem irritado.
— Sim, senhor. Não é possível mudar sua agenda hoje — respondi.
— Ótimo. Procure à noite um lugar reservado, onde eu possa beber e me encontrar com alguma mulher disposta a me divertir na cama — disse, me fazendo apertar as mãos.
— Senhor, este não é meu trabalho. Estou aqui para ajudá-lo a ser um modelo que atende seus compromissos e a cuidar de suas roupas, mas eu não vou ajudá-lo a arrumar uma prostituta para passar a noite. Tenho assuntos mais importantes para lidar — respondi, ouvindo-o resmungar.
— Venha tomar uma bebida comigo à noite, então — pediu. Balancei a cabeça em negativa.
— Não somos próximos, senhor. Vamos manter o profissionalismo, sim — pedi, e o motorista estacionou no restaurante.
— Tenha um bom almoço, senhor Bernard. Nos encontraremos em meia hora — disse e desci do carro, seguindo para longe do restaurante. Eu não iria deixar que ele visse meu rosto; na verdade, ninguém podia ver.
Segui para outro restaurante, fiz meu pedido e, depois de pronto, paguei e fui para um lugar afastado — eu não poderia entrar em um banheiro para comer, afinal de contas. Vi uma praça deserta em frente a um lago e me aproximei, sentando-me na beirada. Abaixe minha máscara, comecei a comer meu sanduíche e a beber meu refrigerante.
Os minutos se passavam, e eu aos poucos terminava meu sanduíche. Agora só faltava o refrigerante, e eu ainda teria dez minutos para chegar até Samuel.
— Então é aqui que você veio almoçar? — Assim que ouvi a voz dele, puxei minha máscara para cobrir meu rosto e me levantei, para depois olhar para ele.
— O que faz aqui? — perguntei, e ele sorriu.
— Fiquei curioso para saber o que você comeria e se poderia ver seu rosto, mas fiquei surpreso demais ao vê-la comer em frente ao lago um simples sanduíche sem erguer o rosto nenhuma vez — disse, se aproximando e ficando ao meu lado.
— Você… viu meu rosto? — perguntei hesitante, apertando a barra da camisa. Ele não podia ter visto e ficado tão calmo, não é?
— Não, eu não vi nada, já que você não ergueu a cabeça em momento algum. Duvido até que os peixes desse lago tenham visto seu rosto — disse, despreocupado, olhando para a água do lago.
— Eles provavelmente fugiram assim que viram meu rosto — disse, desviando o olhar e virando o rosto para o outro lado.
Samuel Bernard
Ester realmente não dava o braço a torcer, e eu não deixaria barato também. Ela ainda estaria na minha cama até o final desta semana — até porque eu ainda tenho cinco dias para conquistá-la. Vou acabar com essa pose de durona e ela vai gritar e implorar pelos meus toques, para ser minha.
Durante o caminho até o restaurante, recebi um telefonema do meu pai dizendo que eu tinha de parar de me envolver em escândalos com mulheres famosas e prostitutas que só desejavam o meu dinheiro. Ele também me perguntou se eu já havia levado minha assistente para a cama. Eu não o respondi; ele não estragaria meus planos assim.
Depois da ligação, queria aliviar o estresse, mas Ester não me ajudou. Após o carro estacionar, ela saiu para almoçar longe de mim. Um pouco irritado, fiz meu pedido e comi sozinho. Depois, saí para uma caminhada, já que por ali não se via muitas pessoas. Ao longe, avistei um lago e uma pessoa sentada próxima a ele.
Me aproximei aos poucos e reconheci Ester. Ela havia abaixado a máscara e permanecia com o rosto baixo, como se não desejasse ser vista. Fui me aproximando sorrateiramente para tentar ver seu rosto, mas estava difícil. Quando estava a poucos metros, pude ver apenas um sinal pequeno do que parecia uma cicatriz em seu rosto. Era impossível ver mais do que aquela pequena marca, já que sua cabeça estava baixa.
Derrotado, suspirei e me aproximei dela, chamando sua atenção. Ela rapidamente cobriu o rosto com a máscara e, depois de se levantar, se virou para mim. Ela logo me perguntou se eu havia visto seu rosto, mas eu neguei — até porque o que eu tinha visto não dava para ter certeza.
Acabei fazendo uma brincadeira com ela, mas aparentemente não deu certo, já que ela virou o rosto para o lado.
— Não deve ser tão ruim o que você esconde aí. Sua personalidade é fria, mas você parece uma garota bem legal. Seria interessante lhe conhecer — disse, tentando animá-la.
— Não tente ser legal comigo, senhor. Sei o tipo de homem que o senhor é, e seus joguinhos não funcionam comigo — disse e passou a caminhar. Me virei e a acompanhei, ficando ao seu lado.
— É tão difícil assim nós nos aproximarmos? — questionei, e ela olhou para o céu.
— Sim, é. O senhor me quer em sua cama, e eu não quero perder esse emprego. Então, por favor, vamos ser profissionais e não tente esses joguinhos comigo — pediu. Sorri.
— Interessante, porque esses joguinhos é que tornam tudo mais interessante — disse, a seu lado.
— Não, você está enganado. Esses joguinhos não são interessantes. Até porque, no final desses jogos, nós dois podemos acabar perdendo algo — respondeu antes de entrar no carro.
— Garota difícil de lidar… mas ainda vou tê-la em minha cama.