4º Capitulo

Quando eu finalmente acordei, o sol se escondia atrás das montanhas rochosas fazendo o pôr do sol mais lindo que eu já tinha visto, sem prédios imensos para estragar a vista, apenas uma imensidão de arvores bem copadas e um campo livre. Foi então que me dei conta de que eu estava em um quarto muito alto do chão. Olhei pela janela vendo quão pequenas as pessoas pareciam do lado de baixo. O que era aquilo? Uma torre? As paredes eram sólidas e um lustre grande brilhava sobre a minha cabeça. O quarto imenso tinha ares de grandeza, muito diferente ao que eu estava acostumada. Um senhor de meia idade adentrou no quarto com algo sobre seu braço.

- Senhorita, está acordada!

- Sim, onde estou?

- Meu senhor a encontrou; estava desmaiada. Preocupado com sua segurança, a trouxe para o castelo. Estamos todos organizando uma festa para o príncipe, o retorno dele nos deixou imensamente felizes.

- Príncipe? Eu estou em um castelo então?

- Sim, senhorita, aliás, como disse, estamos organizando uma grande festa e trouxe esse vestido para você. Se sentirá mais adequada, já que estas suas roupas são um tanto estranhas aqui...

Olhei para minhas calças jeans e minha camiseta de malha branca que era usada para dormir. Depois, observei o vestido gigantesco que ele trazia nas mãos. O senhor já estava saindo do quarto quando falei:

- Não vou usar isso, aquele desgraçado me enganou! Disse que me levaria para casa e agora eu estou em um castelo, pronta para uma festa de um príncipe que eu nem conheço, enquanto minha família já deve ter colocado o exército atrás de mim! Eu vou embora agora!

Imediatamente, passei pelo senhor que ficou me olhando sair sem protestar ou dizer  sequer uma palavra,  e cruzei o corredor sem saber para onde eu estava indo. Mas de uma coisa eu sabia:  eu tinha que descer se quisesse achar a porta de saída. Comecei descendo umas escadas estranhas, que seguiam  em curvas. Será que não tinha um elevador, não? Cruzei por pessoas vestidas de forma esquisita, mas segui andando;  devo ter descido mais de 500 degraus.

Apressei o passo até finalmente chegar a uma grande escadaria que dava para um salão imenso, com muitas pessoas reunidas. Quando eu apareci no alto da escada,  todos pararam o que estavam fazendo e me olharam como se esperavam por mim e por aquele momento. Olhei novamente minhas roupas surradas e então observei que todos estavam com trajes de gala, vestidos pomposos e com muito volume... Só então notei a mão estendida para mim e olhei para o lado. O  mesmo senhor que havia me encontrado no quarto estava ali,  me dando a mão para descer as escadas.

- A senhorita demorou, já estávamos a sua espera...

- Como chegou aqui tão rápido? Por acaso existe mesmo um elevador aqui?

- Um o quê?  - disse ele,  fazendo uma cara estranha, como se não soubesse do que eu estava falando.

- Por favor, senhorita, apenas me diga seu nome para que eu possa anunciá-la!

Segurei sua mão temendo cair logo no primeiro degrau.

- É Anna, senhor.

Ele sorriu.

- Como queira – disse, fazendo um aceno com a cabeça. Depois, olhou para todos que continuavam a me observar de alto a baixo: 

– Senhorita Anna Elizabeth Rasmus, da Província de Naantaly, Finlândia!

Olhei para trás para ter certeza do que tinha ouvido. Ele tinha dito meu nome completo e o nome de minha cidade também. Como poderia saber quem eu era e de onde tinha vindo? Todos ali eram estranhos para mim. Enquanto eu descia,  muitas pessoas foram abrindo espaço para que eu passasse, e quando finalmente cheguei ao salão, os olhares se tornaram ainda mais clínicos. Houve muitos cochichos, alguns inclusive apontavam para mim. Como se não bastasse minhas roupas inapropriadas para o momento ainda tinha tudo aquilo, e por alguns segundos me arrependi de não ter aceitado as roupas que aquele senhor tinha me oferecido. Porém, se tivesse aceitado, provavelmente estaria me sentindo uns 25 kg, mais pesada e com muita dificuldade para andar;  isso se eu não tivesse me estatelado no alto da escada e vindo parar aqui embaixo em uma chegada triunfante e catastrófica. 

Fez se um silêncio imenso... A música que tocava ao fundo,  com sons de harpa,  cessou;   e todos se voltaram para o alto da escada de novo. Somente eu estava de costas. E, para minha surpresa, quando me virei lá estava ele, com seu traje de gala, sem dúvidas o homem mais lindo de todo aquele lugar.

Vi algumas meninas olhando e sorrindo para ele. Não havia marcas em seu peito causadas pelo punhal, tampouco seu rosto estava sujo como quando eu o encontrei. Os olhos, agora de frente para a luz, pareciam ainda mais verdes do que eu lembrava,  e ele tinha um rosto calmo, porém, sério.

- O senhor Kaarl Charles Sipinpoika, Príncipe do Condado de Taika, guardião e herdeiro da coroa negra, diretor da escola de magia de Taika!

Duas coisas foram imediatamente gravadas pela minha cabeça: a palavra “príncipe” e, ao mesmo tempo,  a parte da “coroa negra”. Quem iria querer ter uma coroa negra? Mas, é claro que tudo isso foi imediatamente apagado pela raiva que eu senti dele. Mal consegui esperar ele alcançar o último degrau das escadas e avancei sobre ele,  acertando-lhe  um merecido tapa no rosto.

- Mentiroso!     

Seus olhos verdes pareciam que iam explodir do rosto marcado. Cuspi no chão brilhante sem me preocupar, porém, segundos depois, me arrependi. Olhando para ele agora, com os cabelos cortados, a barba feita, roupas limpas, ele era, sem dúvidas, o homem mais lindo que eu já tinha visto na minha vida.

Senti as lágrimas de vergonha virem aos olhos e então disparei dali, correndo por entre as pessoas desconhecidas e cruzando as portas principais. Vi que os guardas fizeram menção de fechar as portas, porém, Kaarl fez um sinal com o dedo para que me deixassem ir.

- Mas senhor, ela vai cruzar a fronteira!

- Deixe-a ir a maldição não irá atingi-la...

- Como? Mas a maldição atingia a todas as outras. Lembra-se do que aconteceu à Tiina, não?

- Sim, eu sei, mas ela é diferente, algo nela é diferente, eu senti quando sua energia se aproximou de mim. Ainda não sei o que ela é, mas não é como as outras, e o pior, acho que nem mesmo ela sabe disso.

- Se não sabe, é um alvo fácil para a rainha. O senhor deve ir atrás dela, se eles a pegarem podem persuadi-la a ir para o lado deles!

- Preparem meu cavalo, vou atrás dela, está escuro e ela pode acabar se perdendo, ou pior, encontrar alguma criatura.

Hermes saiu correndo em seguida  para preparar o cavalo de Kaarl,   enquanto eu só queria correr, correr até meus pulmões explodirem.

Quando  dei por mim, eu estava no meio de uma floresta escura e fria. Olhei para o alto, mas a copa das árvores era tão grande que nem mesmo a luz da lua podia me alcançar. Olhei para meus pés e tentei dar alguns passos na escuridão; ouvi um barulho estranho e me assustei, olhando para trás. Abracei meus braços em posição  defensiva e também para tentar aplacar o frio que me dominava. No castelo, as lareiras estavam acesas e isso mantinha a temperatura agradável, mas, do lado de fora, os ventos frios do inverno que se aproximava e deixava o ar denso e difícil de ser respirado. Olhei para os lados, apavorada. Para onde eu deveria ir? Para onde correr?

Ouvi uma voz suave vindo de longe, parecia uma espécie de cantiga. Era uma voz linda! Comecei a seguir o som da música mesmo sem saber onde eu estava pisando. Às vezes,  tropeçava nas raízes das árvores e caia, mas me reerguia novamente. Vi uma luz intensa surgir entre as árvores e caminhei até ela. Quando cheguei,  meus olhos não conseguiam acreditar no que viam:  as árvores estavam douradas, um tom cor de fogo que fosforescia na noite escura, clareando tudo. Observei o espaço e vi de onde vinha a música:  eram fadas, era delas que vinha o brilho e a luz, suas asas eram como lâminas douradas e pequenas, porém, eram muitas, deveria ter umas mil ali. Dei um passo a mais e pisei em um galho, que se partiu. Todas se voltaram para mim e me observaram assustadas. Ouvi um grito de uma delas e logo começaram a voar  em completa euforia. Suas asas se apagaram imediatamente e eu novamente fiquei no escuro. Abaixei-me no meio do nada e coloquei a cabeça entre as pernas, chorando baixo.

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