KAEL
O carro corta a estrada.
O som do motor é o único que preenche o silêncio entre nós.
— Mais rápido, Dorian. — A minha voz sai baixa, rouca, um aviso.
Ele lança um olhar de canto, o maxilar travado.
— Já estou a cento e quarenta.
— Então pisa mais.
Minhas mãos estão cerradas no colo, os dedos batendo no mesmo ritmo frenético do coração.
Cada segundo longe dela é uma tortura.
Cada respiração sem o cheiro dela parece me arrancar pedaços.
Dorian não fala mais nada.
Sabe que qualquer palavra errada agora pode acabar em sangue.
A paisagem passa borrada pela janela.
Quando ele vira numa rua estreita, o cheiro de ferrugem e óleo queimada invade o carro.
— É aqui — ele murmura. — O galpão fica logo adiante.
Antes que o carro pare por completo, eu já abro a porta e salto pra fora.
O ar frio bate no meu rosto, e por um instante, tudo parece quieto demais.
Mas então eu inspiro fundo.
E sinto.
O cheiro dela.
Doce, quente, familiar.
Geleia de cereja.
— Ela está aqui. — A voz sai quase num suss