6º Capitulo

- O cavalo de um príncipe não deveria ser branco, como nos filmes da Disney?

- Não sei o que é esse negócio de filme ou de Disney, mas quanto ao cavalo, eu gosto muito desse. É um animal fiel e benevolente, ele me esperou durante os 60 anos que estive preso, por anos não permitiu que ninguém montasse nele, agora que voltei ele me recebeu como da primeira vez.

- Mas isso é impossível! Um cavalo não vive mais do que 30 anos! Como poderia ser o seu cavalo?

- Entenda uma coisa Anna, em Taika, tudo é possível, aqui animais não são apenas simples animais há magia.

Lá vinha aquela história de magia de novo, será que em dado momento ele voltaria a dizer que eu era uma bruxa? Por que se ele voltasse eu provavelmente saltaria do cavalo e não olharia mais na cara dele.

Apoiei minha cabeça no ombro dele e inspirei o cheiro gostoso que vinha daquela pele. Mais um pouquinho e eu poderia tocar em seu pescoço, aquele pescoço... Ele mexeu os ombros ficando desconfortável e resmungou.

- Anna...

- O quê?

- Está perto demais... De novo...

- Ahhh... – eu sorri sem graça e voltei a me afastar. Será que ele tinha namorada? Bom, é óbvio que não deveria ter, afinal, que namorada namoraria um cara preso em uma caverna por 60 anos? Bom, o cavalo tinha esperado, as pessoas no castelo tinham esperado...  É talvez houvesse uma garota.

Ele entrou pelos fundos e conseguimos fugir das pessoas estranhas e da festa esquisita.

Assim que entramos, Hermes veio em nossa direção. Sim, com certeza, aquele era o servo de quem ele tinha falado na caverna, porque todos os passos que Kaarl dava pareciam ter sido ensaiados antes por ele.

- Graças a Deus chegaram, fiquei morrendo de medo que a rainha os encontrasse ou que ela acabasse cruzando a fronteira.

- Qual o problema de eu cruzar a fronteira?

As outras empregadas me olharam espantadas com minha tolice. Acho que cruzar a fronteira era algo proibido...

- Bem, você morreria asfixiada e seu corpo incendiaria em alguns segundos - disse Hermes com toda a calma do mundo. Aquilo me fez engolir seco. Dei um tapa no braço de Kaarl.

- Me deixou sair correndo que nem uma maluca colocando em risco a minha vida?

Ele voltou a me olhar com aquele olhar frio.

- Duvido muito que queimasse, algo em você é...

Hermes olhou para ele o repreendendo.

- Cuidado com as palavras, príncipe.

Ele olhou para Hermes e suspirou. Eu olhei e sorri.

- É, cuidado com as palavras príncipe, eu sei bater.

Hermes riu, mas Kaarl não deu risada, apenas seguiu em silêncio nos dando as costas.

- Se quer saber sua história, me siga.

Eu o segui.  Hermes nos acompanhou Kaarl subiu por escadas laterais, rápido demais para que eu pudesse acompanhá-lo. Cheguei à conclusão de que se eu fosse ficar muito tempo ali eu teria que me acostumar com as benditas escadas.

A lareira do meu quarto estava acesa, como se esperasse minha chegada. Corri até ela e me sentei próxima ao fogo, aquecendo as mãos, pois mesmo com o casaco dele elas ainda estavam geladas.

- Quer que os deixe a sós?

- Por gentileza, Hermes, diga para que não sejamos interrompidos, a menos que seja para o jantar de Anna. Mande providenciar um banquete para ela, deve estar com muita fome.

- Ah, estou mesmo! – disse respondendo à pergunta que se referia a mim.

Recebi um olhar de desaprovação dele, mas qual deveria ser o problema de eu responder? Era sobre mim que estavam falando afinal.

Hermes se despediu e Kaarl se aproximou.

- Não quer se sentar no sofá? - disse ele apontando para os sofás estofados onde  havia se sentado.

Balancei a cabeça em sinal negativo pensando na proximidade dele e na tensão que havia rolado um pouco antes, quando eu tinha me aproximado.

- Não, está bom aqui, esse tapete é muito fofo.

- É feito com pele de urso.

- De urso? – disse me afastando – Coitado!

Recuei para longe, não queria mais aquele tapete perto de mim, e corri para o sofá onde ele estava.

- Você é uma garota estranha.

- Fala isso para mim? Quem é que estava preso a uma rocha por mais de 60 anos e tem aparência de 20 anos? Mora em uma terra com fadas e flores falantes?

- Está realmente preocupada com as flores que falam?  Acredite, elas são mal-humoradas, mas não são os maiores perigos daqui.

- Tudo bem, e quais são então?

Ele abaixou a cabeça.

- Minha mãe, ela é um grande problema.

Pisquei algumas vezes... Ele devia estar falando da rainha, rainha esta que eu não tinha visto ainda. Mas por que ela deveria apresentar algum perigo? Eu não pretendia me tornar a nora dela mesmo, e foi exatamente essa a asneira que eu falei.

- Não pretendo ser a nora dela, então está tranquilo.

Vi um brilho malicioso surgir nos olhos dele e um sorriso brotar no canto da boca.

- Não é bem com a fúria de uma sogra que você vai lidar Anna, até porque não pretendo me casar com você.

Aquilo partiu meu coração instantaneamente. Não que eu tivesse alimentado alguma esperança, mas ele não precisava ter falado nessas palavras também.

- Ok, e com o que então eu vou ter que lidar?

- Por onde quer começar: pela sua mãe, pela sua avó, ou pelo começo da maldição?

- Acho que pelo começo. Quero entender o que minha família biológica tem a ver com tudo isso.

- Família biológica?

- É eu tenho uma família longe daqui que me criou. Eu sabia que era neta deles e que minha mãe tinha fugido do hospital logo depois de ter dado à luz. Que ela era uma destrambelhada e sem propósito na vida, ou pelo menos foi assim que minha avó me criou, para saber que eu não deveria ser como minha mãe e que deveria ter muita consideração por eles terem me acolhido mesmo depois de minha mãe ter me abandonado. – Só quando eu precisei tomar fôlego é que percebi que eu estava falando muito e rápido demais, como sempre fazia quando ficava nervosa.

- Então eles nunca te contaram a verdade? Não sabe mesmo quem é sua mãe e tudo que ela fez?

- Ela fez algo além de fugir da escola na adolescência, se drogar e fugir do hospital?

- Drogar? Não sei bem o que algumas palavras que você utiliza significam. Mas acredito que há um equívoco em quem de fato foi sua mãe e quem seus avós disseram que ela era.

- Minha mãe, a Hely, Hely Elizabeth Rasmus, aliás, a Elizabeth do meu nome é em homenagem a ela, horrível... Mas enfim ela era uma drogada, e como minha avó diz uma louca sem propósito na vida...

Ele segurou minhas mãos fazendo uma concha com elas.

- Eu não sei por que seus avós lhe esconderam a verdade, Anna. Não convivi com sua mãe. Quando ela esteve em Taika eu já estava preso naquela caverna onde me encontrou. Porém, Hermes nunca disse nada sobre ela não ter propósito, aliás, foi uma das descendentes mais corajosas que já estudaram em nossa escola de magia.

Mais uma mentira... Eu estava começando a ficar um pouco cansada disso. Será que minha mãe, então, não era assim tão cabeça oca? Ou será que esse homem estava tentando me jogar contra minha família? Eu já não sabia mais em quem acreditar.

Soltei-me das mãos dele, não queria ter que encarar os seus olhos, alguma coisa neles parecia me controlar e isso me assustava, eu precisava me manter fria para poder compreender tudo que estava acontecendo comigo agora, ou eu enlouqueceria de vez, por vezes ficava me perguntando se por acaso eu tinha encontrado a toca do coelho de Alice no país das maravilhas e se isso talvez não era algum sonho estranho.

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