O Homem de Pedra
O Homem de Pedra
Por: Ieda Lemos
Capítulo 1°

Parece que foi ontem. Eu me lembro da minha mãe chegar com os olhos aflitos para me dar a notícia. Ela me prometeu em casamento para o rei da soja. Parece brincadeira, mas eu deixei de sentir os meus pés no chão e quase desmaiei.

O meu mundinho, no interior da minha pequena cidade do estado do Mato Grosso, se quebrou em mil pedaços. Parecia que eu não ouvia mais a voz da minha mãe. Os olhos encheram-se de lágrimas e o desespero tomou conta de mim.

As histórias que eu ouvia a respeito de Victor Sorano eram as piores. Um homem frio e implacável. Todos os fazendeiros o temiam. Eu nunca dei importância àquelas narrativas, mas por mais que parecesse alheia a elas, eu as via voltar na minha mente, afinal, ele era agora o homem com quem eu deveria casar.

Minha mãe continuava explicando:

— Não se preocupe, ele não é feio e nem velho. Tem apenas trinta e seis anos!

Eu ergui os olhos nesse momento. Trinta e seis anos! Meu Deus, ele era muito velho para mim! Eu só tinha vinte anos e havia quem achasse que eu tinha quinze! Minha mãe continuou falando, sem perceber o meu desespero:

— Ele veio aqui. Ele me fez a proposta, é só de fachada! Ele prometeu não lhe tocar.

Eu queria revirar os olhos. Claro que eu não acreditava naquela historinha, mas ainda assim, não queria faltar com respeito a minha mãe que acabara de ficar viúva. Meu padrasto faleceu de morte súbita e nos deixou como herança uma enorme dívida com o rei da soja.

— Perdemos tudo, filha! Essa casa e todos os outros bens!

Minha mãe se referia às tantas terras que possuíamos e das quais o meu padrasto se gabava. A verdade era que ele empenhou todos os bens e ficou nas mãos de um só homem do qual ele se dizia amigo.

Eu nunca acreditei na amizade dele com o homem de pedra. Era assim que eu me referia a Victor. Tinha uma estátua dele no centro da cidade. O prefeito puxa-saco a colocou no meio da praça onde eu ficava com as minhas amigas jogando conversa fora.

— Por favor filha, preciso que nos ajude! Estou em suas mãos! — A minha mãe continuava implorando.

Eu sabia que não era um pedido, mas uma ordem.

Eu não queria ouvir e saí correndo de casa. Fui parar bem longe de lá. Na verdade, eu fui cuspir a estátua de Victo Sorano.

— Você é feio, velho e desprezível!

— Eu concordo!

Eu me virei e vi Arthur, meu amigo sorrindo de braços cruzados. Ele foi o meu primeiro beijo, tínhamos só quinze anos na época, éramos muito bobos, mas ele dizia que nunca me esqueceu.

— Posso ajudar?

Eu me joguei nos braços fortes e aconchegantes, e fechei os olhos enquanto as lágrimas escorriam pelo meu rosto.

Depois de algum tempo, eu consegui me acalmar e contei tudo para o meu amigo.

— Mas você não tem que pagar essa conta! — ele protestou indignado.

Eu baixei a cabeça sentindo-me perdida.

— Vocês podem trabalhar e viver dignamente como todo mundo nessa cidade!— ele insistiu segurando os meus braços.

Eu estava envergonhada e me mantinha cabisbaixa.

— Casa comigo!

Eu ergui os olhos incrédulos.

— Ficou louco?— questionei surpresa.

— Eu sempre te amei, Nora! Eu vou te fazer feliz! Não sou rico como ele, mas vou te dar um lar.

Eu olhei para Arthur como se o estivesse vendo pela primeira vez. Os olhos castanhos bem claros, a boca carnuda e o queixo bem definido lhe davam um charme completando a sua beleza com os cabelos encaracolados na mesma cor dos olhos.

— Não posso!— eu simplesmente respondi angustiada.

Arthur me apertou em seus braços desesperado.

— Não faça isso com a sua vida, Nora! — ele implorou enquanto eu sentia meu corpo sendo comprimido.

Saímos caminhando em silêncio e eu não sei como cheguei na beira daquele lago. Entramos na água morna e ficamos nos olhando sem conseguir dizer qualquer coisa.

— Vem!— ele disse-me conduzindo para uma área mais funda, onde a água chegava até meus seios.

Arthur olhava para a minha blusa molhada com os olhos devoradores.

— Sei que nunca teve ninguém! — ele declarou sério.

Eu não neguei, apenas baixei a cabeça e entendi o que ele estava tentando me falar.

Arthur puxou delicadamente a minha saia para cima e baixou minha langerie.

Eu apertei os olhos sem reagir. Deixei ele continuar com aquilo porque eu achava que seria uma saída para não me casar com o homem de pedra.

Uma ardência, um misto de dor, incômodo e nojo. Eu perdi a minha virgindade com as unhas encravadas nas costas do meu ex-namorado e melhor amigo.

As lágrimas molhavam o meu rosto enquanto o meu corpo era violado. As mãos de Arthur pareciam espinhos. O meu rosto virado para o lado negando o seu beijo.

Eu ouvi a respiração dele no meu ouvido como um animal, eu tentei me afastar, mas meu corpo estava colado no dele e um líquido quente me invadiu a intimidade.

Arthur suspirou aliviado e sorriu me olhando, enquanto se afastava.

— Você é minha mulher agora! — ele disse sorrindo.

Eu me senti confusa. Eu deixei aquilo acontecer, mas estava com medo. Não sabia o que iria acontecer em seguida.

Arthur segurou as minhas mãos e disse sorrindo:

— Estou muito feliz, Nora! Vamos nos casar. Sua mãe não vai ter outra alternativa a não ser aceitar.

Eu fiquei pensativa. Essa era a proposta. Minha mãe não poderia mais honrar o compromisso com o homem de pedra, pois no acordo constava que a noiva era virgem.

E foi assim. Chegamos em casa de mãos dadas para surpresa da minha mãe.

— O que significa isso?— ela disse alterada.

Arthur apertou a minha mão e sacudiu o corpo todo animado dizendo:

— Nós vamos nos casar, dona Armênia!

Minha mãe ruborizou na hora. Achei que ela ia infartar.

— Nora já está comprometida, rapaz! Ela vai casar com Victor Sorano!

Arthur não se alterou com as palavras da minha mãe e soltou rapidamente a nossa situação.

— Sua filha se entregou para mim, dona Armênia! Preciso reparar o meu erro!

Minha mãe ficou chocada. Por um momento ficou confusa, escolhendo as palavras que pareciam não vir.

De repente, ela se levantou da poltrona e começou a falar gesticulando muito.

— Você não passa de um pobre coitado, rapaz! Nora está prometida a um homem muito rico e poderoso. Vou dar um jeito de consertar essa lambança.

Eu olhei incrédula para ela sem acreditar.

— Mãe! A senhora não ouviu? Eu não sou mais virgem. A senhora prometeu uma filha virgem para o homem de pedra. Se quiser, me submeto a um exame para comprovar!

Minha mãe simplesmente deu de ombros e retrucou:

— Nem sei se isso é importante para ele! Eu falei que você era virgem para te valorizar, Nora! Também para evitar que ele exigisse a consumação do casamento. Sendo assim, acho que ele vai achar mais cômodo!

Eu e Arthur nos olhamos boquiabertos.

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