POV Zion Bellini

Desço as escadas sentindo o chão ranger como se gritasse que eu não deveria estar ali. Cada degrau é um soco no estômago, cada batida do meu coração é um tambor de guerra. Eu a vejo na cozinha, curvada sobre a pia, os ombros tremendo. A mãe dela. A mulher que me acolheu quando eu não tinha nada. Quando eu era só um jovem quebrado, carregando cicatrizes que nem eu sabia nomear.

Por um instante, eu paro. O peito trava. Eu penso em voltar. Fugir. Mas não. Eu piso no chão frio da cozinha. O ar pesa tanto que parece concreto. Ela me ouve. O corpo dela se enrijece. Mas ela não vira. Não me encara. Eu respiro fundo, a garganta seca, a boca amarga. Eu sei que nada do que eu disser vai apagar o que ela viu. Nada vai reorganizar o mundo dela. Mas eu preciso falar.

— Eu não vou pedir desculpa. — minha voz sai baixa, rouca, quase um sussurro. — Porque o que eu sinto por ela… não é um erro. Não é um capricho.

Ela se encolhe, os ombros sobem, como se eu tivesse acabado de cravar u