Clara manteve o corpo ereto, embora o coração batesse acelerado.
O homem à sua frente tinha olhos frios demais para um desconhecido, mas falava com a firmeza de quem não estava ali por acaso.— Quem é você e como chegou aqui? — Ela foi direta ao ponto; não queria que Leonardo visse aquela figura em casa.
— Sou Valdo. Do Grupo Valdo Veículos. Muito prazer. Vi o seu vídeo nas redes e fiz alguns telefonemas — o homem beijou as costas da mão dela com cortesia.
— Concorrente do Hugo? — Ela repetiu, cruzando os braços. — Por que, exatamente, alguém como você estaria disposto a prejudicar o Hugo?
Valdo sorriu de canto. Um sorriso seco, sem simpatia. O tipo de sorriso que revelava pouco e escondia muito.
— Tenho contas antigas com ele — disse, desviando o olhar para o ambiente ao
Hugo estacionou o carro no hospital e permaneceu alguns segundos com as mãos no volante, tentando controlar o turbilhão de pensamentos que tomava conta de sua mente.O encontro com Clara havia liberado memórias, trazido à tona a sensação do homem fraco e incompetente que permitiu que seus filhos sofressem violência dentro da própria casa. Algo nela o alertava.E, mais do que nunca, ele precisava ter Jéssica e as crianças por perto, sob seus olhos, protegidos.— Tudo bem? Estranhei sua mensagem. —Jéssica entrou com cara cansada e preocupada.— Clara apareceu. — Ele respondeu ligando o carro.— O Que?! — Jéssica sentiu o coração disparar.— Entrou na minha sala como se fosse a rainha de Sabá. Querendo me propor um acordo pra afastar você e Breno do Leonardo. — Ele apertou o volante com ma
Hugo chegou em casa ainda tomado pela raiva. A discussão com Leonardo na porta da escola havia deixado seus nervos em chamas.Ele bateu o portão com força e entrou com passos firmes, o olhar em brasas, como se cada célula do seu corpo ainda pulsasse em alerta.As crianças, sentadas no sofá, seguravam os presentes com um misto de alegria e receio. Maria foi a primeira a se aproximar, com Breno e Caio logo atrás, todos com olhares hesitantes.— A gente pode ficar com os brinquedos? — Caio perguntou, quase num sussurro. — Vamos ter que devolver?Hugo olhou para eles por um instante. Três pares de olhos atentos, carregados de expectativa e medo. O coração dele amoleceu diante daquela cena. Eles não deveriam ter que escolher entre um momento de alegria e a segurança de estar com quem os ama.— Podem — respondeu, por fim, a voz m
Jéssica estava pronta para se entregar completamente. Todo o seu corpo ansiava por mais toques e carícias daquele que era seu apoio e seu abrigo.Hugo descia com beijos por seu pescoço, deslizando sensualmente enquanto acariciava seus beijos pelo fino tecido da camisola.Encurvada pelo desejo, sentia o peso e o roçar da ereção dele em seu corpo. Apertava as costas dele com força, deixando marcas do momento.Hugo, já na barriga dela, estava prestes a tirar a camisola e apreciar a beleza daquele corpo nu, quando ouviu um barulho alto — seu celular explodindo com notificações.— É melhor atender. — Jéssica, ofegante, não queria parar, mas, por hábito do ofício, não ignorava o celular nunca.— Não. Depois. — Ele retomou o ritmo dos beijos, apaixonado e desejoso.Nesse momento, o celula
Jéssica se olhou no espelho do quarto, tentando reunir forças para o que estava prestes a enfrentar.Dessa vez tinha muito mais a perder e não podia imaginar a vida sem a medicina. Ela não sabia exatamente o que a esperava, mas estava determinada a encarar tudo com a mesma dignidade de antes, apesar da tempestade que se formava ao seu redor.Era mais uma manhã, e a rotina parecia continuar como se nada tivesse mudado. Mas ela sabia que a pressão estava ali, como uma sombra que a seguia a cada passo.Ela vestiu o jaleco, ajustou os cabelos e, antes de sair, deu as instruções para as crianças como de costume.Hugo apareceu e vendo que Jéssica aparentava nervosismo fez o que pode para ajudar. Se aproximou e deu um beijo carinhoso de bom dia.Jéssica retribuiu o beijo. Pensou que era mesmo uma sorte ter um homem tão atencioso cuidando dela.— Acho que vou l
Jéssica disparou para a oncologia. O corredor parecia mais frio do que nunca.Ela corria por ele como se cada passo pudesse desfazer o pressentimento que apertava seu peito desde que cruzara a porta do hospital.O nome de Cláudia ecoava em sua mente como um pedido de socorro. Algo estava errado. Ela sentia.Assim que dobrou a última esquina, foi recebida por um silêncio estranho e por uma enfermeira de olhos marejados. Jéssica estacou. O mundo parou por um segundo.— Jéssica... sinto muito. A Cláudia teve um choque súbito. Tentamos reanimar, mas... ela não resistiu. — A moça, chorosa, sabia o quanto as duas eram ligadas e teve a gentileza de dar a notícia com algum pesar.O chão pareceu ceder sob os pés de Jéssica. O mundo girava devagar, e sua garganta se fechava numa angústia indescritível. Nunca se acostuma com a p
Jéssica acordou às 5h40 com um barulho alto vindo da cozinha. Garantiu que Breno continuasse dormindo e foi ver o que estava acontecendo. Já podia prever a situação: Leonardo tinha chegado bêbado novamente. Essa situação se tornou frequente desde que se casaram.— Bom dia. — disse ela, chegando na cozinha para confirmar seu palpite. O marido estava caindo de bêbado. Mal se aguentava em pé. Tentava pegar um copo d’água, mas, apoiado na porta da geladeira, balançava muito e quase derrubou tudo o que tinha lá dentro. Um barulho que certamente acordaria o bebê.— Para com isso! — ela o sentou na cadeira e pegou a água para servi-lo, a fim de evitar o pior.— Meu anjo, Jéssica... — ele falava com a voz embargada pelo álcool. Não dava para saber se estava elogiando ou debochando da esposa. Ela o servia em partes para evitar o escândalo e, em parte, porque realmente acreditava que esse era o dever de uma boa esposa.— Qual é o problema com esse seu trabalho? Você é o único da banda que chega
Do outro lado da cidade, Hugo e Clara estavam discutindo sobre a campanha que Clara estrelaria. O sonho dela de se tornar uma influencer famosa parecia finalmente estar dando os frutos desejados.— Não podemos colocar cerveja numa campanha de carros, Clara!. O cliente já especificou o que gostaria que tivesse no comercial. — Hugo estava exausto nesse momento. Estava há horas tentando convencer a esposa a fazer exatamente o que o cliente queria, e não havia nenhum sinal de que ela tivesse entendido o que precisava.— Uma campanha com amigas se divertindo vai parecer muito mais legal. E vai atrair os jovens. As amigas, com roupas bem sensuais, bebendo muito... — Ela divagava, como se não estivesse falando nenhum absurdo. O problema é que o principal posicionamento das redes dela era a família. Mudar assim não fazia sentido para ninguém.— Clara, é um carro para família! Não tem nada de sensual nessa campanha! Você pelo menos leu o briefing? — Hugo parecia um pouco exasperado. Clara tem
Leonardo olha a notificação no celular com expressão neutra. Manter Clara por perto tem suas vantagens e desvantagens. Ele observa o vestido que tem nas mãos com atenção, lembrando das curvas de sua esposa. Precisa agradar a Jéssica hoje.Sabe que passou do limite, pois a vizinha veio reclamar da barulheira de bêbado que ele fez. Foi muito gentil com a vizinha, pediu um milhão de desculpas e prometeu que nunca mais iria acontecer.Não é que ele sinta arrependimento pelas suas ações. Acontece que precisa criar uma boa imagem pública, pois será uma estrela do rock algum dia. Leonardo jamais deixa qualquer coisa ao acaso. Sempre faz tudo projetando o futuro que deseja para si mesmo.Conferiu todo o cenário que montou para esposa. Se tinha flores o suficiente, se os doces estavam bem atrativos, se o cheiro traria boas lembranças. Precisava seduzir para ter o que queria. O perdão da esposa. Pediu pra mãe ficar com Breno durante a noite. Queria que a surpresa fosse completa e planejou leva