Parece que foi ontem. Eu me lembro da minha mãe chegar com os olhos aflitos para me dar a notícia. Ela me prometeu em casamento para o rei da soja. Parece brincadeira, mas eu deixei de sentir os meus pés no chão e quase desmaiei.
 O meu mundinho, no interior da minha pequena cidade do estado do Mato Grosso, se quebrou em mil pedaços. Parecia que eu não ouvia mais a voz da minha mãe. Os olhos encheram-se de lágrimas e o desespero tomou conta de mim.
 As histórias que eu ouvia a respeito de Victor Sorano eram as piores. Um homem frio e implacável. Todos os fazendeiros o temiam. Eu nunca dei importância àquelas narrativas, mas por mais que parecesse alheia a elas, eu as via voltar na minha mente, afinal, ele era agora o homem com quem eu deveria casar.
 Minha mãe continuava explicando:
 — Não se preocupe, ele não é feio e nem velho. Tem apenas trinta e seis anos!
 Eu ergui os olhos nesse momento. Trinta e seis anos! Meu Deus, ele era muito velho para mim! Eu só tinha vinte anos e havia quem achasse que eu tinha quinze! Minha mãe continuou falando, sem perceber o meu desespero:
 — Ele veio aqui. Ele me fez a proposta, é só de fachada! Ele prometeu não lhe tocar.
 Eu queria revirar os olhos. Claro que eu não acreditava naquela historinha, mas ainda assim, não queria faltar com respeito a minha mãe que acabara de ficar viúva. Meu padrasto faleceu de morte súbita e nos deixou como herança uma enorme dívida com o rei da soja.
 — Perdemos tudo, filha! Essa casa e todos os outros bens!
 Minha mãe se referia às tantas terras que possuíamos e das quais o meu padrasto se gabava. A verdade era que ele empenhou todos os bens e ficou nas mãos de um só homem do qual ele se dizia amigo.
 Eu nunca acreditei na amizade dele com o homem de pedra. Era assim que eu me referia a Victor. Tinha uma estátua dele no centro da cidade. O prefeito puxa-saco a colocou no meio da praça onde eu ficava com as minhas amigas jogando conversa fora.
 — Por favor filha, preciso que nos ajude! Estou em suas mãos! — A minha mãe continuava implorando.
 Eu sabia que não era um pedido, mas uma ordem.
 Eu não queria ouvir e saí correndo de casa. Fui parar bem longe de lá. Na verdade, eu fui cuspir a estátua de Victo Sorano.
 — Você é feio, velho e desprezível!
 — Eu concordo!
 Eu me virei e vi Arthur, meu amigo sorrindo de braços cruzados. Ele foi o meu primeiro beijo, tínhamos só quinze anos na época, éramos muito bobos, mas ele dizia que nunca me esqueceu.
 — Posso ajudar?
 Eu me joguei nos braços fortes e aconchegantes, e fechei os olhos enquanto as lágrimas escorriam pelo meu rosto.
 Depois de algum tempo, eu consegui me acalmar e contei tudo para o meu amigo.
 — Mas você não tem que pagar essa conta! — ele protestou indignado.
 Eu baixei a cabeça sentindo-me perdida.
 — Vocês podem trabalhar e viver dignamente como todo mundo nessa cidade!— ele insistiu segurando os meus braços.
 Eu estava envergonhada e me mantinha cabisbaixa.
 — Casa comigo!
 Eu ergui os olhos incrédulos.
 — Ficou louco?— questionei surpresa.
 — Eu sempre te amei, Nora! Eu vou te fazer feliz! Não sou rico como ele, mas vou te dar um lar.
 Eu olhei para Arthur como se o estivesse vendo pela primeira vez. Os olhos castanhos bem claros, a boca carnuda e o queixo bem definido lhe davam um charme completando a sua beleza com os cabelos encaracolados na mesma cor dos olhos.
 — Não posso!— eu simplesmente respondi angustiada.
 Arthur me apertou em seus braços desesperado.
 — Não faça isso com a sua vida, Nora! — ele implorou enquanto eu sentia meu corpo sendo comprimido.
 Saímos caminhando em silêncio e eu não sei como cheguei na beira daquele lago. Entramos na água morna e ficamos nos olhando sem conseguir dizer qualquer coisa.
 — Vem!— ele disse-me conduzindo para uma área mais funda, onde a água chegava até meus seios.
 Arthur olhava para a minha blusa molhada com os olhos devoradores.
 — Sei que nunca teve ninguém! — ele declarou sério.
 Eu não neguei, apenas baixei a cabeça e entendi o que ele estava tentando me falar.
 Arthur puxou delicadamente a minha saia para cima e baixou minha langerie.
 Eu apertei os olhos sem reagir. Deixei ele continuar com aquilo porque eu achava que seria uma saída para não me casar com o homem de pedra.
 Uma ardência, um misto de dor, incômodo e nojo. Eu perdi a minha virgindade com as unhas encravadas nas costas do meu ex-namorado e melhor amigo.
 As lágrimas molhavam o meu rosto enquanto o meu corpo era violado. As mãos de Arthur pareciam espinhos. O meu rosto virado para o lado negando o seu beijo.
 Eu ouvi a respiração dele no meu ouvido como um animal, eu tentei me afastar, mas meu corpo estava colado no dele e um líquido quente me invadiu a intimidade.
 Arthur suspirou aliviado e sorriu me olhando, enquanto se afastava.
 — Você é minha mulher agora! — ele disse sorrindo.
 Eu me senti confusa. Eu deixei aquilo acontecer, mas estava com medo. Não sabia o que iria acontecer em seguida.
 Arthur segurou as minhas mãos e disse sorrindo:
 — Estou muito feliz, Nora! Vamos nos casar. Sua mãe não vai ter outra alternativa a não ser aceitar.
 Eu fiquei pensativa. Essa era a proposta. Minha mãe não poderia mais honrar o compromisso com o homem de pedra, pois no acordo constava que a noiva era virgem.
 E foi assim. Chegamos em casa de mãos dadas para surpresa da minha mãe.
 — O que significa isso?— ela disse alterada.
 Arthur apertou a minha mão e sacudiu o corpo todo animado dizendo:
 — Nós vamos nos casar, dona Armênia!
 Minha mãe ruborizou na hora. Achei que ela ia infartar.
 — Nora já está comprometida, rapaz! Ela vai casar com Victor Sorano!
 Arthur não se alterou com as palavras da minha mãe e soltou rapidamente a nossa situação.
 — Sua filha se entregou para mim, dona Armênia! Preciso reparar o meu erro!
 Minha mãe ficou chocada. Por um momento ficou confusa, escolhendo as palavras que pareciam não vir.
 De repente, ela se levantou da poltrona e começou a falar gesticulando muito.
 — Você não passa de um pobre coitado, rapaz! Nora está prometida a um homem muito rico e poderoso. Vou dar um jeito de consertar essa lambança.
 Eu olhei incrédula para ela sem acreditar.
 — Mãe! A senhora não ouviu? Eu não sou mais virgem. A senhora prometeu uma filha virgem para o homem de pedra. Se quiser, me submeto a um exame para comprovar!
 Minha mãe simplesmente deu de ombros e retrucou:
 — Nem sei se isso é importante para ele! Eu falei que você era virgem para te valorizar, Nora! Também para evitar que ele exigisse a consumação do casamento. Sendo assim, acho que ele vai achar mais cômodo!
 Eu e Arthur nos olhamos boquiabertos.