O Segredo do Vale - Vol 1 - Série Os Viajantes
O Segredo do Vale - Vol 1 - Série Os Viajantes
Por: Ana Rocha May
Tudo começou porque soquei a cara de alguém

   Eu estava sentada no banco ao lado da porta do diretor aguardando. Minha velha mochila jogada diante dos meus pés era uma afronta à perfeição do corredor imaculado. O piso, apesar de ser de vinil pisoteado através dos anos, brilhava refletindo as luzes das lâmpadas fluorescentes. O cheiro do desinfetante usado na limpeza me fazia lembrar um hospital. Eu não combinava com essa escola. Mas as minhas opções haviam acabado após ter sido expulsa de praticamente todas as escolas da cidade. Porém, para minha desculpa, não havia tantas escolas assim em Belo Dourado. Morava em uma cidade pequena. Pequena o bastante para conhecer a maior parte dos habitantes. Foi na cidade de Belo Dourado que nasci, cresci e vi minha mãe morrer atropelada por nosso vizinho bêbado. Eu acabara de fazer quatorze anos. Não suportei acompanhar o carro fúnebre que seguia em marcha lenta, levando rua acima o corpo de minha mãe até o cemitério. Desvencilhei-me das pessoas que estavam distraídas demais com sua dor para prestarem atenção em mim, e corri por seis quilômetros até chegar às margens do riacho onde fazíamos piqueniques. O clima do inverno parecia chorar junto comigo. O frio e a chuva fina deixaram meus cabelos encharcados e gelados. Sentei-me encostada ao tronco de uma árvore abraçando os joelhos fortemente na esperança de ficar o mais encolhida e invisível que pudesse.

   Ela sempre dizia coisas doces; que um dia eu veria o quanto eu era especial e que sempre me protegeria. Mas não estava mais ali para cumprir suas promessas.

   Acordei com fachos de lanternas correndo o gramado e meu nome berrando de diversas bocas. Aconteceu há pouco mais de dois anos e ainda me sinto tentada a voltar ao riacho e passar outra noite encolhida embaixo da árvore. Meu pai assumiu a responsabilidade por minha criação. E meus tios ajudavam como podiam. Até se mudarem da cidade.

   Ouvi o som da ambulância que saía do estacionamento e foi se afastando até desaparecer por completo, levando a garota cujo nariz eu havia quebrado. Duda, que me acompanhava no momento da briga, estava a minha frente roendo as unhas e sacudindo o corpo para frente e para trás como um daqueles bonecos idiotas de posto de gasolina. Dei um tapa em sua mão para que parasse de roer as unhas.

   — Quer parar com isso? Até parece que é você quem vai entrar lá. — Apontei o dedão por sobre o ombro em direção à porta.

   — Ah, Krica. A garota é mimada. O diretor a protege. Não sei o que fará com você. E se te expulsar? Como vou ficar?

   — Duda, você não fez nada. Eu me ferrei, não você. Vá embora pra casa.

   Duda fez um beicinho. Seus olhos grandes e seu nariz pequeno e redondo davam a ela uma aparência quase infantil. Antes que recomeçasse a choramingar eu levantei.

   — Dane-se. Vou pra casa. — Saí andando sem olhar para trás.

   Ouvi os passinhos curtos e rápidos me seguindo, tentando acompanhar minhas passadas largas. O salto de minha bota ecoava no corredor acompanhando as batidas raivosas do meu coração. Não queria pensar muito no que me esperava em casa. Ao chegar na porta principal, diminuí o ritmo e parei. Inspirei profundamente e senti o ar seco, carregado de poeira. Estávamos no meio da primavera, mas o ar na cidade era sempre pesado, como se soprasse levando um fardo sobre as costas. O tempo raramente ficava úmido e chuvoso desde o dia em que minha mãe partiu. O verde vivo, predominante nos jardins da cidade, deu lugar à grama amarelada e folhas secas. As pessoas diziam que o clima mudou por culpa da ação do homem na natureza, mas eu acreditava que a existência de minha mãe é que deixava tudo mais bonito. Ou, talvez, tenha sido apenas a mudança de meu humor após sua morte.

   Duda me alcançou e caminhei ao seu lado, em silêncio, pelo estacionamento. Ela era mais baixa do que eu pelo menos uns quinze centímetros. Com seus um metro e sessenta, o rosto redondo e os cabelos pretos encaracolados parecia mais uma bonequinha. Porém as roupas não ajudavam muito. Costumava vestir calças cargo e camisa de malha larga, geralmente com estampa de camuflagem. Sua pele morena contrastava com minha pele muito clara.

   O estacionamento estava praticamente vazio com apenas alguns carros e os últimos curiosos que se demoravam somente para acompanhar o desfecho do show. Levantei o punho, abri um sorriso para minha platéia, e ergui o dedo médio ao pararmos ao lado de minha moto. — Suba, pirralha. Deixo você em casa.

   Duda continuou parada, olhando-me como se estivesse me avaliando, enquanto eu subia na moto.

   — Sabe que é inveja, não sabe? — ela disse como uma conclusão óbvia. — Essas garotas implicam com você porque você é bonita e os garotos ficam babando quando você passa.

   Olhei para ela, sem muita paciência.

   — Garotos são babacas e essas meninas são idiotas. Suba logo se não quer ir a pé.

   Fui embora sabendo que meu pai estaria esperando por mim. Em poucos minutos deixei Duda na entrada de sua casa. Ela quicou para descer da moto, deu dois passos pela calçada e se virou.

   — Irei à praça hoje à noite. A galera toda estará lá. — Ela me olhou abrindo um largo sorriso. — O Henrique deve aparecer por lá também.

   Dei de ombros.

  — Talvez eu apareça.

   Acelerei e poucos metros adiante diminuí a velocidade na esperança de retardar minha chegada em casa. Mas, como previ, meu pai estava esperando por mim. Assim que entrei, apareceu na sala com metade do rosto barbeado e a outra metade coberta por uma grossa camada de espuma branca. Vociferou apontando para mim o barbeador descartável como se apontasse um canivete para um delinquente.

   — Pai, eu só estava me defendendo!

   — Dar um soco na cara de uma colega de turma não tem desculpas.

   — E eu faria o quê? — Abri os braços e deixei-os cair com força na lateral do meu corpo. — Ela veio pra cima de mim querendo puxar meus cabelos e chutando minha canela. Fala sério! Dei logo um soco na cara dela. Assim a briga acabou e pronto!

   — Tiveram que levar a garota ao hospital! Você quebrou o nariz dela, Maria Cristina!

  — Krica, pai. Krica! E ela já tinha nariz torto mesmo. Não era motivo pra chamarem o conselho tutelar.

   — Você sabe muito bem que já era para estar sob supervisão de um psicólogo. Você e eu também! Foi a condição que impuseram para não tirarem você de mim. Sabe o que significa isso? Quando vai crescer? Se os pais da menina entrarem com um processo eu posso te perder!

   Ele suspirou alto, balançou um pouco a cabeça e esfregou o rosto com a mão esquecendo-se do creme de barbear. Segurei a vontade de rir e aguardei em silêncio. Segundos depois espalmou a mão suja de espuma em minha direção como um gesto de rendição.

   — Já sabe que está de castigo.

   Eu bufei, revirei os olhos e fui para o meu quarto imaginando o discurso da assistente social, que era sempre o mesmo: “Não vejo como o senhor pode dar conta de uma adolescente trabalhando o dia todo. Ela precisa do suporte de alguém firme ao seu lado. A Krica" — ela já sabia até meu apelido — "não será expulsa dessa vez. Acredito que a filosofia dessa instituição de ensino seja o que sua filha precise no momento. Mas não será necessário só isso. Sua filha precisa de acompanhamento psicológico..." — lembro-me de vê-la sempre levantando a sobrancelha ao falar e podia replicar o discurso em minha mente, usando o tom exato de sua voz — "... E seria muito bom se o senhor também fosse aconselhado por um profissional...”

   Era hora do almoço e eu sabia que ele voltaria para o trabalho em menos de meia hora. Enchi um prato com o macarrão frio e fui para o quarto esperar. Joguei a jaqueta jeans na cama e olhei a bagunça me perguntando quando eu teria um surto de “neura” para limpar e organizar aquilo. Quando minha mãe estava em casa, as coisas tinham seu devido lugar. Tudo cheirava à lavanda e a energia que emanava de sua alegria contagiava toda a casa. Olhei de volta para a pilha de bagunça. Esse não era um dia de neura. Após comer, peguei um livro, tirei minhas botas pretas de cano longo e joguei-me na cama. Uma de minhas paixões era a leitura. Algo um tanto anormal para alguém que não consegue ficar presa dentro de quatro paredes, e eu estranhamente me prendia dentro das páginas de um livro. Eu tinha uma ótima capacidade de reter informações. Tirava boas notas, e poderia ser a melhor aluna da escola, apenas não me importava com isso. Então não estudava muito, só lia o que me interessava. Abri o livro e me entreguei ao meu mundo imaginário. Meu pai apareceu na porta e bateu, mesmo já estando aberta. Ergui os olhos sobre olivro. Ele parecia mais velho a cada vez que eu o observava. Seus cabelos castanhos levemente ondulados, com corte rente, estavam cada dia mesclando-se com mais fios brancos. As linhas de expressão formavam leves sulcos sob os óculos. O rosto anguloso e o nariz levemente empinado, davam-lhe uma impressão errônea de prepotência. O mesmo nariz que eu havia herdado. Meu rosto ovalado, foi herança de minha mãe.

   — Estou indo para o escritório. Sabe que não deve sair de casa. Também preciso passar no Conselho Tutelar e conversar com a conselheira. Quando eu voltar nós vamos conversar seriamente. — Sacudiu a cabeça. — Não sei o que fazer com você.

   Ele baixou os olhos e saiu ainda sacudindo a cabeça. Meu pai ganhava o suficiente para não passarmos dificuldades, mas não o bastante para pagar uma “babá” para mim enquanto estivesse trabalhando. Ele realmente achava que eu precisava de alguém vinte e quatro por dia na minha cola. Mas não encontrou ninguém que estivesse disposto a receber o valor que podia oferecer. O que, acredito, iria piorar as coisas quando ele fosse conversar com a assistente social. E nem eu, nem meu pai, vimos a cara de um mísero psicólogo. Eu por ter me negado terminantemente e ele por pura falta de tempo. Ouvi a porta bater. Deixei meus pensamentos de lado. Mais tarde, quando meu pai chegasse com o veredicto, eu me preocuparia com isso. Calcei as botas e peguei a jaqueta. Apesar do calor, gostava de usar a jaqueta ao andar de moto. Se eu voltasse depois do sol ter ido embora, ela me protegeria da brisa da noite. Eu estava só e sabia que se saísse pela porta, a velha rabugenta do apartamento em frente ao nosso iria correndo telefonar para meu pai me dedurando. Morávamos no segundo andar de um prédio velho com pintura amarelo ocre descascada, a dez quilômetros do centro da cidade. Eu já estava habituada a sair pela janela. Pendurava-me no peitoril, colocava as pontas dos pés na grade das janelas do primeiro andar, segurava-me na calha abaixando-me rente à parede, e lançava meu corpo para o chão como um gato. Nem me arranhava mais. Corri para garagem.

   Eu andava de moto pela cidade desde os meus quatorze anos. Os policiais da região, principalmente o delegado, estavam cansados de me deter. Aprendi a andar de moto com meu primo Bernardo. Ele comprou uma 50cc economizando o dinheiro da mesada e de pequenos serviços como ajudar na lanchonete e cortar grama. Depois, economizando mais e com a ajuda do meu tio, trocou por uma CBX 250. Toda vez que éramos pegos ele armava uma cena dizendo que a mãe sofria do coração e que o pai precisava da moto para trabalhar. Sempre achei que o delegado nos liberava para se ver livre de dois adolescentes chatos fazendo cena e não porque acreditava na história. Ele ter sido apaixonado pela minha mãe, e Bernardo sempre cortar sua grama de graça, também ajudavam bastante. Além de eu ter ouvido algumas fofocas de que os poucos policiais que haviam em Belo Dourado tinham o rabo preso em algum negócio totalmente ilegal. Então faziam vista grossa para pequenos delitos, e com isso nos deixavam quietos. Nunca soube se era realmente verdade. Meu primo e eu crescemos praticamente juntos, o fato de ele ser dois anos mais velho não interferia em nossa amizade. Éramos muito unidos, até que ele e meus tios se mudaram para o Vale das Sumaúmas há um ano. Que, para ser sincera, não tinha a menor ideia de onde ficava. Dois meses depois de sua mudança, ele apareceu trazendo a moto, dizendo que não precisava dela por lá. Achei aquilo estranho, pois a moto era sua paixão. Mas, como eu estava ganhando uma moto de presente, não toquei no assunto.

   Acelerei pela estrada sentindo a liberdade que eu tanto amava. Era algo único. Eu, a velocidade, o vento jogando meu cabelo comprido para trás... Minha mente feliz, despreocupada. Ao chegar na cidade diminuí. Ainda não estava devagar o bastante e ouvi uma sirene ligar. Logo em seguida ouvi o ronco de uma moto se aproximando, mas não chegou a me alcançar. Diminuiu a velocidade e deixou a sirene morrer num último e triste toque decrescente. Imaginei que havia me reconhecido, então sem diminuir, levantei o braço  acenando.

   O único ponto de encontro dos jovens da cidade era na praça. Já sem os balanços e o escorrega que eu costumava frequentar quando pequena. Os bancos de madeira haviam sido trocados por bancos de cimento. Havia uma árvore crescendo solitária no centro, cercada por uma mureta pichada em cores berrantes. Quando queria encontrar alguém, era só ir ali e talvez nem precisasse esperar. Subi com a moto na calçada e rodei a praça lentamente reconhecendo todos os rostos. A maioria olhava e acenava. Chamavam para me juntar aos grupos formados. Eu me dava bem com todos. As pessoas com quem eu não me dava bem, não frequentavam este lugar.

   Henrique apareceu na minha frente, fazendo-me frear de forma brusca.

   — Merda, Henrique! De onde você saiu? Quase derrapei!

   — Calma, gatinha. Eu estava bem aqui. Você é quem estava distraída demais.

   Ele se aproximou da moto, colocando uma mão no guidão e a outra no banco bem atrás de mim. Acelerei um pouco e soltei a embreagem para a moto dar um pequeno pulo.

   — Ei. — Ele pulou para trás com as mãos erguidas. — Só vim te convidar para a festa no galpão hoje à noite.

   — Não sei se vou. Preciso resolver algumas coisas.

   — É. Tô sabendo que estourou o nariz de uma garota — ele riu e passou a mão ligeiramente sobre a minha, depois saiu andando meio de lado, ainda me olhando — A gente se vê por aí. Ou — ele piscou um olho —, eu vejo você por aí.

   Henrique era bonito. O tipo que fazia muitas meninas suspirarem. Com cabelos loiros desfiados caindo nos olhos verdes, alto e com o corpo malhado e bronzeado. Tinha uma covinha no queixo e um sorriso torto que dizia muitas coisas obscenas por trás.

   Rodei a praça novamente e vi quem eu procurava. Sara. Parei a moto ao seu lado.

   — Sobe aí.

   Nem precisei dar um motivo. Por isso gostava tanto da Sara. Apesar de estar sempre com a Duda, era com ela que dividia minha vida.

   Segui para o rio. Sempre que queria estar sozinha ou conversar com alguém em particular era para lá que eu seguia. Era meu refúgio, meu santuário. Não falamos nada até eu parar a moto na margem. O rio era largo e raso. Com seu leito recoberto por pedras lisas de todos os tamanhos. Em suas margens havia uma relva baixa e algumas árvores de copa larga. Ali, até o ar se tornava mais leve e conseguia-se sentir o cheiro da relva. Era o único lugar bonito que restara na cidade decadente.

   — Fala! — Sara disse passando uma perna sobre o banco e descendo da moto. — Você não tem aparecido muito na praça. O Henrique fica perguntando por você toda hora.

   — Que merda! Até você? — eu disse tentando repreendê-la, mas falei rindo.

   — Ah, fala sério. Ele é muito gatinho.

   — Não. Estou. Interessada, ok?

   — Sei. Semana passada, na mercearia, você bem que ficou vermelha quando deu de cara com ele.

   Eu gargalhei. Mais para exagerar a ideia do absurdo que ela dizia do que por vontade.

   — Semana passada eu fiquei vermelha porque estava escondendo as cinco caixinhas de Mentos que você queria.

   Sara deitou-se na grama espalhando seu cabelo curto e castanho com pontas loiras parecendo um porco espinho. Era alta como eu, porém seu corpo evidenciava mais as curvas, com seios fartos e uma cintura fina. O rosto oval, com bochechas salientes e os lábios cheios, lembrava Jennifer Lawrence. Ela começou a rir.

   — Sabe que disfarça melhor do que eu. Provavelmente seu Samuel me pegaria enquanto tentava esconder as balas nas calças. Aliás, meu estoque de Trident está acabando. — Ela tirou um pacotinho do bolso e me ofereceu um chiclete de menta. Peguei o chiclete e olhei para ela erguendo as sobrancelhas e fazendo cara de desamparada.

   — Acho que seu estoque vai ter que esperar um pouco.

   — Ah. Foi por isso que me trouxe aqui? Fala, pra que escola vai agora? Sabe que só sobrou o Educandário. E você no meio daquelas freiras com certeza não vai rolar.

   — Não sei ainda o que vai acontecer. Meu pai foi falar com a assistente social. Mas... Sei lá... Tinha alguma coisa errada com ele hoje. Ele estava mais nervoso do que de costume.

   — O que você aprontou, doida?

   — Uma garota da escola. Ela disse que eu era a vaca da cidade. Bem alto. No meio do corredor. Com todo mundo passando. Ok, ela não falou diretamente pra mim. Falou com a amiga dela, mas foi alto o suficiente pra eu ouvir. Fui tirar satisfação. Ela começou a me chutar e tentar puxar meu cabelo. Taquei logo um soco no meio da fuça branca dela.

   Eu revirei os olhos lembrando a cena ridícula: A garota gritando segurando o nariz que sangrava, o inspetor banana correndo, abrindo espaço entre os alunos e Duda me segurando pelo braço pedindo, quase chorando, pra eu correr dali.

   Então dei de ombros e concluí:

   — Quebrei o nariz dela.

   — Cara, você tem que controlar esse seu gênio. Um dia desses vai se ferrar de verdade.

   — Acho que já me ferrei. Meu pai tava mesmo estranho.

   — Você sabe como ele é. Fala, tenta aconselhar, mas depois parece que esquece tudo e volta a agir como se nada tivesse acontecido. É só hoje, te garanto.

   — Aí é que tá. Eu sei como ele é. E o Sr. Flavio Siqueira de hoje não era o meu pai.

   — Não esquenta. Daqui a pouco ele vai chegar em casa fazendo você assumir o compromisso de frequentar terapia. Só isso.

   —Só isso? Acha que vou ficar sentada num sofá falando pra um idiota qualquer tudo o que faço da vida? — Balancei a cabeça. — Não quero um palhaço dizendo pra mim o que devo ou não fazer. Isso se for mesmo a condição que me impuser.

   — Duvido muito que seu pai vá tomar uma atitude mais radical que essa. E, além disso, — Ela olhou para mim virando a cabeça de lado e dando um leve sorriso. — não precisa falar com o psicólogo. Sabia que pode gastar seu tempo só sentada lá, olhando pra cara dele?

   Dei uma gargalhada.

   — Disso eu iria gostar. Só não sei quanto tempo ele aguentaria olhando pra minha cara.

   Nós duas rimos.

   — Quer saber, deixa pra lá. Vamos voltar pra praça e vou pra casa antes de escurecer. Quero chegar em casa antes do meu pai e fingir que ainda estou de castigo — eu falei enquanto levantava e pegava Sara pelo cotovelo para que levantasse também.

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