7º capitulo

- Certo, eu prometi lhe contar tudo e vou lhe contar... – Ele fez uma pausa e se levantou. – Há muitos anos, ninguém sabe ao certo quantos, uma mulher dominada pela raiva e pelo ódio lançou uma maldição contra o povo de Taika, está maldição pôs todos para dormir por cerca de 100 anos.

- Como em a bela adormecida?

- O que?

Certo era melhor eu me calar, aquilo não era um conto de fadas, fiz um sinal para que ele prosseguisse por vezes ele me olhava estranho esperando eu soltar mais uma coisa sem sentido.

- Essa maldição parecia ter sido quebrada com a chegada de Gerttu, uma descendente de Rasmus que fez todos acordarem.

- Descendente de Rasmus? Então minha família tem haver com a maldição?

- Isso, a maldição foi lançada devido ao um ódio que a rainha tinha da própria família, a ideia era amaldiçoar todos da família, porém um bebe foi salvo por um súdito e levado a outro mundo.

- E é esse bebe quem voltou?

- Não exatamente, pelo que sabemos Gerttu fazia parte da 3º geração e só descobriu nosso mundo por estar em completo desespero, é como se Taika tivesse aparecido para ela por que ela precisava ser salva.

Isso fazia todo sentido, pois eu também estava desesperada quando o portal tinha se aberto, pensei em comentar, mas decidi que devia guardar aquilo para mim, não sabia até que ponto podia confiar em Kaarl, ainda não sabia se ele estava do meu lado ou não.

 - Gerttu viveu conosco e libertou seu povo do sono profundo, mas não foi capaz de quebrar a barreira criada pela rainha, lembra-se da barreira que Hermes falou?

- Sim, aquela que poderia me matar caso eu ultrapassasse?

- Isso, essa mesma, ela divide os lados norte e sul, o lado sul o nosso é onde temos a escola de magia e boa parte da cidade, e o lado norte é onde vive a rainha e todo seu exército criado para destruir o lado sul.

- Espera, mas se vocês não podem fugir dela por causa da barreira, como ela não matou a todos ainda?

- Há muitos anos, com a chegada das herdeiras do trono, as Rasmus, nós do lado sul entendemos que deveríamos abraçar nossa essência mágica e lutar para sobreviver, foram criadas passagens secretas para proteger os mais fracos e criado um exercito para lutar contra a rainha, porém cada vez que uma herdeira era morta, nos sentíamos derrotados.

- Espera, espera mortas? As herdeiras foram todas mortas?

- Isso, na verdade... Depois de sua mãe, acreditávamos estar perdidos, ninguém fazia ideia de que você pudesse existir.

Então minha mãe estava mesmo morta, aquilo me destruiu por dentro, eu jamais a conheceria, eu jamais diria a ela tudo que eu tinha ensaiado ao longo da vida, tudo isso era em vão, ela não estava mais entre nós.

Kaarl deve ter percebido meu estado de espirito e se aproximou alcançando o chá.

- Eu não sei o que lhe foi contado sobre ela, talvez ainda acreditasse que ela estivesse viva, e sinto muito por isso Anna, mas ela se foi...

Limpei a lágrima que escorreu pelo meu rosto com raiva e me levantei.

- Tudo bem, eu nunca a conheci mesmo, como eu disse ela me abandonou.

- Talvez ela só quisesse te proteger de tudo isso, nós jamais iriamos atrás de você se não soubéssemos sobre você e você nunca seria arrastada para esse mundo onde a sua cabeça pode acabar em uma bandeja de prata da rainha.

Eu olhei para ele séria, aquilo era de fato cruel, e exatamente por isso eu não pretendia ficar.

- Não tem problema, pois eu não pretendo ficar, se quiser me chamar de covarde tudo bem, eu sou... Mas definitivamente eu não vou lutar por pessoas que não conheço e arriscar minha cabeça por algo no que não acredito, Taika não é o meu mundo, Naantali é.

Ele sorriu tristemente.

- Não condeno você, se eu tivesse alguma opção, certamente fugiria também, mas ao contrario de você que tem para onde fugir, eu não tenho opção. – Ele suspirou se sentindo derrotado. – Vou lhe deixar sozinha para que possa se banhar jantar e enfim descansar, amanhã lhe levarei de volta para casa.

Assim que ele saiu fiquei tentada de correr atrás dele e me desculpar, mas eu precisava fazer isso, eu não era uma guerreira, eu não era uma bruxa, eu não era nada disso! Eu só era Anna, só isso.

Depois de terminar de jantar, senti vontade de ir ao banheiro. Onde será que ficava o banheiro naquele castelo? Eu não tinha perguntado para Kaarl. Olhei para a sineta e a peguei na mão;  a menina surgiu na minha frente antes que eu terminasse de tocar.

      - A senhorita chamou?

- Sim, Kaarl falou sobre tomar banho, porém, não faço ideia de onde fica o banheiro.

A mocinha começou a rir.

- O senhor tinha razão sobre você ter costumes estranhos. Não temos um lugar para nos banhar; aqui, nos banhamos em nosso  próprio quarto, todos os quartos do castelo possuem um lugar para isso - disse ela abrindo uma porta que dava espaço para um lugar estranho,  onde uma espécie de banheira feita de madeira dominava o espaço.

- E como eu faço para fazer pipi?

- Fazer o quê?

- Pipi, xixi, urinar?

A menina deve ter ficado quase roxa quando eu disse isso, mas o que mais eu poderia dizer? Como poderia me expressar?

- Vai encontrar o que procura embaixo de sua cama, senhorita.

Pisquei algumas vezes... Isso não podia estar acontecendo comigo, onde eu tinha vindo me enfiar?

Agora eu entendia por que Kaarl tinha falado sobre eu precisar de ajuda para me banhar. Não existia agua encanada. Então,  a água era aquecida em baldes estranhos e levados até a tal banheira onde as pessoas tomavam banho, banho esse que era feito com uma roupa especial. É claro que eu não tinha essa roupa! Quando comecei a tirar a roupa,  a menina imediatamente se virou para mim tremendo e tampando os olhos.

- Santo Deus, senhorita, como pensa em tomar banho?

- Pelada, ué...

- Não! Aqui tomamos banho assim! – disse ela,  alcançando-me uma espécie de túnica branca,  de um material muito fino.  – Rápido, vista isso!

Vesti,  e então entrei na banheira, que já estava com a água morna. Fiquei  imaginando como seria a vida daqueles que não possuíam o luxo do castelo. Se aqueles que o possuíam ainda tomavam banho dessa forma, como deveria ser a vida dos camponeses? Será que tinham água morna para se banhar?

Quando terminei, a menina despediu-se ainda um pouco envergonhada e saiu do quarto. Fiquei com pena da pobre moça, ela devia ter se assustado muito comigo.

Quando o dia amanheceu eu estava tão confortável naquela cama fofinha que não queria sair dali por nada nesse mundo. Mas foi quando lembrei de que minha família devia estar muito preocupada comigo.  Ouvi algumas batidas na porta e vi o rosto da mocinha da noite passada surgir.

- A senhorita já está acordada?

- Sim, estou, e os outros?

- O Príncipe saiu cedo para caçar e a maioria já tomou café. Se quiser,  posso ajudá-la a tomar banho e se vestir,  e então trazer seu desjejum.

- Adoraria. Porém, não tenho outras roupas aqui.

- Não se preocupe, Hermes já providenciou uma coleção de vestidos para a senhorita!

- Vestidos? Não, não gosto de vestidos, prefiro calças!

A menina fez uma cara de espanto.

- Não podemos usar calças senhorita, somos mulheres, mulheres devem usar vestidos!

Eu não estava acreditando no que estava ouvindo. Devia ser por isso que todos me olhavam com aquela cara na noite anterior; certamente, achavam que eu era alguma maluca usando roupas de homem.

- Escute,  em que ano estamos?

Era uma dúvida que estava me perseguindo:  os costumes daquelas pessoas eram, sem dúvida,  muito antigos,  e essa dos vestidos, então, só podia ser coisa de outro mundo mesmo.

- Em 1862, senhorita! Por quê?

Deixei meu corpo cair sobre a cama. Deus! Eu estava perdida!

Demorou um tempo para que minha ficha finalmente caísse, e quando o fiz Aila já tinha preparado meu banho.

Banhei-me e tomei meu café. Depois,  Aila me ajudou a me vestir. Nunca pensei que usar vestido pudesse ter tantas formas diferentes, e isso que tinha escolhido o mais simples deles! Foi quando olhei para as roupas de Aila.

- Suas roupas são bem mais simples que as minhas, por quê?

- Bom, sou apenas uma camponesa, súdita do príncipe, nunca teria como me vestir com um vestido como esse, jamais!- disse ela com simplicidade. Olhei no espelho me sentindo completamente desconfortável.

- Quer saber, tire essas roupas!

- O quê, senhorita?

- Mandei que as tire, quero usar suas roupas, são muito mais confortáveis. E  se quiser, pode ficar com esse vestido para você!

- Não posso senhorita! Seria condenada à guilhotina se o fizesse. Mas se quer mesmo usar minhas roupas, posso conseguir um vestido como o meu para a senhorita!

- Consegue mesmo?

- Se é o que deseja!

Aila se retirou do quarto e voltou com um vestido liso, sem nenhuma pompa,  de tom bege. Com  mangas compridas apropriadas para a temperatura, ele ia até os tornozelos e uma meia saia marrom o cobria até os joelhos. Era um vestido simples, porém,  muito bonito.

- O que acha?

- É perfeito!

Aila sorriu.

- É meu traje para festas, vai ficar lindo em você, e assim não pensarão que é uma empregada, apenas uma camponesa!

Sorri para ela,  que me ajudou a me vestir. Muito mais confortável, o ultimo vestido me deixava com ares estranhos. Se chegasse assim em casa,  minha avó ficaria louca comigo. Pelo menos,  com aquele vestido eu conseguia caminhar normalmente,  sem ter que me equilibrar para não tombar para o lado.

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