Capítulo 4
Todos trocaram olhares cúmplices em direção a Naiara.

Naiara ficou imóvel, sem compreender o que estava acontecendo, quando ao longe ouviu-se o grito assustado da madrasta.

— Catarina!

Catarina desmaiou de susto.

O rosto de Afonso mudou drasticamente, ele se abaixou e pegou Catarina nos braços, correndo em grandes passos em direção à enfermaria.

A mente de Naiara ficou completamente vazia, até que um tapa estrondoso em seu rosto a fez voltar bruscamente à realidade.

— Como pude gerar uma criatura tão desprezível quanto você! — O pai, com os olhos arregalados de fúria, as veias pulsando nas têmporas, gritava. — Sua irmã já está tão doente e, mesmo assim, você ousou amaldiçoá-la?!

Cambaleando, Naiara recuou meio passo e, sem querer, esbarrou na torre de champanhe ao lado, derrubando-a e espalhando bebida por todo o chão.

Ela caiu sentada sobre os cacos de vidro, suportando a dor lancinante enquanto tentava se explicar:

— Não fui eu!

— Cale a boca! — O pai a interrompeu, a voz cortante. — Eu já percebera há muito tempo: você não suporta que tratemos sua irmã com carinho. Mas ela já está à beira da morte, e você não tem sequer um pingo de compaixão? Alguém, levem-na e a tranquem imediatamente!

......

Naiara foi jogada dentro de um quartinho escuro.

Desde pequena, ela tinha medo do escuro, além de sofrer de claustrofobia.

No instante em que a porta se fechou, a respiração de Naiara parou de súbito, a escuridão a envolveu, vinda de todos os lados como uma maré.

Desesperada, ela começou a bater na porta com as mãos ensanguentadas, deixando marcas assustadoras na madeira:

— Abram a porta! Por favor, me deixem sair!

Lá fora, porém, reinava um silêncio mortal.

Aos poucos, Naiara foi perdendo as forças, escorregando até se sentar no chão, com a respiração cada vez mais ofegante e a visão turva.

Não se sabia quanto tempo havia se passado.

Quando ela já estava prestes a perder a consciência, a porta finalmente se abriu, e Naiara rastejou apressada para fora.

Mas, no segundo seguinte, um balde de sangue espesso e fétido foi despejado sobre sua cabeça!

Logo depois, veio o segundo, o terceiro...

Naiara quase sufocou, tamanha era a náusea e o desespero.

Com a visão embaçada, ela distinguiu vagamente uma silhueta familiar parada à porta.

Era Afonso.

Afonso ficou na fronteira entre a luz e a sombra, observando friamente enquanto outros despejavam baldes e mais baldes de sangue sobre ela, sem jamais ordenar que parassem.

Somente quando o último balde foi derramado, Afonso se aproximou com passos lentos, agachou-se e, com um lenço de seda, limpou seu rosto, mas sua voz era gélida como gelo.

— Catarina acordou. Ela não te culpou por tê-la amaldiçoado, pelo contrário, pediu por você, dizendo que estava apenas possuída por maus espíritos, e não era realmente má.

— Esse sangue foi mandado preparar por mim. Serve para afastar maus espíritos e purificar o coração. — Ele fez uma pausa. — Mas, para surtir efeito, você precisa rezar e se arrepender aqui por três dias e três noites.

Um lampejo de pavor brilhou nos olhos de Naiara, ela se agarrou à mão de Afonso, desesperada.

— Não fui eu quem lançou as maldições, acredita em mim...

— Naiara. — Afonso foi soltando, dedo por dedo, a mão dela, num gesto lento e cruel. — Quem erra precisa ser punido. Até uma criança de três anos sabe disso.

Sentindo o calor dos dedos dele se afastando, Naiara abriu a boca, mas sua última tentativa de lutar virou um pedido humilde e sussurrado:

— Por favor, não me deixe aqui. Eu tenho medo do escuro...

— E Catarina? — O olhar de Afonso era frio como aço. — Quando você a amaldiçoou, pensou se ela também teria medo?

Naiara ficou atordoada.

Ela se lembrou de uma noite de tempestade, quando a luz acabou em casa e ela se encolheu, assustada, num canto.

Foi Afonso quem acendeu velas por todo o cômodo e a abraçou forte, suas mãos quentes acariciando as costas dela:

— Não tenha medo, Naiara. Eu estou aqui.

Agora, porém, o mesmo homem estava disposto a empurrá-la com as próprias mãos para o abismo da escuridão.

De repente, uma dor dilacerante explodiu em seu ventre.

Instintivamente, Naiara segurou o abdômen, sentindo um líquido quente escorrer por entre as pernas.

Ao perceber que provavelmente estava sofrendo um aborto, ela agarrou, trêmula, a barra da calça de Afonso, a voz já alterada pelo desespero.

— Afonso, estou com muita dor, acho que perdi o bebê, por favor, me leve ao hospital...

Afonso parou por um instante, franzindo levemente o cenho:

— Você nem estava grávida. Como poderia abortar?

A dor deixou Naiara cega por um momento.

— É verdade, eu estava grávida do seu...

— Chega. — Afonso, claramente não acreditando em suas palavras, limitou-se a dizer: — Volto para te buscar em três dias. — E se virou para sair.

Gemidos abafados, quase como de um animalzinho ferido, escaparam da garganta de Naiara, seus dedos se enterraram no chão, mas ela não conseguiu deter a silhueta do homem que se afastava.

Seus dedos estremeceram inutilmente no ar, até que caíram, exaustos.

Naiara desabou no meio da poça de sangue.

Antes de perder a consciência, um sorriso amargo se desenhou em seus lábios.

Afonso...

Desta vez, eu realmente enxerguei quem você é.
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