8-USADO

ABNER MIGUEL

Continuei a minha vida após a morte dos meus pais, muito sofrimento, pouco apoio, a família aparecia apenas para saber dos lucros.

Esses iam muito bem.

Sou bom no meu trabalho, as faculdades ajudaram muito, mas trabalhar ao lado do meu pai, foi fundamental, a experiência dele, mostrando como um verdadeiro líder deve ser.

Quando Mabel fez três anos, fui chamado para um jantar na casa do meu avô Miguel, sabia que vinha alguma novidade, nada boa para o meu lado.

Não levei Mabel, evitava levar a minha filha naquela casa, as pessoas ali, olhavam ela estranho, nunca gostei.

O jantar correu tranquilo, comida sem graça, conversas vazias.

Nesse dia, estava os meus tios, e filhos.

Após o jantar vovô chamou-me até o escritório, sabia que o assunto era negócios, porque não foram até a empresa, teriam poupado o meu tempo, estaria agora vendo desenho com Mabel.

-Miguel, meu neto, serei direto. Alguns sócios e investidores vieram lembrar-me que você está perto dos trinta anos, com isso precisa apresentar responsabilidades.

— Apresentar responsabilidades. Um balancete mensal, transparência nas contas da empresa, crescimento constante, a cima do mercado, nem um escândalo com o meu nome, nem um processo. Isso não é responsabilidade suficiente.

— Não, um CEO, com trinta anos solteiro, pior, pai solteiro, não passa credibilidade.

-Isso é um absurdo!

— Concordo, mas são as regras do mercado, logo perderemos parcerias, por um detalhe com o de não termos um CEO, pai de família, casado.

— Então alguém aqui vai assumir a empresa, por isso essa reunião aqui.

— De forma alguma Miguel. — A voz enjoada da madrasta do meu pai, sempre me tirava a paz. — Estamos pensando não apenas na empresa, mas na sua filha também. Ela é a única menina dessa geração, vai precisar de um apoio, para assumir o seu papel um dia. Por isso precisa da presença feminina. Apenas seja aberto as sugestões. Conhecemos um a moça, filha de um dos sócios, seria mais um casamento... como posso dizer...

— Arranjado, falso, um casamento por conveniência.

— Não pense assim o meu neto, a moça é muito bonita, já conversamos com ela. E amiga da esposa do seu primo. Ela tem uma admiração por você, que mulher não tem, mas o afeto vocês irão construir aos poucos. Sei que você saberá levar a moça para cama.

Aquela conversa deu-me enjoo, não quis continuar.

No outro dia, falei com o meu assistente, que pesquisou, e realmente no regimento da empresa tinha esse detalhe.

Parecia até que apenas eu não sabia disso.

Naquele mês fui convidado para jantares nas casas de sócios, com filhas, irmãs, tias, sobrinhas solteiras.

Alguns foram até muito diretos, outros chegaram a oferecer a moça por uma noite, poderia "experimentar sem compromisso", se gostasse ficaria com o produto, algumas das moças, apreciam animadas com a possibilidade de serem minha esposa, outras estavam assustadas, pois a família a usavam como moeda de troca.

Sem muita saída, conheci Zilá. Uma mulher bonita, vocabulário vasto, elegante, madura, com os seus trinta e cinco anos, sabia o que queria.

Ela quis conhecer Mabel, o que me agradou.

Começamos a frequentar jantares juntos, sair uma vez por mês em encontros com Mabel, onde ela tirava muitas fotos e postava nas redes sociais, não gostava muito disso, mas fui a levar.

Não sentia nem uma atração por aquela mulher, que sorria forçado, falava pausado, como pensando em cada palavra, parecia um robô.

Em público, segurávamos mão um do outro, mas sozinho, bem, pensando nisso nunca ficamos realmente sozinhos, conversamos apenas sobre coisas vazias.

Levei isso por quatro meses, todos já sabiam sobre o nosso casamento, mesmo eu nunca tendo falado sobre isso com ela, nunca trocamos um carinho, beijo, s****, nem imaginava isso.

Nem como amiga via Zilá, ela era uma mulher artificial, o seu sorriso, não sei se por conta das plásticas, ou da personalidade dela, parecia congelado, sempre da mesma forma, nunca a via dar uma gargalhada. Sempre fina, delicada em cada detalhe, mas via como tratava os funcionários.

Numa ocasião, não gostei da atitude dela, estávamos num aniversário de criança, acompanhando Mabel, que foi brincar e voltou com as mãos sujar de tinta, veio correndo, acabou a cair e tocando no sapato de Zilá, foi a primeira vez que vi aquela mulher mudar o tom de voz, ela gritou com a milha filha, que já chorava por ferir o joelho. Acabamos a discutir e fui embora com Mabel, sem nem olhar para ela, já pensava se ter ela como madrasta de minha filha seria uma boa ideia.

Então veio o grande dia, o aniversário do meu avô.

Isso traz ao ponto onde estou, parado olhando a madrugada chegar.

Por sorte não havia levado Mabel, foi muita humilhação.

Eles lembraram-me que sou apenas o empregado de todos, sou usado, aquilo doeu muito.

Querendo ou não, eles são a única família que Mabel e eu temos ainda.

Dora fez questão de deixar claro, que quem valia naquela família era os filhos e netos dela.

Mesmo que ela seja apenas a amante de número quatro.

O dinheiro do meu avô, veio com o casamento com a minha avó, eles não deveriam ter direito a nada ali, mesmo assim, são os que aproveitam dos lucros.

Antes de abrir a porta do quarto, escutei Zilá: "Não vejo a hora de casar com o seu priminho e mandar aquela bastarda para um internato na Europa quero aquela menina longe, que volte apenas para trabalhar com ele na empresa, ele vai aprender a ser um empregadinho ainda melhor, você pode ter certeza." Ela fala isso enquanto gemia e pedia mais forte. Abrir aquela porta e ver a cena pornográfica ali, deu nojo, e também alivio, em saber que nunca toquei nela.

Mas, parece que para a família de Dora, o errado era eu ali. Que deveria aceitar a traidora, continuar a tralhar, enquanto a minha querida esposa tr@s@va com o meu primo, escondido da esposa dele.

Agora o que fazer, continuar a ser o usado, o empregado deles.

Preciso dar um rumo na minha vida.

Sinto-me usado por todos, não acredito mais em ninguém, todos olham para mim, vendo apenas o dinheiro, ninguém mais quer saber dos valores humanos, dos sentimentos dos outros.

Vou mudar algumas coisas, preciso mudar.

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