O Herdeiro da Máfia
— Como estão atrasados? Odeio atrasos! — o Sr. John estava impaciente, era sempre pontual em seus negócios.
— Calma, amor — Sarah olhava à sua volta, certificando-se da segurança impecável que tinham. Alguns chineses eram revistados pelos seguranças da família Capplly antes de sentarem à mesa.
— Pensei que vocês não viessem — o Sr. John os encarou, tentando encontrar alguma armadilha planejada.
— Relaxe, amor — Sarah murmurou.
A noite estava tensa para todos os presentes. Os chineses pegaram uma maleta e colocaram-na sobre a mesa.
— Veja, senhor — dentro da maleta havia algumas armas de ultima geração. — São presentes do chefe para o senhor.
John olhou e disse:
— Tire essas porcarias da minha frente. Não estou aqui para receber presente. Não preciso de armas, meu caro, o maior arsenal bélico está na minha família e tem nossa marca. Está de ironia comigo? — ele empurrou a maleta longe. — Saiam daqui e falem para o seu chefe covarde que esteja antes do amanhecer com o combinado — ele foi para o carro fazendo algumas ligações. — Faça o combinado, aquele velho covarde não compareceu e ainda enviou um pequeno presente irônico — ele desligou o telefone com uma irritação profunda. Beijou a mulher aliviando os pensamentos maldosos. — Me espere no quarto do hotel e não saia até eu ligar.
— De forma alguma, estarei com você. Estaremos juntos em todos os momentos de nossas vidas.
Ele não discutiu e saiu do quarto às 23h30min, seguindo para o lugar combinado com sua agente. Isabelle era a mulher mais habilidosa que a família Capplly conhecia. Era uma arquiteta para resolver negócios, onde alguns empresários queriam ser espertos com os Cappllys. Tinha sido treinada para matar sem piedade os inimigos dos Cappllys. O mais ousado pela família é que ela era filha do chefe do FBI e de uma das advogadas dos Cappllys. Os pais tinham opiniões divergentes da família Capplly, o que os levou à separação. Isabelle morava desde os sete anos em um templo, sendo educada por monges. Em uma visita à mãe, conheceu os negócios que envolviam os Cappllys através do próprio Sr. William, que a convidou para se juntar a sua equipe, deixando-a por dentro de tudo que ocorria.
— Somos o que somos, minha jovem, gosto muito do trabalho de sua mãe e odeio o do seu pai — ele comentou rindo, deixando-a na dúvida.
— Quero fazer parte de sua equipe. O FBI não importa — comentou sem demonstrar sentimento pelo trabalho do pai, o carrasco Kemal. — Serei a melhor! Nunca me dei bem com meu pai. Agradeço ao Sr. William por ter pago todo esse tempo que estive no templo. A minha educação dedico à sua família.
Ele ficou surpreso.
— Mas...
— Mamãe me falou que foi ideia sua. Hoje sou muito grata por tudo.
Anos de treinamento e confinamento no Japão e Taiwan fizeram de Isabelle uma mulher fantasma. Nunca era vista por onde entrava ou saía. Tornou-se a profissional mais bem paga do mundo como “guardiã”.
O senhor William sempre dizia: “Nunca tenha piedade, se tiver que fazer algo ruim para sobreviver entre os leões, faça sem hesitar. Não abra espaço ao inimigo para pegá-la primeiro. Massacre! Esqueça o amor. Piedade não existe! Seja um cubo de gelo. Terá o mundo aos seus pés. Seja apenas fiel à minha família. Se achar que tem necessidade de algo é só falar. Monte sua equipe com os melhores dos meus homens. Todos foram treinados e muito bem qualificados”. Ele sabia que estava entregando seus mais profundos segredos a uma jovem. Tudo que dizia não era novidade para ela, havia sido treinada muito bem.
— Não irei decepcioná-lo, senhor. Serei a melhor e não desejo uma equipe. Quero trabalhar só. Se houver algum erro, será apenas meu — respondia ciente das consequências.
Ele concordou entregando-lhe um pacote.
— Sua passagem e um mapa indicando quem você deve procurar — iria quebrar todos os protocolos de segurança da família. — Confiarei em você.
Quando Laurinda comunicou ao ex-marido que a filha iria estudar no Japão, ele disse:
— Você está louca, Laurinda? Onde está nossa filha?
— Terá a melhor educação. O Sr. William encontrou uma forma de me alegrar.
— Que diabo você tem na cabeça? Esse mafioso filho da puta… — após varias discussões sem sucesso com a mulher, saía para o seu refúgio, a bebida, que causou sua separação, a perda da guarda da filha nos tribunais e anos longe do FBI.
Os seguranças estavam todos em pontos estratégicos para a segurança do casal Capplly.
— Senhores, não gosto da ideia de suas presenças. É uma missão delicada.
— Não se preocupe, Isabelle, quando você pegá-lo não o mate. Trouxe todos os homens possíveis. Faça o quanto antes, entre naquela maldita casa, os alarmes estão todos desligados e a segurança dopada — ele riu. — A única empregada que o velho desgraçado tem está de folga hoje. Pegue todo o dinheiro que ele guarda no cofre que fica atrás do armário do banheiro. Entro em seguida.
Antes que Isabelle pegasse o dinheiro, o Sr. John já estava segurando um homem de mais ou menos 50 anos pelo pescoço.
— O que você achava, seu desgraçado?!
— John! Eu… — ele sentiu algo quente molhar sua calça. — Eu ia m****r o dinheiro amanhã. As armas eram apenas uma…
Ele socou-lhe o nariz deixando-o sem ar.
— Armas! Tenho todas! Você estava sendo irônico comigo, não é pelo dinheiro, sim pela palavra — ele olhou Isabelle e disse: — Isabelle, me desculpe, não aguentei.
Isabelle fez sinal para uns seguranças levarem diversos sacos abarrotados de milhões de dólares.
— Senhor, está tudo aí. Deixe-o comigo.
Ele saiu segurando a mão de Sarah, que o seguiu sem olhar para trás. Ao se distanciarem uma enorme explosão tomara conta do lugar.
— Essa garota é diabólica — comentou Sarah, sem obter nenhuma reação do marido. — Essa missão era dela e você não devia estar presente, amor.
— Foi algo mais forte — disse ele, e beijou a mulher.
No dia seguinte os jornais comentavam a explosão: “A perícia concluiu que foi escapamento de gás”.
— Formidável! — exclamou o Sr. William vendo o noticiário. — Vamos voltar para o Canadá, Brady, amanhã cedo. Quero que conheça uma amiga. Ela tem 20 anos é a mais bela jovem que o planeta lançou entre nós. Você era criança quando a viu pela primeira vez e mesmo assim ficou encantado com ela.
Brady já havia ouvido falar da jovem Isabelle.
— Que milagre! Ela nunca podia nos visitar, e quando visitava, eu estava viajando. Voltou para o Brasil já em missão? — Brady sorriu.
A senhora Rebeca não gostava da ideia. Não concordava com a presença de uma assassina junto ao neto.
— William, há necessidade? Conhecemos o nosso neto, não gostaria de um envolvimento. Veja o exemplo dos Adams. Criam Anne longe dos negócios. Eu falaria o mesmo para Meg, tenho Anne como uma neta.
— Rebeca, nosso neto agora é um adolescente. Anne é uma menina!
Quando eles chegaram à mansão dos pais de Brady, sua mãe estava na biblioteca olhando o álbum de família, conversando com uma mulher que tinha todas as características dadas pelo seu avô.
— Posso entrar?
Sarah o olhou surpresa.
— Filho! O que faz aqui?
Ele a beijou nos lábios, abraçando-a com saudade.
— Eu o trouxe para conhecer nossa amiga — respondeu Sr. William. — Como vai, minha jovem amiga?— ele abraçou Isabelle segurando-a pelos ombros. — A cada dia que se passa fica mais esplêndida — ele chamou o neto dizendo: — Essa é a minha melhor amiga — ele era sincero ao dizer que a tinha como a melhor amiga.
— Muito prazer! — ele apertou-lhe a mão observando seus belos olhos castanhos e mãos impecáveis. Brady não era de pegar detalhes de uma conversa e ironizar, ficava em silêncio, estudando tudo à sua volta.
Sarah chamou o sogro e disse:
— Não era para haver esse encontro, pelo menos agora. Veja! Ele ficou atordoado com ela. Não a quero junto do meu filho.
— Impossível, Sarah! Isabelle vai ficar entre nós, e como vai evitar esse contato? Ela é igual a todos que estão à nossa volta — disse o velho William.
— Sarah, não seja melodramática, temos que preparar o nosso herdeiro para o futuro — comentou John, beijando o pai.
— Não sei! Ele é meu maior tesouro, se algo acontecer…
— Eu mato o desgraçado, primeiro que você — completou o Sr. William, sério.
Brady se aproximava cada vez mais de Isabelle, procurava encontrá-la nos lugares onde ela menos esperava. Acordava cedo para treinar e nadar com ela no setor de treinamento dos seguranças. Corria todo fim de tarde ao seu lado.
— Vejo que você tem um físico perfeito. Nunca cansa?
Isabelle procurava não falar muito, porém Brady era incansável.
— Sou disciplinada e tive um treinamento. Aqui não é lugar para o senhor. É o setor de treinamento dos seguranças.
— Se Catherine casar, você tem todas as chances de ser a minha guardiã. Não que deseje que me deixe — pensou em como gostava dela. — Não me importo de estar perto de vocês.
Ela ficou em silêncio. Já conhecia os dons do sedutor.
O casal Capplly estava em reunião com os seguranças, discutia a demissão de Catherine.
— Ela decidiu, e temos que respeitar. Quer construir uma família, e viver com o marido. Já tenho uma ideia para a nova guardiã do meu filho, voltaremos a conversar. Por enquanto, continuem a rotina normal.
Catherine havia pedido demissão, iria casar-se e o marido não permitia que ela trabalhasse. A notícia havia abalado a família Capplly, que confiava no seu trabalho. Era guarda-costas do Brady desde pequeno.
— Não deixe essa notícia vazar — solicitou Sarah. — Deixe falar com Brady. Mandarei pegá-lo no colégio — Sarah estava preocupada.
Brady chegara à mansão indagando:
— Por que Catherine não foi me pegar no colégio? Aconteceu algo com ela?
— Brady, Catherine não trabalha mais para nós. Você sabe que ela vai casar e o marido a proibiu de trabalhar.
Um sentimento de ódio invadiu seu peito. Socou a mesa e foi para o quarto dizendo:
— Aquele cara de rato não pode fazer isso. Ela me conheceu primeiro, não pode ser. Ela aprendeu a falar árabe por ele, teve aulas — ele subiu as escadas, parou sentando no degrau. — Mamãe, eu gosto muito dela, e se algo acontecer com ela… se ele bater nela, eu o mato.
— Filho, ela pode nos visitar. Nada vai acontecer com ela. Brady, ela sabe se defender, é uma profissional. Ela tem o direito de viver a vida dela. Que aulas?
— Agora entendo, ela estava distante, não ficava tão perto de mim. Procurava me manter sempre ocupado para evitar perguntas.
O casal Capplly mandou um advogado representando a família e um cheque generoso como forma de agradecimento.
Jackson e Robert eram os responsáveis pelo treinamento dos seguranças da família Capplly. Eles tinham sido designados para fazer a segurança do jovem Brady, quando Isabelle estivesse ausente.
Mary preparava a mesa para servir o almoço.
— Não demore, os patrões não vão trabalhar hoje, vão almoçar com Brady.
Sarah olhava o relógio impaciente.
— Jessica, ligue para o chefe de segurança, pergunte se já estão a caminho.
Jessica era uma das secretarias da senhora Capplly, naquele dia trabalhava na mansão. Atentamente ligou, aguardando alguns segundos na linha.
— Onde vocês estão? A senhora Sarah está preocupada.
— Não sei como Brady saiu do colégio sem que ninguém o visse, deixou um bilhete dizendo que estaria bem. Um amigo me informou que ouviu falar que ia a Nova Jersey — Jackson temia sua demissão, se julgava irresponsável.
Ela desligou e disse calmamente.
— Fui informada de que o senhor Brady foi a Nova Jersey.
—Como? — preocupada com a atitude do filho, Sarah ligou para o sogro, ele sempre sabia de tudo que Brady fazia. — William! Brady foi a Nova Jersey. Você…
Ele a interrompeu:
— Sarah, não falei com o meu neto hoje. Deixe-o respirar um pouco. Ele não é mais criança. Como os seguranças não o viram sair do colégio? Não se preocupe, Isabelle está na fazenda, vai fazer companhia para ele.
Sarah manteve a calma, desligando. Pegou o telefone e ligou.
— Brady! Brady!
— Calma, mamãe, o que houve?
— Como “o que houve”? Onde você está?
— Rumo a Nova Jersey — ele procurou deixá-la calma. — Volto ainda hoje. Beijos.
— Brady! — ele havia desligado.