Clara refrescou o rosto com as mãos trêmulas, tentando conter o pânico que lhe queimava o estômago.
A sala estava silenciosa, exceto pelas notificações insistentes pipocando no celular sobre a “treta do ano”, como os portais de fofoca estavam chamando o escândalo.— Achei que essa maldita cidade não tinha paparazzi! — resmungava, andando de um lado para o outro com o celular nas mãos.
Ela acreditou, com toda a convicção do seu ego, que o público a defenderia. Que veriam a cena com Hugo como um caso clássico de violência doméstica.
Que diriam “coitada da Clara” e cancelariam o homem que a empurrou porta afora. Mas a internet não era feita apenas de empatia — era feita de memória.
Vídeos antigos vieram à tona tão rápido quanto foram esquecidos. A “fuga
Clara manteve o corpo ereto, embora o coração batesse acelerado.O homem à sua frente tinha olhos frios demais para um desconhecido, mas falava com a firmeza de quem não estava ali por acaso.— Quem é você e como chegou aqui? — Ela foi direta ao ponto; não queria que Leonardo visse aquela figura em casa.— Sou Valdo. Do Grupo Valdo Veículos. Muito prazer. Vi o seu vídeo nas redes e fiz alguns telefonemas — o homem beijou as costas da mão dela com cortesia.— Concorrente do Hugo? — Ela repetiu, cruzando os braços. — Por que, exatamente, alguém como você estaria disposto a prejudicar o Hugo?Valdo sorriu de canto. Um sorriso seco, sem simpatia. O tipo de sorriso que revelava pouco e escondia muito.— Tenho contas antigas com ele — disse, desviando o olhar para o ambiente ao
Hugo estacionou o carro no hospital e permaneceu alguns segundos com as mãos no volante, tentando controlar o turbilhão de pensamentos que tomava conta de sua mente.O encontro com Clara havia liberado memórias, trazido à tona a sensação do homem fraco e incompetente que permitiu que seus filhos sofressem violência dentro da própria casa. Algo nela o alertava.E, mais do que nunca, ele precisava ter Jéssica e as crianças por perto, sob seus olhos, protegidos.— Tudo bem? Estranhei sua mensagem. —Jéssica entrou com cara cansada e preocupada.— Clara apareceu. — Ele respondeu ligando o carro.— O Que?! — Jéssica sentiu o coração disparar.— Entrou na minha sala como se fosse a rainha de Sabá. Querendo me propor um acordo pra afastar você e Breno do Leonardo. — Ele apertou o volante com ma
Hugo chegou em casa ainda tomado pela raiva. A discussão com Leonardo na porta da escola havia deixado seus nervos em chamas.Ele bateu o portão com força e entrou com passos firmes, o olhar em brasas, como se cada célula do seu corpo ainda pulsasse em alerta.As crianças, sentadas no sofá, seguravam os presentes com um misto de alegria e receio. Maria foi a primeira a se aproximar, com Breno e Caio logo atrás, todos com olhares hesitantes.— A gente pode ficar com os brinquedos? — Caio perguntou, quase num sussurro. — Vamos ter que devolver?Hugo olhou para eles por um instante. Três pares de olhos atentos, carregados de expectativa e medo. O coração dele amoleceu diante daquela cena. Eles não deveriam ter que escolher entre um momento de alegria e a segurança de estar com quem os ama.— Podem — respondeu, por fim, a voz m
Jéssica estava pronta para se entregar completamente. Todo o seu corpo ansiava por mais toques e carícias daquele que era seu apoio e seu abrigo.Hugo descia com beijos por seu pescoço, deslizando sensualmente enquanto acariciava seus beijos pelo fino tecido da camisola.Encurvada pelo desejo, sentia o peso e o roçar da ereção dele em seu corpo. Apertava as costas dele com força, deixando marcas do momento.Hugo, já na barriga dela, estava prestes a tirar a camisola e apreciar a beleza daquele corpo nu, quando ouviu um barulho alto — seu celular explodindo com notificações.— É melhor atender. — Jéssica, ofegante, não queria parar, mas, por hábito do ofício, não ignorava o celular nunca.— Não. Depois. — Ele retomou o ritmo dos beijos, apaixonado e desejoso.Nesse momento, o celula
Jéssica se olhou no espelho do quarto, tentando reunir forças para o que estava prestes a enfrentar.Dessa vez tinha muito mais a perder e não podia imaginar a vida sem a medicina. Ela não sabia exatamente o que a esperava, mas estava determinada a encarar tudo com a mesma dignidade de antes, apesar da tempestade que se formava ao seu redor.Era mais uma manhã, e a rotina parecia continuar como se nada tivesse mudado. Mas ela sabia que a pressão estava ali, como uma sombra que a seguia a cada passo.Ela vestiu o jaleco, ajustou os cabelos e, antes de sair, deu as instruções para as crianças como de costume.Hugo apareceu e vendo que Jéssica aparentava nervosismo fez o que pode para ajudar. Se aproximou e deu um beijo carinhoso de bom dia.Jéssica retribuiu o beijo. Pensou que era mesmo uma sorte ter um homem tão atencioso cuidando dela.— Acho que vou l
Jéssica disparou para a oncologia. O corredor parecia mais frio do que nunca.Ela corria por ele como se cada passo pudesse desfazer o pressentimento que apertava seu peito desde que cruzara a porta do hospital.O nome de Cláudia ecoava em sua mente como um pedido de socorro. Algo estava errado. Ela sentia.Assim que dobrou a última esquina, foi recebida por um silêncio estranho e por uma enfermeira de olhos marejados. Jéssica estacou. O mundo parou por um segundo.— Jéssica... sinto muito. A Cláudia teve um choque súbito. Tentamos reanimar, mas... ela não resistiu. — A moça, chorosa, sabia o quanto as duas eram ligadas e teve a gentileza de dar a notícia com algum pesar.O chão pareceu ceder sob os pés de Jéssica. O mundo girava devagar, e sua garganta se fechava numa angústia indescritível. Nunca se acostuma com a p
Jéssica acordou às 5h40 com um barulho alto vindo da cozinha. Garantiu que Breno continuasse dormindo e foi ver o que estava acontecendo. Já podia prever a situação: Leonardo tinha chegado bêbado novamente. Essa situação se tornou frequente desde que se casaram.— Bom dia. — disse ela, chegando na cozinha para confirmar seu palpite. O marido estava caindo de bêbado. Mal se aguentava em pé. Tentava pegar um copo d’água, mas, apoiado na porta da geladeira, balançava muito e quase derrubou tudo o que tinha lá dentro. Um barulho que certamente acordaria o bebê.— Para com isso! — ela o sentou na cadeira e pegou a água para servi-lo, a fim de evitar o pior.— Meu anjo, Jéssica... — ele falava com a voz embargada pelo álcool. Não dava para saber se estava elogiando ou debochando da esposa. Ela o servia em partes para evitar o escândalo e, em parte, porque realmente acreditava que esse era o dever de uma boa esposa.— Qual é o problema com esse seu trabalho? Você é o único da banda que chega
Do outro lado da cidade, Hugo e Clara estavam discutindo sobre a campanha que Clara estrelaria. O sonho dela de se tornar uma influencer famosa parecia finalmente estar dando os frutos desejados.— Não podemos colocar cerveja numa campanha de carros, Clara!. O cliente já especificou o que gostaria que tivesse no comercial. — Hugo estava exausto nesse momento. Estava há horas tentando convencer a esposa a fazer exatamente o que o cliente queria, e não havia nenhum sinal de que ela tivesse entendido o que precisava.— Uma campanha com amigas se divertindo vai parecer muito mais legal. E vai atrair os jovens. As amigas, com roupas bem sensuais, bebendo muito... — Ela divagava, como se não estivesse falando nenhum absurdo. O problema é que o principal posicionamento das redes dela era a família. Mudar assim não fazia sentido para ninguém.— Clara, é um carro para família! Não tem nada de sensual nessa campanha! Você pelo menos leu o briefing? — Hugo parecia um pouco exasperado. Clara tem