O Inferno de Émie
O Inferno de Émie
Por: LIDIANE
Capítulo 1 — ÉMIE

Émie Carter:

— Levanta logo sua vadia, ou vai perder a hora de ir para o seu inferno. — junto a suas palavras, por fim, uma risada horrível que embrulhava o estômago por completo.

Meu pai não me deixava em paz, mas meu ódio por ele só crescia a cada segundo, principalmente quando ele trazia os amigos dele para dentro de casa. Deixando-me totalmente exposta, pois a casa era minúscula e infelizmente meu ganho mensal não era compatível com o valor de um aluguel.

— Eu sinto muito por isso, Émie. Espero que algum dia você possa me perdoar. — era sempre as mesmas frases, embora soubesse que ela não mudaria mais, não para melhor, eu sempre a perdoei. Ela era minha inspiração há quatro anos atrás, quando ela ainda vivia intensamente seus sonhos, até decidir voltar para o meu pai novamente.

— Até mais… — despedir sem olhar em seus olhos, que agora estavam tão vazios quanto uma floresta sem visitantes.

Quando criança imaginava uma vida feliz ao lado dos meus pais, mas tudo mudou de repente. A casa foi vendida, mudamos de cidade e por fim, eu perdi minha melhor amiga desde que mudei de cidade. Perdi toda a vontade de viver desde o momento em que ganhei uma bolsa para Harvard, mas não tinha a mínima chance de ir, me contei em estudar literatura nas horas em que me cabia esse privilégio.

Na biblioteca em que eu trabalhava tudo era antigo, a maioria dos livros eram doados, embora o salário não fosse muito bom, o lugar era simplesmente fantástico.

O silêncio era algo que as pessoas apreciavam bastante, mas no fundo, a solidão me corroía por dentro.

— Boa dia, trouxe um capuccino do jeito que você gosta, com bastante creme. — aquela voz era mais que familiar, era Betsy, minha melhor amiga de infância que não via há dois anos.

— Meu D-e-u-s! — foram as únicas palavras que eu consegui dizer antes de levantar da cadeira e lhe abraçar fortemente. — Como conseguiu me encontrar aqui? Me perdoe por partir sem se despedir, eu não tive escolhas.

— Está tudo bem, Émie. Eu encontrei com a sua mãe um dia desses, então perguntei onde vocês estavam morando e ela me deu apenas o seu endereço de trabalho. Por que você sumiu sem avisar a ninguém? Passava todos os dias esperando uma mensagem sua, graças a Deus que te encontrei, garota. — Betsy me abraçou forte e por um momento eu desejei que ela sempre estivesse ali comigo.

Éramos tipo carne e unha, inseparáveis, até que os pais dela se mudaram para uma mansão quando tínhamos 13 anos, dois anos depois meus pais começaram a se mudar e desde então não saíram mais daqui, mesmo que algum dia pretendam, espero já não morar mais com eles.

— Me desculpe, de verdade! Eu não estive muito bem e as coisas só pareciam piorar, então me livrei do meu celular e fiquei longe de todas as notícias. Eu deveria ao menos ter telefonado de um orelhão, me perdoe, por favor. — esbocei um sorriso fraco, fazendo ela franzir o cenho e sorrir alto.

— Eu já disse que está tudo bem. Bom… tenho que parar de perturbar você. Ah, aluguei um apartamento aqui próximo e passo às 20:00 pra te pegar aqui, depois a gente vê o que faz. — impressionante como em dois anos, Bet não mudou absolutamente nada em sua personalidade, sempre afobada e sem tempo.

— Eu senti sua falta! — gritei antes que ela entrasse no carro e ela retribuiu o grito. As pessoas me olharam com desdém e voltavam a ler de onde haviam parado, enquanto eu me sentia uma louca naquele momento.

A biblicota fechava às 18:00, mas como precisavam de uma pessoa para limpar o chão e tirar as poeiras, eu me dediquei a fazer um extra de três horas todos os dias, assim receberei mais um pouco no dia do pagamento.

Após fazer tudo eu me sentia exausta. As mesas são de mármores e muito pesadas, às vezes tenho que arrastá-las para limpar seus pés e isso acaba comigo. Por fim, o relógio marcava 19:57 quando ouvimos batidas na porta, já que a mesma estava trancada.

— O que ainda faz aqui? Achei que já tinham fechado. — Betsy estava pronta para ir aonde quer que fosse, diferente de mim.

— Preciso de grana, Betsy. — ela fez um biquinho e uma negativa com a cabeça.

— Olha, eu não vim até aqui para receber um não, portanto, já deixei sua roupa separada. Eu sei que não é muito a sua praia, mas aposto de você vai amar, inclusive, você poderia sair de vez em quando.

Betsy me puxou para dentro do carro sem nem mesmo me dar tempo de pensar. Seu apartamento era algo simplesmente maravilhoso e um sonho, sem inveja! Seu vestido vermelho sangue era lindo, seu look estava combinando a beça com o seu cabelo acima dos ombros.

— Anda, vai se trocar… — sem aviso prévio, ela me abraçou forte, deu um beijo em meu rosto e disse: — Acho que a melhor coisa da minha vida foi encontrar você. Eu tenho tantas coisas pra te contar, Émie.

— Sem dúvidas a melhor coisa da minha foi ter você sempre presente. Lembro como se fosse hoje, você roubando cupcakes do seu café da tarde para levar até mim, eu… não sei dizer o quanto você me ajudou a seguir em frente sem querer desistir.

— Tá legal! Agora vai se vestir que a noite é nossa. Você já avisou aos seus pais que vai dormir fora?

— Sim! — menti. Eu detestava mentir, mas era algo que eu não queria falar no momento. Betsy estava feliz demais para se preocupar com os problemas dos outros, no vaso os meus mesmo.

Embora eu gostasse de coisas bonitas, elas eram caras demais e eu não podia pagar por elas, mas Bet sempre dava um jeito em não fazer disso um problema. O vestido longo na cor lilás era perfeito, os detalhes eram como se ele tivesse sido feito para mim. As minhas curvas estavam à mostra, o que me deixava um pouco constrangida por não ter o que mostrar, afinal, eu não sou alta e muito menos com o corpo esbelto. — Meus Deus! — disse ao ver o par de saltos que Betsy colocou ali, no mínimo deveria ter custado duas casas da qual eu moro atualmente.

— Betsy, não pode fazer isso. Não quero que se preocupe comigo, eu estou bem, e você tem que pensar mais no seu futuro. — ela não respondeu, permaneceu com os olhos fixos ao espelho, na tentativa de deixar seus cílios o maior que ela pudesse.

— Sabe que Michael é fascinado por saltos, não é? Ele pediu para presentear você com algo bonito que você gostasse, então…

— Michael! — disse baixinho, sentindo uma pontada em meu peito, como se possível viver tudo que vivi no passado, quando morávamos perto. Até ele ir embora no dia do meu aniversário, havíamos marcado de fugir quando eu completasse os 18 anos, mas tudo foi apenas brincadeira.

(...)

Betsy que não parava um minuto sequer de falar, enfim havia encontrado uma pessoa, me dando uma brecha para ir ao banheiro sozinha.

O nervosismo era algo que me dominava por completo, tendo a capacidade de travar meus pensamentos e atiçar meus medos. Tinha medo dos meus pais me encontrarem e fazer a maior vergonha a Bet; tenho medo de amar demais alguém que não me queria e dentre tantos outros, o que mais me assusta, é nunca conseguir ser feliz de verdade, longe de tudo isso. O pó branco bem a minha frente, era o que me deixava ativa pelo resto da noite, o que não era ruim. Com uma nota de cinquenta, fiz um canudo, posicionei na ponta da lista branca e com o nariz aspirei de uma só vez, sentindo amargo em minha boca no momento seguinte.

— Vamos, Émie, por favor! — as batidas na porta se tornaram constantes, mas era possível ouvir vozes além da voz de Betsy, o que indicava que ela não estava sozinha, mas sim, com algumas pessoas ao seu lado.

— Já estou saindo, só um minuto. — guardei tudo que pudesse ser vestígios dentro da bolsa, arrumei os cabelos e tentei parecer o mais normal possível.

— Vamos, quero te apresentar algumas pessoas. — Betsy agarrou-me pela mão e me puxou para o meio da multidão, apoiando os cotovelos no balcão enquanto fazia seu pedido, junto aos demais.

(...)

Conheci todos os amigos de Betsy, bebi bastante na esperança de sonhar a noite com uma vida bem longe dos meus pais, por fim, percebi que minha hora de ir embora havia chegado. Betsy sabia se cuidar, nunca bebia demais, me certifiquei de que ela estava sóbria, e estava! Me despedi e fui embora, mentindo que chamaria um táxi quando saísse dali.

Minha cabeça estava zonza, meu corpo cambaleava para os lados a cada passo a frente, como se a qualquer hora eu fosse cair. A rua estava deserta, sem carros no asfalto, então pensei "essa era a hora perfeita para atravessar a rua. Segurei os saltos firmes em minhas mãos e fui adiante, tendo meu corpo jogado para longe no momento seguinte. Senti meu corpo relaxar e os olhos fecharem aos poucos…

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