5º Capitulo

- Eu quero a minha casa, só quero voltar para casa, será que é tão difícil entender isso?

Logo, dois pares de asa se acenderam novamente, e com eles mais dois e mais dois e outros; e tudo voltou a ficar claro. Levantei a cabeça e observei a miniatura de fada que dançava na minha frente. Uma, mais gordinha, preveniu aquela que estava mais próxima.

- Não se aproxime tanto! Ela pode te atacar!

A fada pequena se afastou um pouco... Olhei para ela e enxuguei as lágrimas.

- Não vou machucá-las, eu juro.

Ela me observou: seus olhos eram tão pequenos que eu mal podia vê-los.

- Não vai nos machucar!

Quando disse isso, todas as outras, que ainda estavam se escondendo, apareceram e a luz ficou ainda mais forte.

- Quem é você e por que está chorando, menina?

Olhei para ela e enxuguei os olhos.

- Estou perdida, vim mais cedo para esse lugar, não sei como,  e não sei como voltar para casa. Quero minha avó...

Todas se olharam e se aproximaram de mim, entendendo minha angústia.

- Não sabemos o que é ter uma avó, mas imaginamos que deve ser muito triste para você estar em um lugar estranho.

Não sabiam o que era ter uma avó? Então fadas não tinham família? Isso era estranho, se não tinham a ninguém, não se sentiam solitárias?

Uma delas riu, como se pudesse ouvir tudo o que eu tinha pensado, e certamente podia.

- Temos umas as outras, não é como uma linhagem sanguínea como a de vocês humanos, mas é uma família, por que tem amor nela.

Talvez essa fosse a melhor definição de família que eu já tinha ouvido, família era onde tinha amor, então de fato... Eu tinha uma família, pois meus avós me amavam muito, mesmo não tendo meu sangue, a saudade apertou e só me senti ainda pior.

Houve um barulho forte, e todas se apagaram, escondendo-se nos arbustos.

- Anna! Anna! Está aí?

Era a voz de Kaarl, porém, eu não tinha certeza se queria vê-lo ou encontrá-lo. Meus braços estavam duros de frio e eu não aguentaria muito mais tempo se tivesse que dormir fora de uma casa. O castelo era quentinho, porém, eu não sabia se podia confiar naquelas pessoas.  Kaarl já tinha mentido para mim uma vez.

A fada maior abriu suas asas e apareceu na imensidão.

- É a voz do Príncipe, apareçam fadas! É seguro!

Novamente, tudo voltou a ficar claro, meus olhos nunca se acostumariam com aquela claridade, mas provavelmente não se acostumariam a conviver com fadas e com flores falantes também.

Kaarl surgiu entre as sombras, montado em um cavalo negro, e para quem gosta de contos de fada, ele não trazia nenhuma armadura reluzente com ele, ou uma espada ou qualquer coisa que demonstrasse sua coragem e bravura, apenas ele um cavalo e a roupa de gala que certamente ele não tinha tido tempo de trocar.

A fada maior aproximou-se dele, colocando-se entre nós, e jogou um pó brilhante em seu rosto.

- O que está fazendo Fleur? Sou eu, seu Príncipe!

Ela fez uma cara estranha e se afastou um pouco.

- Sim, agora eu sei, só queria me certificar. Ficamos sabendo que estava lacrado, queria ter certeza de que não era alguém se passando por você para nos enganar.

- Sim estava, mas ela... – apontou para mim – Me soltou, sou livre agora!

A fada olhou para mim apavorada e se afastou imediatamente. Depois, olhou para as outras e todas se curvaram,  fazendo  reverência.

- É ela então a dona dessa energia! Estávamos comemorando a chegada dessa energia, então ela é a responsável, estamos salvas! Viva!

Todas começaram a dançar em sintonia com a música que algumas cantavam. Pisquei algumas vezes me sentindo perdida e me levantei então do chão.  Kaarl me segurou pelo pulso.

- O que está fazendo?

- Me certificando que não vai voltar a sair correndo.

Olhei para ele e puxei o braço novamente.

A fada maior aproximou-se de nós.

- Sou Fleur, desculpe se não me apresentei como deveria, sou a rainha das fadas. Escondemo-nos na floresta e dificilmente aparecemos para os humanos, porém, confiamos que está aqui para nos salvar e que não nos fará mal algum!

- Salvar? Do que estão falando? Não estou aqui para salvar ninguém!

Ouvi um cochicho entre todas elas, que se afastaram parecendo assustadas. Kaarl colocou-se entre nós.

- Fiquem calmas, não é isso que Anna quer dizer, ela está um pouco confusa ainda, não sabe de toda a história. Mas, se me permitirem, contarei tudo a ela mais tarde. Não se preocupem, o segredo de vocês está seguro conosco! Ninguém saberá o esconderijo de vocês!

Todas pareceram entender, menos eu, claro, a última  a  saber de tudo.

- Vamos, Anna?

Olhei para ele sem saber se eu queria voltar e tranquei o pé.

- Não, não vou voltar para aquela festa de gente estranha. Minha família deve estar preocupada comigo, quero voltar para casa.

- Anna, assim que saiu mandei que servissem o melhor vinho que tínhamos. Todos estão felizes e animados, não vão nem perceber que voltou. Podemos também entrar pelos fundos, se quiser, e eles nem a verão voltar. Amanhã, quando o sol nascer, vou ajudá-la a voltar, eu prometo.

- Já mentiu para mim uma vez, como posso saber que não está mentindo novamente?

- Não menti, omiti. Está com tanta raiva assim por saber que eu sou um príncipe? Achei que isso me daria algumas vantagens!

Olhei para ele e cruzei os braços, tremendo de frio.

- Tudo bem, mas é só porque eu estou com muito frio e com fome; e terá que entrar pelos fundos, não quero ver aquelas pessoas estranhas.

- Seu pedido é uma ordem! – disse ele,  curvando-se e beijando minha mão. Fiquei sem jeito quando ele sorriu para mim, ele não deveria brincar assim comigo.

– Agora, deixe-me aquecê-la -  disse ele tirando o casaco e colocando sobre meus ombros.

O casaco estava muito mais quente que o normal e senti meu corpo amolecer como quando a gente entra embaixo de um chuveiro com água quente.

 - Que gostoso.

Abracei o casaco. Kaarl balançou a cabeça e sorriu. Depois, ajudou-me a subir no cavalo e partimos. Eu nunca tinha andado a cavalo, aquilo era sem dúvidas estranho, mas eu também nunca tinha conhecido um príncipe e visto fadas, ou conversado com uma flor.

Sem saber ao certo como me equilibrar, passei os braços ao redor de sua cintura.  Kaarl, no entanto, ficou tenso e se esquivou.

- Você pode segurar na cela.

Só então percebi que havia um lugar na cela onde eu podia deixar as mãos. Ele não parecia gostar muito de contatos físicos, isso fez com que eu me afastasse.

- Tudo bem.

Lembra-se da sensação do chuveiro de água quente? Pois é, ficou gelada instantaneamente e eu endureci.

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