O silêncio da sala foi quebrado pelo som leve da chaleira elétrica apitando na cozinha improvisada do abrigo. Lia, ainda com os olhos marejados, segurava uma caneca de chá nas mãos trêmulas, sentada diante do ex-marido, Henrique, e da esposa dele, Isadora.

Henrique a observava com atenção. Conhecia Lia há anos, e jamais a vira tão abalada.

— Você tá me dizendo... — ele começou, a voz grave hesitante — que tudo aquilo... aquilo tudo que a Dani contou... é verdade?

Lia assentiu, devagar.

— Sim. Eu vi as marcas, Henrique. Vi as costas dela... e vi os olhos. Ninguém consegue fingir uma dor daquelas. Nenhuma atriz conseguiria atuar como ela estava. Aquilo foi vivido. Foi real. A verdade é que a Dani... nunca teve chance. Ela foi vítima desde o começo.

Henrique passou a mão pelos cabelos, balançando a cabeça.

— Eu nunca gostei daquela mulher. Nunca. E agora, menos ainda.

Isadora, que até então estava em silêncio, olhou para o marido com o ce